O diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, afirmou à Agência Brasil que o incêndio causa um “dano irreparável” ao acervo e às pesquisa nacionais. Inconformado com o incêndio, ele lamentou que os investimentos sejam destinados a outras causas no país. “Gastam milhões em outros projetos”, reagiu. O incêndio começou ontem (2) por volta das 19h30.
O Museu Nacional do Rio reunia um acervo de mais de 20 milhões de itens de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleção de múmias egípcias das Américas, havia ainda esqueletos de dinossauros e várias peças de arte. Nara disse que “pouco restará”, após o controle das chamas e que será necessário “esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo”.
Homens e viaturas de 21 quartéis trabalharam na operação. Segundo o comandante, às 23h30 eram 80 homens e três escadas magirus na área. As dificuldades eram o abastecimento de água, acesso ao local e a elevada quantidade de material inflamável. “Estamos trabalhando para evitar mais perdas, para que o fogo não vá para áreas que ainda estão intacta”, disse o comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Roberto Robadey Costa Júnior.
De acordo com João Carlos Nara, a equipe de administração do Museu Nacional aguardava o fim do período eleitoral para iniciar as obras de preservação da infraestrutura do prédio. “É tudo muito antigo. O sistema de água e o material, tudo tem muitos anos. Havia uma trinca nas laterais. Isso é ameaça constante”, disse o diretor.
O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, declarou à ABr que, por ser um prédio centenário, a sede do museu não atendia totalmente às exigências contra incêndio. Segundo Leher, o museu sofreu com cortes no orçamento porque a UFRJ está sob restrição orçamentária, assim como outras universidades públicas brasileiras. “Num contexto como esse, todas as unidades [da universidade] são afetadas”.
Levantamento da Folha de S. Paulo mostra a queda vertiginosa de investimentos no Museu. Em 2013, foram aplicados R$ 513 mil na instituição. Em 2016, o valor chegou a R$ 415 mil e, no ano passado, R$ 346 mil.
“Para o país, é uma perda imensa. Aqui temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição da história moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Este incêndio sangra o coração do país. A única forma que temos neste momento de trabalhar essa brutal perda é reconstruir. Creio que o Brasil tem que forjar um compromisso com a sociedade política, o governo federal, que tem meios para isso, para que haja orçamento, para que a universidade possa de fato reconstruir essa edificação e recuperar, dentro do que for possível, seu extraordinário acervo”, disse.
Recentemente, a universidade fechou com o BNDES um acordo para viabilizar mudanças estruturais no prédio histórico e a mudança de laboratórios e do setor administrativo para prédios anexos, a fim de minimizar o uso de energia elétrica no prédio, deixando-o apenas destinado a exposições. “A primeira parcela seria de R$ 21 milhões. Grande parte desses recursos estava destinada justamente para um sistema de prevenção de incêndio”, disse.
O Museu
O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, como é conhecido, fica instalado no bairro imperial de São Cristovão e é a mais antiga instituição histórica do país. O local foi fundado por dom João VI, em 1818. A instituição é vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com perfil acadêmico e científico. Tem nota elevada nos institutos por reunir pesquisas diferenciadas, como esqueletos de animais pré-históricos e livros raros.
Formado ao longo de mais de dois séculos por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações, o acervo é subdividido em diversas coleções. É a principal base para as desenvolvidas m todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras.
Conheça alguns itens:
- Um dos mais importantes itens era um fóssil humano, achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Batizado de Luzia, fazia parte da coleção de antropologia. Trata-se do fóssil de uma mulher que morreu entre 20 e 25 anos e seria a habitante mais atinga das Américas.
- Outra preciosidade era o maior meteorito já encontrado no Brasil, chamado de Bendegó e pesa 5,36 toneladas. A pedra é de uma região do sistema solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem mais de 4 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, no sertão da Bahia, na localidade de Monte Santo. Quando foi encontrado era o segundo maior do mundo. A pedra integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.
- Dom Pedro arrematou em 1826 a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria das peças veio da região de Tebas.
(*) Com informações da Agência Brasil.
Edição: Beatriz Pasqualino