No boletim semanal Ponto, projeto em parceria com o Brasil de Fato, um resumo das principais notícias da semana que passou, que muitas vezes se perdem em meio ao caos de informações, além de análises, indicações de leituras e outros conteúdos que, na correria do dia a dia, você não conseguiu acompanhar.
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Reproduzimos abaixo a última edição do Ponto, enviada em 21 de setembro de 2018.
21 de setembro de 2018
Olá,
Contagem regressiva de 16 dias para o primeiro turno e as pesquisas eleitorais desta semana apontam que os dois turnos da eleição devem mesmo ser polarizados entre Bolsonaro e Haddad. Analisamos este cenário e a agonia de Alckmin, bem como movimentações curiosas no meio militar. Não deixe de conferir também a lista de retrocessos da semana, as notícias que talvez você não tenha visto e as recomendações de leitura para aprofundar os temas da newsletter. Vamos lá.
Eleição acelerada. Com Ibope e DataFolha na semana que passou, confirmaram-se algumas previsões, como o crescimento acelerado de Haddad, certa cristalização dos votos de Bolsonaro e os carros de Marina e Alckmin quebrando bem antes do fim da prova. Há ainda Ciro Gomes, que seria imbatível num segundo turno, mas precisa antes passar na prova do primeiro. Neste cenário, a maior parte das análises tem dito que a disputa do segundo turno foi antecipada. Para José Roberto de Toledo, o movimento do eleitor em antecipar o voto do segundo turno faz sentido. Isto já estaria acontecendo com o eleitor de Alckmin, mas ainda não com o de Ciro. Segundo os institutos, o eleitor do candidato do PDT é um dos mais propensos a mudar de voto mas, possivelmente, "Ciro virou um voto de passagem para eleitores não-petistas que relutam em aderir à expressão mais radical do antipetismo", o que explicaria sua manutenção de intenção de votos. Vale ouvir a análise do mesmo Toledo nos minutos iniciais do podcast da Piauí.
Junto com a ideia da antecipação do turno, vem outra, aquela de que vivemos uma grande polarização. Em artigo para o Outras Palavras, Antônio Martins diz que a marca desta eleição não é a polarização, mas a despolitização. Para ele, rebaixar a disputa a petismo x antipetismo favoreceria a direita e o melhor caminho para Haddad seria trocar esta polarização por uma mais politizada: favoráveis x contrários ao golpe. Na revista Piauí, Marcos Nobre lembra que desde 1994 a eleição se organiza em função do polo lulista. Ele avalia que Haddad está em vantagem para preparar o segundo turno, e deveria investir tanto no eleitor "nem nem" (brancos, nulos, abstenções) quanto em estabelecer pontes com a parte da elite política e econômica que tem horror a Bolsonaro. Falamos mais sobre isso abaixo na seção Radar.
Bate cabeça. Mesmo estável nas pesquisas, a campanha de Bolsonaro não para de proporcionar momentos de bateção de cabeça entre os diferentes grupos por trás da candidatura. O general Mourão, candidato a vice, praticamente desautorizou Bolsonaro na questão das urnas eletrônicas, acentuando o desconforto entre os aliados. Na área econômica, apareceu pela primeira vez uma proposta da candidatura que se baseia apenas em fanfarronices. Paulo Guedes apresentou para uma plateia de empresários a proposta de um imposto único com alíquota de 20% para pessoas físicas e jurídicas. O trabalhador que ganha 1.500 reais, o que ganha 8 mil reais ou o empresário que fatura 150 mil por mês pagarão o mesmo imposto de 20%. Para o economista Pedro Rossi (Unicamp), o IR ficaria mais caro para quem ganha menos e menor para os salários ou rendimentos mais altos. Vale ver também esta tabela que ilustra como ficaria o IR do Posto Ipiranga. Estas e outras declarações, de Paulo Guedes e Mourão, teriam feito Bolsonaro tentar enquadrar dois de seus principais quadros na campanha.
