Milhares de mulheres, com as mais variadas histórias de vida, se reunirão no dia 4 de setembro em Délhi, na Índia, para protestar contra o aumento dos incidentes de violência de gênero, o alto índice de desemprego e a negligência diante da desnutrição e da fome que atingem grandes setores da população, principalmente mulheres e crianças. O protesto está sendo organizado pela maior organização de mulheres do país, a All India Democratic Women’s Association (AIDWA).
A manifestação contará com a participação de trabalhadoras de vários setores, como agricultura, indústria e educação, além de estudantes e mulheres responsáveis pela família e que podem ou não estar formalmente empregadas.
“Há uma série de questões que as mulheres querem discutir. Entre as mais relevantes estão o aumento da violência contra a mulher, incluindo novos ataques como linchamentos, a situação dramática da falta de empregos e a ausência de políticas para aplacar a desnutrição e a fome, cujas consequências são sofridas pelas mulheres e crianças do país. Além disso, a crescente onda de conflitos entre comunidades e castas também está em foco”, explicou Mariam Dhawale, secretária geral da AIDWA.
A maioria das mulheres que participarão da manifestação também vai se unir a um ato de camponeses e trabalhadores no dia seguinte, 5 de setembro, organizado pela central sindical CITU, o braço camponês do Partido Comunista da Índia, o AIKS, e o sindicato de trabalhadores rurais AIAWU, segundo Dhawale.
Onda de violência
As várias formas de violência contra a mulher tomaram proporções assustadoras nos últimos anos na Índia. Segundo números disponíveis até 2016, divulgados pela NCRB, agência oficial indiana que coleta e processa dados sobre criminalidade, cerca de 668 mil casos de violência contra mulheres foram registrados pela polícia em todo o país entre 2015 e 2016. As ocorrências incluem casos de abuso sexual e estupro coletivo, sequestros, agressões, violência doméstica, mortes ligadas a assédio e pressão por dote, entre outros crimes.
As cifras assustam – são cerca de 915 casos por dia, ou quase 40 ocorrências por hora. A escala, no entanto, deve ser muito maior, considerando-se que muitas mulheres não denunciam a violência sofrida junto à polícia por pressão social, enquanto um grande número agentes policiais não registra os casos.
Apesar de o primeiro-ministro, Narendra Modi, reafirmar constantemente que a segurança dessa parcela da população é uma prioridade do governo, comandado pelo Partido do Povo Indiano (BJP), de direita, houve um aumento significativo na violência contra a mulher no país nos últimos anos.
O índice de condenação em casos de violência contra a mulher continua baixo – apenas 19% para crimes em geral e 25% em situações de estupro. Em 2016, 7.455 jovens recém-casadas foram mortas por não oferecerem um dote de valor suficiente à família do noivo. No mesmo ano, quase 17 mil meninas com menos de 16 anos foram estupradas. A violência contra crianças chegou a um recorde histórico de mais de 200 mil casos em julgamento.
Desemprego
Segundo a pesquisa mais recente da Agência de Trabalho e Emprego da Índia, o índice de participação das mulheres no mercado de trabalho – parcela de trabalhadoras com relação à população adulta total – está em 25,8%, enquanto a taxa de homens chega a mais de 73%.
Diversos estudos já demonstraram que esse cenário não é resultado de mulheres que não querem trabalhar, mas da falta de empregos e dos obstáculos enfrentados em razão de uma mentalidade que defende que as mulheres devem ficar em casa cuidando das tarefas domésticas, das crianças e dos idosos.
Edição: NewsClick | Versão em português: Aline Scátola