Depois de substituir oficialmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cabeça da chapa presidencial do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad participou de seu primeiro debate presidencial na TV aberta, durante o encontro promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), TV Aparecida e mídias católicas, na noite desta quinta-feira (20), em São Paulo.
Além de Haddad, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos) e Marina Silva (Rede) participaram do debate. O candidato Jair Bolsonaro (PSL), não participou da atividade pois segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Cabo Darciolo (Patriota), também foi convidado, mas justificou a ausência alegando “incompatibilidade de agenda”. O debate teve duração de três horas e foi mediado pela jornalista Joyce Ribeiro.
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O debate foi divido em cinco blocos. No primeiro, os candidatos responderam a uma pergunta feita por Don Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, que focou no tema da corrupção.
Guilherme Boulos começou a responder citando o papa Francisco sobre os direitos fundamentais das pessoas, Terra, Teto e Trabalho, e defendeu uma reforma política que acabe com a “promiscuidade” entre o público e o privado. Na mesma linha, Haddad defendeu o fortalecimento das instituições e leis que combatem a corrupção. Álvaro Dias dedicou sua fala a criticar os governos do PT e defender a Operação Lava Jato.
Ciro Gomes defendeu um novo modelo de governabilidade em que o povo seja chamado a decidir sobre temas sensíveis, “através de plebiscitos e referendos”. Henrique Meirelles usou o tempo de resposta para propagandear suas gestões a frente de empresas, bancos e instituições públicas como “exemplo” de ética. Marina Silva defendeu a autonomia das instituições de combate à corrupção e a aplicação de medidas que promovam a transparência da gestão pública.
Por último, Geraldo Alckmin defendeu a reforma política como uma ferramenta de combate à corrupção, a tipificação do crime de enriquecimento ilícito e a aplicação de um “modelo americano” de inversão do ônus da prova para agentes políticos no que se refere à comprovação da origem do patrimônio.
Assista ao primeiro bloco do debate presidencial:
Embates
No segundo bloco, os candidatos fizeram perguntas entre si. Primeiro a ser questionado, o candidato do PSOL defendeu um novo modelo de governabilidade que amplie a participação da sociedade na tomada de decisões e uma maior transparência na gestão pública. “O sistema político está podre. É preciso trazer o povo para tomar as decisões. A participação popular é fundamental para reformar o sistema político”.
Marina Silva e Ciro Gomes fizeram uma dobradinha de perguntas e respostas sobre o tema da saúde. A candidata da Rede defendeu a quebra da patente para medicamentos para o tratamento da hepatite C e um tratamento mais humanizado no Sistema Único de Saúde (SUS). Já Ciro Gomes defendeu a criação de um fundo especial para premiar com até R$ 100 mil unidades de saúde que consigam atingir metas de desempenho definidas pelo governo.
Fernando Haddad se dirigiu a Geraldo Alckmin para saber sobre suas posições em relação à reforma trabalhista e à Emenda Constitucional 95, do teto dos gastos públicos, medidas apoiadas pelo PSDB durante o governo de Michel Temer (MDB). O tucano defendeu a reforma que, segundo ele, modernizou as relações de trabalho no país. E acusou o PT de haver gerado a crise econômica e os altos níveis de desemprego a que o país chegou.
Outro embate foi entre Henrique Meirelles e Fernando Haddad. O candidato do MDB perguntou ao petista como faria para recuperar a confiança no país, como a que, supostamente, ele próprio teria construído durante os governos Lula e Michel Temer. “O senhor deve ter recuperado a confiança dos banqueiros, mas não do povo brasileiro”, devolveu Haddad. Na réplica, Meirelles afirmou que “não houve tempo para resolver todos os problemas criados pelo governo do PT”.
Assista ao segundo bloco do debate presidencial:
Perguntas dos jornalistas
No terceiro bloco, os candidatos responderam a perguntas feitas por jornalistas de emissoras de televisão católicas sobre temas previamente definidos. Fernando Haddad foi o primeiro a responder sobre o tema da migração. “A tradição brasileira é de acolhimento. Eu mesmo sou filho de imigrante libanês que encontrou no Brasil um lugar para viver e criar seus filhos”.
Segundo Haddad, São Paulo se tornou referência durante sua gestão a frente da prefeitura, em relação a políticas de acolhimento de migrantes, e destacou o papel do Brasil no combate à intolerância. “Nós entendemos que o Brasil tem um importante papel nesse tema, inclusive para combater a intolerância. O Brasil tem que plantar paz para colher paz”.
Perguntado sobre o desemprego, Henrique Meirelles acusou o governo Dilma de ser o responsável pelo crescimento da dívida pública que, segundo ele, foi o responsável pelos mais de 14 milhões de desempregados que existem hoje. “O país começou um processo de recuperação, mas é necessário muito mais. Sou o candidato a presidente da República porque quero nos próximos quatro anos criar dez milhões de empregos no Brasil”, prometeu.
Álvaro Dias falou sobre segurança e prometeu rigor no controle das fronteiras para evitar a entrada de drogas e armas no país.
