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Resenha política analisa notícias da semana; leia aqui o boletim "Ponto"

Conteúdo é enviado todas as sextas-feiras, por email, e traz um resumo das principais notícias da semana

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Boletim semanal Ponto é elaborado em parceria com o Brasil de Fato
Boletim semanal Ponto é elaborado em parceria com o Brasil de Fato - Divulgação

Confira edição desta sexta-feira (7) do boletim semanal Ponto, projeto em parceria com o Brasil de Fato. A newsletter trazer um resumo das principais notícias da semana, que muitas vezes se perdem em meio ao caos de informações, além de análises, indicações de leituras e outros conteúdos que, na correria do dia a dia, não é possível acompanhar.

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07 de setembro de 2018

Olá,

Não verás eleição como esta. O líder das pesquisas de opinião está preso, o segundo colocado sofre agressão em campanha e o atual presidente decide sair da condição de coadjuvante obscuro para atacar aliados e adversários. Tudo isso numa semana em que a pesquisa Ibope causou boatos e o Museu Nacional pegou fogo. Vamos lá, tentar entender esta semana.

Ataque a Bolsonaro. Vamos nos concentrar nos fatos: Bolsonaro sofreu um ataque com uma faca durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG) nesta quinta (6). Um homem foi preso: Adelio Bispo de Oliveira, uma pessoa extremamente confusa que disse à polícia agir em nome de Deus. A revista Piauí fez um relato detalhado sobre o que ocorreu no hospital. Todos os candidatos se solidarizaram com Bolsonaro e condenaram a violência. Na manhã desta sexta, o candidato foi transferido para São Paulo.

Numa eleição que já era marcada pela excepcionalidade, o que pode acontecer a partir de agora? Para o filósofo Vladimir Safatle, Bolsonaro já havia atingido o seu teto de votos e o atentado é o fato novo que pode agregar apoiadores em outros setores. Para Safatle, a narrativa de culpar a esquerda já está criada - como aliás já fez o General Mourão. "É o esperado. A esta altura, o Bolsonaro é o único candidato viável para a direita. E vão tentar de tudo para que ele vença. A despolitização completa da campanha é a última cartada", afirma. Já analistas ouvidos pela Infomoney acreditam que Alckmin é quem deve perder votos, com a cristalização do eleitorado de centro-direita no candidato do PSL. O colunista Josias de Souza faz avaliação semelhante: "generalizou-se a avaliação de que a dramaticidade do ataque deve potencializar o desempenho de Bolsonaro (...) disseminou-se também, embora com menor grau de certeza, o temor de que a atmosfera emocional reduza a rejeição". O "mercado" gostou do episódio.

O atentado a Bolsonaro, como lembra a BBC, é o novo episódio de um cenário político em que a violência deixou a retórica e foi para às ruas: cinco meses depois de um ônibus da caravana de Lula ter sido atingido por tiros no interior do Paraná, ninguém foi indiciado e as investigações não foram concluídas. Nesta sexta (7), completam-se 177 dias sem respostas sobre a morte de Marielle Franco. Como analisa a psicanalista Maria Rita Kehl, quando as instituições democráticas perdem a credibilidade por adotarem o vale tudo - como no impeachment ou na prisão de Lula - a psiopatização da sociedade é estimulada.

A Hora H. Na próxima quarta-feira (12), vence o prazo determinado pelo TSE para que o PT troque a chapa na corrida presidencial. Nesta semana, o partido manteve a estratégia de ir com Lula até o fim e recorreu ao STF, apostando na contradição do voto de Edson Fachin no TSE em que reconheceu a validade da determinação da ONU para que Lula concorra. Porém, os recursos foram negados. O Brasil de Fato analisou os "trâmites exóticos" que os recursos do ex-presidente sofrem no tribunal. Dois cientistas políticos ouvidos pelo Nexoconcordaram que a estratégia petista de esticar a corda faz sentido. Para Bruno Boghossian, na Folha, o PT mira nos votos de baixa renda, mais fiéis à Lula, mas arrisca de perder os votos da classe média que poderiam migrar para Ciro. Esta também é a leitura de José Roberto Toledo, na Piauí: ele diz que "há sinais de que a manobra já deu o que tinha que dar" e que na ausência do ex-presidente nas pesquisas, quem se beneficia é Ciro Gomes. O ex-ministro Ricardo Berzoini resumiu bem o dilema: o PT está com um olho na urna e outro na história. Segundo a  Folha, Lula já teria concordado com a decisão de oficializar a candidatura de Haddad no próximo dia 11. A informação foi desmentida por Gleisi Hoffmann em seu Twitter.

