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O dia em que o semáforo causou acidente entre os dois únicos motoristas da cidade

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Mouzar lembra do dia em que o semáforo foi motivo de distração de dois motoristas e causou o primeiro acidente de trânsito da cidade.
Mouzar lembra do dia em que o semáforo foi motivo de distração de dois motoristas e causou o primeiro acidente de trânsito da cidade. - Foto: Wikimédia
“A dez quilômetros, semáforo", dizia a placa entre duas cidadezinhas

Cidade, quanto maior melhor. 
E quanto mais cheia de carros e prédios também. Pelo menos isso é o que parece quando as pessoas falam do lugar onde moram ou nasceram. Se a cidade tem dez mil habitantes, dizem que tem vinte mil. Se tem quinhentos mil, dizem que tem um milhão.

Eu que gosto de cidade pequena acho isso uma grande bobagem. Uma coisa que começou nas cidades do interior paulista e se expandiu é vangloriar-se de ter prédios altos. E em todos os lugares pequenos em que se construía um prédio, era considerado um luxo morar nele. Eu morava em apartamento em São Paulo, tinha inveja de quem podia morar num lugar sossegado, numa casa com quintal para plantar verduras, temperos e árvores frutíferas, e achava uma imbecilidade essa coisa de achar chique morar em apartamento.

Outro motivo de orgulho era dizer que a cidade tinha uma porrada de automóveis, muito trânsito. Se chegasse a ser necessário que certas ruas tivessem mão única para comportar o trânsito, melhor ainda. Semáforo então, que luxo! Guaxupé foi a primeira cidade a ter um semáforo na minha região, no sudoeste mineiro. Guaranésia era uma cidade menor que Guaxupé, mas como quase sempre acontece com cidades muito próximas, as duas cidades tinham uma certa rivalidade e ficavam disputando novidades, quem tinha uma coisa que a outra não tinha, e falando mal do “atraso” da cidade rival.

Alguns gozadores de Guaranésia puseram na saída para Guaxupé uma placa: “A dez quilômetros, semáforo”. Mas o cúmulo do exagero, para mim, foi Irati, no Paraná, que hoje é uma cidade relativamente grande. Quando conheci, era pequena. Mas mesmo com pouco movimento de carros havia um semáforo num cruzamento do centro da cidade. Brinquei com uma amiga que morava lá, perguntando pra quê aquilo, e ela me contou mais:

— Quando instalaram esse semáforo só tinha dois carros na cidade. Coincidiu que na primeira vez que um carro ia passar por essa esquina vinha o outro na outra rua. Os dois motoristas nunca tinham visto esses sinais de trânsito, se distraíram olhando aquele negócio e se chocaram no meio do cruzamento... 
Foi o primeiro acidente de trânsito na cidade, um choque entre os seus dois únicos carros.

Edição: Camila Salmazio