Cerca de 5 mil pessoas se concentraram, na noite da última quarta-feira (8), em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), na capital paulista, para denunciar a tentativa de criminalização do abate de animais dentro de cultos religiosos.
Batizada de "Marcha a Favor da Liberdade Religiosa e Contra o Recurso 494601", a mobilização foi organizada por movimentos religiosos de matriz africana e comunidades tradicionais de terreiro.
O recurso julgado nesta quinta-feira (9) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pode proibir a prática o abate religioso nas casas de Candomblé, Umbanda e Jurema Sagrada no Rio Grande do Sul. Porém, os manifestantes entendem que o recurso pode ser replicado em outros estados e foram às ruas em repúdio ao julgamento do recurso.
Sobre a marcha, Roger Cipó, fotógrafo e ogã (cargo masculino no candomblé, aquele que toca tambor e auxilia nos rituais de abate) acredita que foi um dos atos públicos mais importantes para os povos de terreiros. Nunca diante de um ataque tão direto às nossas práticas, o povo de terreiro se mobilizou dessa forma e ocupou às ruas.
Para ele, que foi um dos organizadores, o candomblé desde sempre pensa a alimentação como um momento sagrado. Impedir esse direito seria um crime. A gente está falando de um crime contra a humanidade em relação aos povos de terreiros por ser uma tradição negra e isso caracteriza em racismo religioso.
A opinião de Cipó é dividida pela intelectual e artista Erica Malunguinho, fundadora da Aparelha Luzia. "Vendo essa perseguição que está acontecendo pela lei do abate é nítido que essa perseguição tem um fundo racial. A vida dos animais não está ameaçada por conta do candomblé."
Malunguinho cita o fato das indústrias alimentícias não serem questionadas com o mesmo rigor que as religiões de matriz africana, mesmo o abate ocorrendo em momento sagrado.
Presente a marcha, a sacerdotisa Marisa de Oyá do terreiro Ilê Asé Oyá Mesan Orun, fala sobre a comida dentro do candomblé. A nossa comida, a nossa sacralização não ofende a ninguém. É feita dentro dos nossos terreiros e comungado com o nosso povo. Parem de nos marginalizar.
Para a sacerdotisa, a tentativa de criminalizar o abate religioso serve para marginalizar ainda mais as comunidades de terreiro.
Já Pai Rodney de Oxóssi, sacerdote do Ilê Obá ketu Axé Omi Nlá entende o recurso como uma violação grave da constituição. Violar os direitos dos afro-religiosos é violar uma garantia constitucional que é o direito à liberdade de crença, expressão e de culto, não podemos permitir que todas as nossas liberdades corram risco.
Para Mãe Vera de Oxum, esse ataque é também uma questão de respeito. A gente só quer ser respeitado, só isso. A gente não quer mais nada. Respeite a minha religião, assim como respeito todas as outras religiões.
Assim como em São Paulo, houve marchas em Salvador, Londrina, Rio de Janeiro e outras capitais.
Edição: Tayguara Ribeiro