RADAR
Acenos. Com o crescimento de Haddad, a semana trouxe um movimento curioso na imprensa: foi o petista quem acenou para o mercado ou é o mercado quem está acenando para o petista? A política econômica de um futuro governo Haddad concentrou as manchetes. Na segunda (17), a Folha aproveitou declarações do economista Marcio Pochmman para atestar que o PT estaria moderando o discurso: "A perspectiva não é de um governo que promova choques, mas a implementação de políticas graduais", disse Pochmann. "Temos um programa, uma proposta. Nada que nos exigiria fazer um ajuste radical". Na terça, a mesma Folha e o El País insinuaram que Haddad teria escanteado Pochmann, tido por radical. No dia seguinte, a Folha se decidiu: Haddad é mesmo um moderado e quer um economista assim na sua equipe. Já o Infomoney, espécie de porta-voz do mercado, deixa claro: a preferência do mercado é por Bolsonaro e por um motivo bem simples: o programa do PT não prevê reforma da previdência nos termos defendidos pelo mercado. Daí a mira em Pochmman que já havia dito que a previdência precisava de mudanças pontuais, mas descartava uma reforma.
Aqui jaz. A candidatura de Geraldo Alckmin vive seus dias de velório e luto. Estacionado abaixo dos 10% tanto no Ibope quanto no Datafolha, o tucano assistiu a uma verdadeira debandada nesta semana, começando pelo sempre pragmático "centrão", mas também nas fileiras do próprio partido, incluindo sua criação, João Dória, que foi o primeiro a sinalizar que pularia fora do barco, cabos eleitorais no nordeste e até do ex-presidente do PSDB Arthur Virgílio. O tucano sonha com uma reação como a de Aécio Neves em 2014 e para isso decidiu elevar o tom tanto contra Bolsonaro, quanto contra Haddad. Mais do que chegar no segundo turno, como aponta Daniela Lima na matéria acima, na prática, não é o caso de Alckmin que está em jogo, mas do PSDB que perde sua cadeira cativa de antipetismo, inclusive nos setores com maior renda e escolarização. Nesta quinta (20), FHC chegou a publicar uma carta aos eleitores pedindo serenidade e votos contra a polarização.
Bolsonaro agenda imprensa. Quem acompanha a news desde o começo deve lembrar que já indicamos alguns textos para entender a tática da extrema-direita de espalhar boatos, contaminar o debate público e atrair a atenção para si. Pois bem. Parece que funciona mesmo. Ainda no domingo, direto de sua cama no hospital, Bolsonaro disparou um vídeo que acabou pautando boa parte da agenda da imprensa e da própria campanha. A acusação sobre fraude nas urnas eletrônicas foi respondida pelo presidente do STF e também pela presidente do TSE. No Twitter, um dos filhos de Bolsonaro disse que o TSE "entregou os códigos de segurança das urnas para a Venezuela", o próprio TSE emitiu nota tendo que negar o boato, que já tem mais de cinco mil retuítes. Em tempo: o PSL não compareceu aos testes das urnas eletrônicas.
Indulto. Bolsonaro também pautou de certa forma o debate sobre o indulto a Lula em caso de eleição de Haddad. O Estadão alardeou que uma decisão de Barroso, do STF, impediria o indulto. Na verdade, a decisão ainda precisaria passar pelo plenário do STF para transformar em realidade a manchete do jornal. Já os especialistas em direito ouvidos pelo UOL afirmam que um presidente pode indultar quem quiser por decreto. Porém, segundo Haddad, o próprio Lula é o primeiro a dispensar o indulto: "Lula não vai abrir mão da defesa de sua inocência. É o primeiro a dizer ?não quero favor, quero que os tribunais brasileiros e fóruns internacionais reconheçam que fui vítima de um erro judicial".
Coturnos. Movimentação importante de ser acompanhada são as cada vez mais frequentes declarações de militares sobre política e eleições, com ameaças veladas (ou nem tanto) de golpe militar. Depois de Mourão falar abertamente em autogolpe e Constituinte em povo, o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva deu declarações semelhantes em entrevista na GloboNews. O Nexo traz um resumo e análises sobre declarações de militares e de integrantes da campanha de Bolsonaro. Na Folha, o sociólogo Celso de Barros foi taxativo: o plano dos bolsonaristas é dar um golpe. Na Carta Capital, André Barrocal analisa o perigo do crescente militarismo, que acaba de chegar ao STF, com a nomeação de um general como assessor da presidência. Quem se interessar mais pelo assunto pode assistir à entrevista de Celso Amorim, ex-ministro da Defesa, à Carta Capital, em que comenta as afirmações dos generais da reserva.
Museus. A MP aprovada por Temer uma semana depois do incêndio do Museu Nacional abre uma brecha para a privatização dos museus. A medida, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso, prevê a criação de fundos patrimoniais para arrecadar e gerir doações de pessoas físicas e jurídicas para projetos de interesse público – o que, na prática, significa dar carta branca para a classe empresarial interferir na gestão da cultura.