Depenado. A pesquisa Ibope também demonstrou que Alckmin subiu pouco, de 7% para 9%, fracassando em sua tática de ocupar a candidatura antipetista que segue com Bolsonaro. Como se a vida já não fosse suficientemente dura para o tucano, nesta semana, Michel Temer resolveu deixar o posto de insignificância nas eleições para tirar satisfações com Alckmin, usando sua conta no Twitter para lembrar que os partidos aliados com Alckmin fazem parte da base governista e de que o PSDB "ajudou o governo". (Temer também fez um vídeo criticando Haddad). Com o ataque sofrido por Bolsonaro, a campanha de Alckmin estaria discutindo se mantém o tom agressivo contra o principal adversário.

Em tempo: o DataFolha fará uma pesquisa na segunda-feira (10), que será divulgada à noite. O Ibope tem uma pesquisa iniciada nesta quinta (6), que será divulgada na quarta (12).

Narrativas do fogo. Não bastasse tudo que aconteceu depois, a semana começou com um trágico incêndio no Museu Nacional. Muito já se falou sobre o tamanho da perda e a redução dos repasses para manutenção. Interessante agora é observar como a narrativa da extrema-direita "colou" e foi incorporada pela grande imprensa. Ainda no domingo, dirigentes do Museu vieram a público criticar a drástica redução orçamentária, que vem caindo ano a ano e será ainda pior com a emenda que reduziu o teto de gastos públicos. Chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha disse em coletiva que o orçamento da UFRJ aumentou nos últimos anos e foi culpa da universidade não ter destinado recursos ao Museu, mas "esqueceu" de dizer que boa parte dos recursos mencionados são para folha de pagamento, incluindo servidores inativos, recursos estes que nem passam pela universidade. "Essa folha, que ultrapassa R$ 1 bilhão, é gerida diretamente pelo Tesouro Nacional e não há sentido em incluí-la nas avaliações sobre gestão anual do dia a dia da UFRJ", respondeu a UFRJ em nota. Nota-se um esforço conjunto, dos ativistas de redes sociais até o governo, com chancela de parte da imprensa, de vincular o incêndio a uma suposta má administração e lembrar, como fez a Folha de São Paulo, que os dirigentes da universidade são ligados ao PSOL. Diz a antropóloga Daniela Alarcon, pesquisadora do Museu Nacional: "Estamos falando de um jornalismo irresponsável que está circulando boatos, mentiras, como parte de uma agenda de ataque à universidade e instituições públicas no país". O jornalista Mário Magalhães fez um bom apanhado sobre a tragédia.

Em tempo: apenas os programas de governo de Lula e Marina falam sobre políticas relacionadas a museus.

 

RADAR

Denúncias. O Ministério Público de São Paulo quer ser protagonista na eleição. Na terça (4), denunciou Haddad pela segunda vez em oito dias. A denúncia é baseada em delação de Ricardo Pessoa, da UTC. "É notório que o empresário já teve sua delação rejeitada em quase uma dezena de casos e que ele conta suas histórias de acordo com seus interesses. Também é de conhecimento público que, na condição de prefeito, Fernando Haddad, contrariou no segundo mês de seu mandato o principal interesse da UTC de Ricardo Pessoa na cidade: a obra confessadamente superfaturada do túnel da avenida Roberto Marinho", respondeu a assessoria de Haddad. O MP-SP denunciou Alckmin também nesta semana, numa ação de improbidade administrativa. Aliás, em entrevista na GloboNews na noite de quinta (6), Haddad criticou as ações, inclusive contra Alckmin.

Por outro lado? Gilmar Mendes mandou soltar Laurence Casagrande, ex-presidente da Dersa, que teve prisão decretada em junho pela Justiça Federal de São Paulo na operação da Polícia Federal que apura desvios nas obras do Rodoanel. Casagrande foi o personagem de um rumor, surgido em agosto, de que faria uma delação contra Alckmin.

Antes do ataque. Algumas notícias envolvendo a campanha de Bolsonaro antes do ocorrido em Juiz de Fora, que não devem ser perdidas de vista. Raquel Dodge não viu crime de injúria nas declarações de Bolsonaro, que falou "vamos fuzilar a petralhada" em um ato no Acre. Na terça (4), Bolsonaro se reuniu com João Roberto Marinho, na Globo, em encontro intermediado pelo economista Paulo Guedes. Aliás, banqueiros estariam aceitandoBolsonaro, dada a inviabilidade eleitoral de Alckmin.

 

RETROCESSO DIÁRIO

Veneno. Na segunda (3), o TRF-1 derrubou liminar do início do mês passado, da Justiça Federal de Brasília, que havia suspendido o uso de produtos à base de glifosato e de outros agrotóxicos, até a conclusão da análise de toxicidade pela Anvisa. Com a decisão, os agrotóxicos voltam a ter o uso liberado nas plantações brasileiras. No Brasil de Fato.

PIB. O anúncio do crescimento de míseros 0,2% no PIB é sinal de que dias piores ainda virão na economia brasileira. Segundo a BBC Brasil, setores como a construção civil ainda não reagiram, o nível de investimentos retrocedeu ao patamar de noves anos atrás e a retomada será lenta. Dependente da exportação de matéria-prima e no meio do fogo cruzado da guerra tarifária entre EUA e China, a economia brasileira só deve piorar, alerta a Carta Capital.

