Os seis militantes de movimentos populares que estão em greve de fome em Brasília (DF) entraram, neste sábado (4), no primeiro final de semana de jejum.
Tendo iniciado o movimento na última terça -feira (31), eles protestam não só pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba (PR) há mais de cem dias, mas também tentam provocar um debate público mais intenso a respeito de outros temas, como, por exemplo, o avanço da violência no país.
A grevista Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), destaca que o problema atinge especialmente setores mais vulneráveis, como a população pobre.
A preocupação da militante está retratada, por exemplo, nas estatísticas que mensuram a violência no campo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ano de 2017 bateu recorde, com 70 assassinatos, sendo 40% deles registrados em massacres.
É o maior número desde o ano de 2003 e representa um aumento de 15% em relação a 2016. Os números são tradicionalmente associados a conflitos políticos, como a luta pela terra.
“[Isso] nos remete a momentos anteriores da nossa história, ao período da ditadura militar, então, são muito preocupantes esses números crescentes da violência, e eles hão de crescer à medida que o povo vai ficando desprovido de políticas, de direitos, de programas que o assistem”, afirma a militante.
O grevista Luiz Gonzaga Silva, conhecido como Gegê, da Central de Movimentos Populares (CMP), acrescenta a preocupação com o assassinato da população negra.
A desigualdade racial também está exposta nos números: entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios negros cresceu 23,1%, enquanto a de não negros teve uma redução de 6,8%.
Os dados são do Atlas da Violência 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O assassinato de negros tem ainda outro recorte emblemático: a cada 23 minutos, um jovem negro é morto no país. São 63 casos por dia, totalizando 23 mil ao ano, segundo dados da Campanha Vidas Negras, lançada pelas Nações Unidas em 2017.
“Todo santo dia a gente perde jovens sendo assassinados pelas polícias, pelo poder do Estado, e isso não é só nas grandes cidades. E, como eu estou falando de classe trabalhadora, estou falando da maioria absoluta do povo negro. É por isso que a nossa greve vai seguir em frente“, frisa Gegê.
Rafaela Alves destaca também a preocupação dos grevistas com o avanço do ódio; os feminicídios; os assassinatos de LGBTs, que cresceram 30% entre 2016 e 2017; entre outras formas de violência.
“Uma sociedade que dissemina o ódio, o preconceito, é uma sociedade que está muito passiva à violência em todas as formas. Enquanto a gente luta pra ter mais vida, mais dignidade, o nosso povo está sendo morto pelo sistema. É por isso que trazemos [isso] como uma das pautas do nosso manifesto”, afirma a militante.
O combate à violência é um dos pontos destacados no manifesto “Greve de fome por justiça no STF”, protocolado pelos movimentos populares no Supremo Tribunal Federal na ultima terça-feira (31), quando teve início a greve.
Além de Gegê e Rafaela, também estão em greve de fome Frei Sérgio Görgen, do MPA, Zonália Santos, Vilmar Pacífico e Jaime Amorim, militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Edição: Vivian Fernandes