RETROCESSO DIÁRIO
Autônomos. O número de microempreendedores - trabalhadores autônomos com CNPJ - cresceu 68% em quatro anos, alcançando 7,3 milhões de pessoas neste ano. O desemprego e a terceirização são responsáveis diretos pelo crescimento. Apesar das facilidades para abertura e contribuição, o setor também apresenta 43% de inadimplência nos tributos.
Sem 13º. Professores e técnicos da Universidade Estadual Paulista (UNESP) não deverão receber o 13º salário neste ano, segundo comunicado da própria Universidade. Será o segundo ano consecutivo que cerca de 12 mil estatutários, ativos e aposentados não receberão o benefício. A reitoria justifica que iniciou a gestão com a previsão orçamentária de apenas 12 salários e pressiona o governador Marcio França (PSB) por uma suplementação orçamentária.
Abismo. Pesquisa do IPEA revela que os 10% mais ricos da população brasileira são responsáveis por 51,5% da desigualdade de renda total do país. O percentual é maior do que outros países como Estados Unidos (45%), Alemanha (44%) e Grã-Bretanha (41%). O IPEA utilizou uma metodologia que compara a distância da renda de cada indivíduo com a média de renda do país, para conhecer como a contribuição do grupo mais abastado pode ajudar a definir redistributivas como impostos progressivos sobre renda e patrimônio.
Menos greves. Segundo o DIEESE, o número de greves em 2017 caiu 25% em relação ao ano anterior. O desemprego e os efeitos da reforma trabalhista são apontadas como as principais razões para a redução das mobilizações. Uma a cada quatro greves tiveram caráter defensivo, ou seja, pela manutenção ou implementação de direitos conquistados. Um crescimento em relação aos últimos quatro anos anteriores.
Doente. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) autorizou a farmacêutica norte-americana Gilead a patente do medicamento Sofosbuvir para Hepatite C. Na prática, impede que Fiocruz-Famanguinhos e um consórcio de empresas brasileiras produzam um medicamento genérico para o mesmo tratamento que permitiria o aumento de 30 mil para 50 mil em pessoas atendidas e economia de R$1 bilhão para o país.
VOCÊ VIU?
Previdência. Cinco candidatos a presidente defendem a substituição do atual modelo de previdência por um sistema de capitalização. A Rede Brasil Atual mostra como funciona no Chile, onde o modelo foi instituído por Pinochet na década de 1980. O resultado: aposentadorias mais baixas, porque o trabalhador depende apenas da sua própria contribuição.
Fraude. Braço direito de Bolsonaro na economia, Paulo Guedes é apontado pela Justiça como um dos beneficiários de fraude que causou prejuízos à fundação de aposentadoria dos funcionários do BNDES. Guedes não é réu no processo, mas consta junto com outros oito investidores como beneficiários pela fraude.
Ele voltará. Eduardo Cunha ainda tem muito poder no MDB. Sua filha Danielle, candidata a deputada federal, recebeu R$ 2 milhões do fundo público e lidera as doações entre os 19 candidatos a deputado federal pelo partido no Rio.
Toffoli paz e amor. Na sua primeira semana como presidente do STF, Dias Toffoli concedeu entrevista coletiva onde deixou claro: nada de temas polêmicos na pauta do Tribunal neste ano. Objetivamente, já avisou que não debate a prisão em segunda instância, que poderia beneficiar Lula, nem as questões vinculadas a aborto e drogas. Sobre o aumento do auxílio-moradia dos juízes, divagou sobre a necessidade de uma repactuação.
Enquadro. Para a surpresa geral, o ministro Ricardo Lewandowski se pronunciou favorável a uma lei de controle dos abusos de autoridade de instituições como o Ministério Público, Polícia Federal, tribunais de contas e órgãos de controle, cujos "membros que têm agido além de sua esfera de competência". A proposta de controle de abusos tem sido combatida especialmente por procuradores do MP.
Chantagem. A cada pesquisa eleitoral, a bolsa oscila e o dólar dispara. Sinais do "temperamento do mercado". Mas a consultoria Austin Rating afirma que se o dólar hoje seguisse o mesmo comportamento da especulação anterior a posse de Lula em 2002 a moeda deveria estar batendo em R$7,39. "Fatores subjetivos, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China e o ambiente político, pesam mais do que fatores objetivos, econômicos em si", diz a consultoria.
