Impedido pela Justiça de participar do debate da TV Bandeirantes, realizado na noite de ontem (9), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva motivou um encontro paralelo. A emissora não permitiu que Lula fosse representado pelo seu então vice, Fernando Haddad. “Lula está disponível para qualquer debate. Para qualquer entrevista, qualquer público ou fórum. Lula sofre uma injustiça e juristas do mundo todo sabem disso”, definiu Haddad, que é coordenador de campanha do ex-presidente. O encontro alcançou grande público nas redes sociais, ultrapassando os 50 mil espectadores em diversos momentos.
Também participou do debate a presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Ela criticou a decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) de impedir Lula de realizar campanha, mesmo a lei garantindo tal prerrogativa enquanto réu não condenado com trânsito em julgado. “A sentença da juíza de Curitiba é uma pérola. Ela reclama do tanto que o PT insiste para que Lula participe dos debates sabendo que ele não pode. Ela diz que isso acarreta gastos para o Judiciário. Ela diz que os recursos são escassos. Ela deveria explicar então porque o Judiciário vai se dar 16% de aumento.”
Ao lado de Gleisi estava Manuela D’Ávila, do PCdoB, que deixou sua candidatura de lado para compor chapa com Lula e Haddad. Manuela será candidata a vice da chapa, seja com Lula ou Haddad encabeçando a coalizão. “A situação indigna a todos que apostam nas eleições. Acreditamos que a crise é severa e as eleições são o momento para debater. Como sair da crise com o primeiro colocado impedido de debater? Eles conversam só entre eles, fazendo de conta que brigam, mas expressam um só programa. Um Brasil sem protagonismo, um país pequeno, que não propõe saídas para si e para o mundo”, ressaltou.
Por fim, completou a composição do debate o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli. “Estamos aqui tentando inaugurar uma nova rede pública. Criando mecanismos para que o povo saiba que existe um outro caminho”, disse. “O governo do PT mostrou que é possível um caminho com aumento da renda, aumento do consumo, crescimento do país com mais trabalho formal e qualidade de vida para os trabalhadores.
Durante a conversa, que durou pouco mais de duas horas, os debatedores alternavam falas com vídeos antigos de Lula falando sobre temas relevantes para a sociedade brasileira. “Ver como deixei o Brasil em 2010 e ver o país hoje me dá tristeza. Quando vejo gente dormindo nas ruas de São Paulo, quando vejo criança voltando a pedir esmola no semáforo, para mim é algo muito triste. Tínhamos acabado com isso no Brasil. As pessoas estavam conquistando decência, cidadania, prazer pela vida”, disse o ex-presidente em um vídeo.
Haddad, questionado sobre a viabilidade de retomar tal projeto de desenvolvimento, disse que “o projeto deles (neoliberais) não se sustenta. Com esses dois anos, não provaram o contrário, mesmo mediante um ato de força, que foi o de tirar a presidente eleita Dilma. Usurparam o poder e erraram duas vezes. Violaram regras democráticas e implementaram um projeto antinacional. Ninguém pode imaginar que esse projeto esteja de acordo com os interesses da nação e dos eleitores, dos cidadãos. Está na posição contrariados anseios da população”.
Gleisi reforçou a ideia de que, quem trabalha para impedir Lula de ser um candidato viável é quem tirou Dilma do poder. "Infelizmente é o sistema financeiro, que não vê na produção fator de crescimento. O sistema financeiro domina o mundo, há uma concentração enorme de dinheiros. É a elite brasileira que tem projeto de Estado mínimo, tem projeto de desemprego para baratear a mão de obra. Querem explorar mais. Uma elite que quer privatizar o ensino superior. É o sistema de comunicação, como a Rede Globo, que deu base popular para o golpe. Esse pessoal não se mistura com nosso projeto."
Por fim, Haddad completou o pensamento de Gleisi, ao afirmar que a elite brasileira "sabotou o país". "Eles visavam tomar o poder para botar freio em um projeto de emancipação dos brasileiros. As pessoas estavam se superando com Lula. Não estava tudo resolvido, mas estava encaminhado. As pessoas enxergavam um futuro. Percebiam que a vida estaria diferente em um ano, e para melhor. Hoje, as pessoas temem o pior. O projeto em curso é antinacional. Contra o Brasil e contra os mais pobres."
Edição: RBA