Chegou ao fim, na manhã deste sábado (25), a greve de fome realizada por sete militantes de movimentos populares em Brasília (DF), que teve início em 31 de julho. O anúncio foi feito durante um ato de solidariedade promovido por parceiros e pelas organizações envolvidas no protesto.
Reunidos no Centro Cultural de Brasília (CCB), onde estão alojados desde o início do protesto, os grevistas apresentaram um manifesto que oficializa o fim do movimento. No documento, eles afirmam que a greve cumpriu o objetivo e contribuiu com a luta pelo enfrentamento ao golpe de 2016 e seus desdobramentos.
“Nos sentimos vitoriosos, pois assim se sentem os povos que lutam, e tivemos acúmulos importantes para o conjunto da luta popular”, diz o manifesto.
Os grevistas ressaltaram que o protesto também se coloca nas trincheiras da luta pela soberania popular, pelo controle dos bens nacionais, como o petróleo, e pelo direito do povo de decidir os rumos do país.
Nesse sentido, reforçaram o discurso pela libertação do ex-presidente Lula (PT), que está preso em Curitiba (PR) desde 7 de abril, e apontaram a existência de uma “ditadura do Judiciário” ao mencionarem o Supremo Tribunal Federal (STF).
A Corte vem sendo fortemente pressionada a votar as ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) que questionam a legalidade da prisão após condenação em segunda instância. Além do ex-presidente, outras cerca de 150 mil pessoas estão presas sem que tenham sido julgadas pela terceira instância da Justiça.
O não cumprimento, por parte do Brasil, da resolução do Comitê de Direitos Humanos da ONU sobre a situação de Lula também é mencionado no manifesto em forma de denúncia.
“Lula é inocente e sua prisão tem caráter político”, destacam os grevistas, no documento.
Resistência
No manifesto, os sete grevistas sublinharam que o protesto foi realizado de forma consciente e que consiste num ato extremo inspirado na “revolucionária resistência ativa”.
Para o Frei Sérgio Görgen, que tem vasta experiência nesse tipo de manifestação, já tendo feito outras quatro greves de fome, a lição deixada durante os 26 dias de jejum e luta se projeta no futuro.“A luta continua. A greve de fome é um instrumento tático e é principalmente uma demonstração do caráter, da resistência do povo brasileiro. É uma demonstração daquela percepção que Euclides da Cunha teve no final da Guerra de Canudos: o sertanejo é, antes de tudo, um forte. As brasileiras e os brasileiros são, antes de tudo, fortes".
Solidariedade
João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), avalia que o protesto teve diferentes aspectos positivos.
Ele considera que a greve contribuiu fundamentalmente na luta política do atual período, reforçando nos cenários nacional e internacional o debate sobre a liberdade de Lula e a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema. “Ela conseguiu desnudar a verdadeira natureza do Poder Judiciário brasileiro e representou um catalisador de energias que estimulou a militância a vir a Brasília no dia 15 de agosto”, disse.
A data é uma menção ao encerramento da Marcha Nacional Lula Livre, quando cerca de 50 mil manifestantes foram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, para registrar a candidatura de Lula à Presidência da República.
Stédile também destacou a importância das diferentes manifestações de apoio recebidas pelos grevistas ao longo dos 26 dias. Ele afirmou que a solidariedade é um princípio político e civilizatório de caráter fundamental.“Você não consegue construir uma sociedade igualitária e justa se ela não tiver fundada no princípio da solidariedade e da justiça – e solidariedade no sentido de que nós todos somos iguais e só vamos resolver os nossos problemas se nos ajudarmos”, finalizou.
Ao longo da greve, os militantes receberam apoio de organizações, movimentos, grupos e instituições em geral, além de manifestações individuais por parte de juristas, artistas, atores políticos e outros.
Ao todo, foram mais de 500 cartas de apoio ao movimento de greve.
Edição: Anelize Moreira