Uma vitória. A advogada Valéria Lúcia dos Santos, impedida de trabalhar, algemada e retirada por PMs, voltou ao tribunal nesta semana, agora sob direção do juiz titular, e venceu a causa e ainda fez o TJ-RJ filmar todas as audiências.
Arquibancada. Torcidas organizadas, entre elas a Gaviões da Fiel, do Corinthians, têm se somado à campanha #EleNão. A Torcida Jovem do Santos foi outro grupo representativoque se manifestou. Já as mulheres vão às ruas no dia 29 contra a candidatura que tem cara de fascismo, jeito de fascismo e parece fascismo mesmo.
É BOATO
Guiné. A apreensão de uma dinheirama com o filho do ditador da Guiné Equatorial no aeroporto de Viracopos mostra como a grande imprensa muitas vezes curte surfar numa fake news. O Estadão fez uma chamada que ajuda a dar força ao boato que vincula o dinheiro às eleições no Brasil. O curioso é que o projeto Comprova, consórcio de jornais que reúne o próprio Estadão, mostrou que não há nenhum indício que sustente o boato.
Ameaças. Na semana em que até a apresentadora Fátima Bernardes precisou desmentir um boato estapafúrdio que a vinculava ao ataque contra Bolsonaro, vale ler a história de uma estudante que, estando a 300 km do local onde Bolsonaro foi esfaqueado, passou a ser perseguida por causa de uma boataria espalhada na internet.
BOA LEITURA
Paulo Freire. O educador completaria 97 anos no dia 19. Em 2018, o livro Pedagogia do Oprimido completa 50. Um especial do Brasil de Fato discute a atualidade de Paulo Freireem um momento de crescente intolerância.
2008, ano que não terminou. A crise econômica de 2008 completou dez anos e ainda sentimos as consequências do estouro da bolha imobiliária nos EUA .O Nexo fez um passo-a-passo da crise, origens e consequências. A BBC Brasil relembra como cinco países, inclusive o Brasil, se comportaram na crise. Para o Brasil, o resultado foi desindustrialização e crise fiscal, segundo a Agência Brasil. Para o inglês The Guardian e a The Intercept, o mundo não aprendeu nada com a crise e um novo terremoto vem aí.
Tubarão sincero. A Vice entrevistou um investidor bilionário de São Paulo para entender afinal o que pensa o mercado?. "No caso do Bolsonaro, talvez ele pudesse ser o melhor dos presidentes, porque tem o espírito autoritário. E o Brasil precisa disso."
Geração Coca-Cola. A geração formada pelo hiperconsumo quer respostas rápidas para os problemas e por isso adere a propostas reducionistas e simplistas gestadas por uma elite sem compromisso nacional. Artigo do delegado aposentado da PF Armando Coelho Neto.
Quem vota no Coiso. O El País destrinchou a pesquisa Ibope para entender o perfil de quem já se decidiu por Bolsonaro e não pensa em abrir mão. O Bolsonarista convicto é homem, branco, com ensino médio ou superior e evangélico. Ainda sobre o tema, na Carta Capital a cientista política Esther Solano explica por que mulheres votam em Bolsonaro: "discurso simples e conservador do candidato convence até quem sofre com o machismo".
Ameaçadas. A Agência Pública ouviu o testemunho de quatro mulheres que sofrem perseguições por sua posição favorável ao aborto: uma pastora, uma professora, uma jornalista e uma estudante de direito. Contraditoriamente, são ameaçadas de morte por "defensores da vida".
O pós-Lula. O cientista político Jean Tible se pergunta se a esquerda e os movimentos populares estão preparados para o cenário político e econômico pós-eleição? Uma análise retrospectiva e projetiva.
Agrotóxico. A cidade de Tocantins que vive uma epidemia de doenças causadas pelo glifosato usado na soja transgênica. Casos de abortos e de contaminação do leite materno na investigação da The Intercept.
Lugar de fala. Preocupada com as ficções de que o nazismo seria um movimento de esquerda, a embaixada alemã no Brasil precisou produzir um vídeo para esclarecer o assunto. A Folha até reproduziu declarações em que Hitler repudiava o marxismo. Só que não funcionou. Negacionistas do holocausto e eleitores de Bolsonaro insistem que os alemães não têm autoridade para tratar do assunto, afinal aquele é o país de Karl Marx. Certamente os alemães não assistem a Netflix.
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Edição: Diego Sartorato