As integrantes do coletivo Mulheres da Mátria Latino-americana (MuMaLa) criarão um registro nacional de mortes por aborto clandestino na Argentina, após o Senado do país decidir manter esta prática como ilegal e da morte de 3 mulheres por aborto clandestino registradas nos últimos quinze dias.
No domingo (05), três dias após o Senado rechaçar a aprovação da Lei de Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE na sigla em espanhol), veio a público o caso de Liliana Herrera, uma jovem de 22 anos, mãe de dois filhos, que faleceu no Hospital Regional de Santiago del Estero, localizado na província de mesmo nome na região norte do país. Dez dias depois, foi notificada a morte de uma mulher de 34 anos (cujo nome foi preservado), após ingressar na emergência do Hospital Belgrano, na cidade de San Martín, na região da Grande Buenos Aires, e passar por uma histerectomia [cirurgia para remoção do útero] após ter introduzido um ramo de salsa na região genital para tentar abortar. Na última quinta-feira (16), outro caso veio à tona, também na região norte do país, dessa vez no município de Pilar, onde uma mulher faleceu após dar entrada na emergência do Hospital Sanguinetti por dores causadas por um aborto incompleto.
A partir destes casos, as integrantes do MuMaLa anunciaram que pretendem “visibilizar e seguir exigindo a aprovação de uma lei de legalização da interrupção da gravidez que dê resposta às milhares de mulheres que recorrem a esta prática no nosso país todos os anos”. E os resultados serão comparados com os dados oficiais do Ministério da Saúde, que recentemente divulgou a informação de que ocorrem mais de 350 mil abortos clandestinos por ano no país.
O registro será realizado a partir dos casos de 2018. Como afirmou Raquel Vivanco, uma das coordenadoras do movimento, o registro acontecerá a partir do ano no qual “poderíamos contar com uma lei de aborto legal”. Os dados utilizados para o levantamento serão obtidos e apresentados a partir dos meios de comunicação impressos e digitais de todo o país, considerando que o tema passou a aparecer mais na mídia do país no último ano.
“Vamos apelar para as mesmas fontes que usamos para registrar os feminicídios, que são os meios de comunicação impressos e digitais, a análise dessas informações, para criar um registro que dê conta da vida destas mulheres que tiveram uma morte totalmente evitável, que podemos chamar de feminicídio de Estado”, explica Vivanco.
Seguindo este racíocinio, a militante responsabilizou os senadores e senadoras que votaram contra ou se abstiveram na votação do dia 8 de agosto pela morte destas mulheres: “40 senadores e senadoras deram as costas à reivindicação massiva das mulheres e do conjunto da sociedade no nosso país. Nós os responsabilizamos pela morte de cada mulher daqui em diante”.
Ainda que as condições de clandestinidade nas quais acontecem o aborto não permitem uma contagem exata das mortes, o Observatório desenvolvido pelo coletivo pretende visibilizar os casos a partir de números que sejam claros para a sociedade, e que estejam alinhados às mobilizações massivas que acontecem nas ruas a favor do aborto legal, seguro e gratuito.
“Não conseguiremos dar conta da realidade total, mas será um sub-registro como tudo aquilo relacionado a esta temática. Nós daremos visibilidade e exigiremos a lei como uma reivindicação política da sociedade civil para um Estado que nega às mulheres o direito de acessar estas práticas, colocando em risco sua saúde e vida”, acrescentou a coordenadora do MuMaLa.
Desde 2015, o coletivo também realiza o levantamento nacional de vítimas de feminicídios a partir dos casos divulgados nos meios de comunicação.
Edição: Notas Periodismo Popular | Tradução: Luiza Mançano