Terceirizações. Após a aprovação do STF da terceirização irrestrita de trabalhadores para atividades-fim nas empresas, especialistas afirmam que a medida deverá levar a contratações sem concurso público, especialmente de profissionais de educação, saúde e cultura. O alerta é da Rede Brasil Atual.

 

VOCÊ VIU?

Gasolina. Reportagem do site The Intercept revelou que o senador Magno Malta (PR-ES), que quase foi vice de Bolsonaro, gastou R$ 472 mil de sua verba de gabinete em apenas dois postos de combustíveis entre abril de 2009 e julho deste ano. Os dois postos pertencem a José Tasso Oliveira de Andrade, ex-deputado estadual e ex-chefe da Casa Civil do Espírito Santo (1999-2001), condenado em 2013 por roubo de dinheiro público, segundo a reportagem.

Olha o golpe. William Waack, aquele, escreveu uma coluna no Estadão dizendo que militares de alta patente estariam alertando o Judiciário de que revogação da Lei de Anistia ou liberdade a Lula provocaria um golpe de Estado. Aqui, um resumo da coluna.

Lava Jato. A força-tarefa Lava Jato do MPF/PR denunciou 11 pessoas pelos crimes de corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. Contudo, o ex-governador e candidato ao senado, Beto Richa (PSDB), não aparece na lista dos denunciados. No Brasil de Fato.

Estatais. Neste cenário de crise, sabe quem vai ajudar o governo a garantir as contas públicas? As empresas estatais. As principais estatais do país registraram resultado líquido somado de R$ 37,3 bilhões - avanço de 136% na comparação com o ano passado. Matéria do Valor.

 

É BOATO

Fies. Postagens nas redes sociais e em páginas de fake news afirmam que Fernando Haddad teria sido indiciado por um rombo de 20 bilhões no FIES. O Poder 360 demonstra que o ex-ministro e outros oito citados foram inocentados pelo TCU e o processo arquivado.

Bolsonaro. Não é verdade que Bolsonaro entrou andando no hospital após ser esfaqueado, como sugerem imagens e vídeos que circulam nas redes sociais.

Esfaqueador. Há uma foto falsa circulando nas redes sociais para mostrar o esfaqueador em um ato com Lula. Mesmo claramente manipulada, tem até senador compartilhando.

Museu Nacional. Banco Mundial diz que nunca exigiu gestão privada do Museu Nacional em troca de empréstimo. O caso foi explicado também pela reitoria da UFRJ.

 

BOA LEITURA

Grileiro. O empresário que é filantropo em São Paulo e grileiro de terras no nordeste. Grande apuração de Daniel Camargos para o El País.

Lama. A fundação "autônoma e independente", ligada às mineradoras, e que atua na região atingida pelo desastre da Samarco/Vale. Apuração preciosa da Agência Pública.

Cristãos. Os candidatos evangélicos progressistas que defendem o aborto e combatem o racismo, aqui na Piauí

Anticristão. O pastor e cantor gospel que prega o ódio e o apoio a Bolsonaro: The Interceptcontou quem é André Valadão.

Suicídio. Três em cada sete policiais sofre de depressão e 43,8% já tentaram o suicídio. Investigação da Vice.

Campeão do mundo. 43,2 mil pessoas foram mortas por armas de fogo no Brasil. Na Galileu.

Grande e pesado? Emilio Chernavsky derruba a tese de que o Estado brasileiro gasta demais. Na Carta Capital.

Ostentação. Símbolo da defesa do auxílio-moradia, o casal de juízes que possui R$ 6,4 milhões em imóveis. Conheça a mansão dos Bretas na The Intercept.

STF. "Mortos-vivos, perdem a sensibilidade humana, o respeito por aquilo que eles assumem que é preservar a Constituição", Frei Sérgio Gorgen fala sobre o Judiciário e a greve de fome de 26 dias no Sul 21.

PSDB-SP. Por que os paulistas votam sempre no mesmo grupo político há trinta anos? Nexotenta responder.

Museu Nacional. "Gostaria que aquilo permanecesse em cinzas, em ruínas, apenas com a fachada de pé, para que todos vissem e se lembrassem. Um memorial", diz o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em entrevista.

Imigrantes. Um dia em um campo de concentração de famílias imigrantes nos EUA. Reportagem do La Jornada traduzida pela Carta Maior.

Pouca curtida. A Piauí mostra que os posts patrocinados surtem poucos efeitos concretos para candidatos, como também demonstra a Diálogos do Sul com uma análise detalhada dos posts, curtidas e compartilhamentos.

Mulheres. Mulheres foram protagonistas da resistência armada à ditadura, explica historiadora. Entrevista no Brasil de Fato.

Obrigado por nos acompanhar até aqui. Voltamos na próxima semana! Não esqueça de recomendar aos amigos: http://bit.ly/AssinePonto

Edição: Beatriz Pasqualino