Ciro Gomes falou sobre urbanização, corroborou o dado ofertado pelo candidato do PSOL, Guilherme Boulos, sobre haver “mais casas sem gente do que gente sem casa” e se comprometeu a realizar uma reforma urbana.
Marina Silva foi perguntada sobre o tema do feminicídio e se comprometeu a criar políticas de proteção à vida das mulheres, além de trabalhar para acabar com a diferença salarial entre mulheres e homens.
O candidato tucano falou sobre reforma política, a qual qualificou como “essencial”, e defendeu a redução do número de partidos políticos no Brasil. “Precisamos ter menos partidos, partidos mais programáticos”, defendeu o candidato, que tem a maior coligação de partidos nas eleições de 2018 (PSDB, PP, PTB, PSD, SD, PRB, DEM, PPS, PR).
O último a responder foi Guilherme Boulos e falou do tema trabalho infantil. "É fundamental dar oportunidade para as crianças. Elas precisam estar na escola, e não nas ruas, trabalhando. Defendemos a lista suja do trabalho infantil. Com trabalho infantil não se brinca, se enfrenta". E aproveitou para criticar a reforma trabalhista. “Vamos revogar, chamando o povo a decidir”.
Assista ao terceiro bloco do debate presidencial:
Reforma da mídia e CPMF
No quarto bloco, os candidatos voltaram a fazer perguntas entre si. Guilherme Boulos questionou Ciro Gomes sobre a regulação dos meios de comunicação. O pedetista afirmou que “não há força política” para esse enfrentamento, e defendeu o financiamento de meios de comunicação mantidos por organizações sociais e uma redistribuição dos recursos destinados à publicidade do governo.
“As vozes do Brasil são diversas e não estão representadas na rádio e na televisão no Brasil”, respondeu Boulos, ao defender que se abra um debate nacional sobre a regulação dos meios de comunicação, no sentido de fazer cumprir a Constituição.
Henrique Meirelles e Marina Silva fizeram uma dobradinha para criticar a proposta de recriação da CPMF, dita pelo economista Paulo Guedes, "guru econômico" de Jair Bolsonaro. “Eu sou contra a reedição da CPMF. Eu fiquei vendo essa confusão entre o Jair Bolsonaro e o seu economista mor, que ele chama de ‘posto Ipiranga’, e o que eu vejo é que já há um incêndio no ‘posto Ipiranga’”, respondeu.
Assista ao quarto bloco do debate presidencial:
Considerações finais
No quinto e último bloco, os candidatos responderam perguntas feitas por bispos e arcebispos da CNBB. Fernando Haddad falou sobre o tema da Campanha da Fraternidade de 2018, a violência. O candidato petista atribuiu a crescente violência no Brasil à forte desigualdade de oportunidades para os brasileiros. “Deus distribui talento democraticamente. Cabe aos homens distribuir as oportunidades democraticamente”.
Ciro Gomes teve que expor sua posição em relação ao agronegócio e à agricultura familiar. Defendeu o aumento do crédito para os pequenos agricultores, o fortalecimento da assistência técnica e uma melhor distribuição da terra. Por outro lado, afirmou que o “agronegócio cumpre um papel importante” no equilíbrio da economia brasileira.
Dom Guilherme Werlang, bispo da cidade de Lages (SC) criticou a aprovação da Emenda Constitucional 95 ao se dirigir a Geraldo Alckmin para saber sua posição em relação ao tema. O tucano afirmou que “em São Paulo nós tivemos deficit primário e nunca precisamos de PEC do teto dos gastos”. Mas defendeu a Emenda 95, justificada na crise econômica que, segundo ele, foi criada pelos governos do PT.
Temas como a desigualdade, a violência contra os povos indígenas, aborto e a intolerância também foram e perguntados aos candidatos. Nas considerações finais, a maioria das falas se dirigiram a criticar a polarização e o “extremismo”. Guilherme Boulos chamou os eleitores a votar pela consciência, sem medo ou ódio. “Estamos a 15 dias da eleição e muita gente está preocupada com o futuro do país, com medo do retrocesso”, disse.
Fernando Haddad relembrou o legado dos governos do ex-presidente Lula e pediu a confiança do eleitorado. “Nós podemos voltar a ser felizes de novo”.
Álvaro Dias citou o papa Francisco e condenou a polarização política, na mesma linha de Ciro Gomes. “A polarização e o extremismo está infernizando a vida do Brasil. Eu quero ser o presidente da união”, disse o pedetista.
Henrique Meirelles afirmou ser o candidato da “terceira via” e afirmou que “tirou o país da crise nos últimos dois anos”.
Marina Silva também criticou a polarização e a hegemonia partidária. “PT, PSDB, MDB e DEM já tiveram a sua chance. Chegou o momento de ficarem quatro anos no banco de reserva”.
Geraldo Alckmin chamou a candidatura de Bolsonaro de "aventura" e criticou o adversário e os governos do PT. “Agora é a hora de fazer uma grande conciliação nacional”, finalizou.
Assista ao bloco final do debate presidencial:
Edição: Diego Sartorato