A mulher dele morreu nova, e ele ficou com os cinco filhos pra criar
Hoje eu vou falar de um ceguinho que era muito estimado na sua cidade, no interior de Minas Gerais.
Era casado, tinha cinco filhos, e vivia muito bem com a família.
Mas a mulher dele morreu nova, e ele ficou com os cinco filhos pra criar, o mais velho deles com dez anos de idade.
O que eu quero contar é o que aconteceu no velório dela. Toda a vizinhança queria se despedir da mulher e também dar algum apoio ao coitado do viúvo, não dava para fazer o velório na casinha deles, que era bem pequena.
A diretora de uma escola do bairro cedeu a maior sala dessa escola para o velório. Encostaram as carteiras nas paredes, deixando o resto da sala livre. Puseram a defunta em um caixão em cima de uma mesa no meio da sala, e em volta estava cheio de gente rezando, com algumas pessoas com cara de choro. Naquele clima de comoção, o ceguinho na sala, puxado pelo filho mais velho, que o levou até a mesa com a defunta. Ficou todo mundo emocionado.
Ele pôs a mão direita na testa da mulher e começou a se lamentar. Dizia mais ou menos o seguinte: “Ô, Maria, eu sempre tive a cabeça meio ruim, e você é que, com essa cabeça boa, me orientava, me guiava pra fazer as coisas certas. Como é que eu vou viver sem essa cabeça, Maria?”
Mulheres presentes no velório começaram a chorar baixinho.
Baixou um pouco a mão, até os lábios da defunta. E continuou seu lamento: “Essa boca que me aconselhava, me orientava... Como é que eu vou viver sem esses lábios, Maria?”
Aumentou um pouco o choro das mulheres.
Ele baixou a mão até os seios dela e falou: “Esses seios que amamentaram meus filhos, como é que eu vou viver sem esses seios, Maria?”.
Aí já tinha até homens chorando. Ele baixou a mão até o ventre da mulher e continuou:
“E esse ventre que gerou nossos filhos, Maria? Eu acompanhava o crescimento dele, ouvia o coraçãozinho de cada um deles, era uma alegria, Maria. Como é que eu vou viver sem esse ventre?”
Foi uma choradeira danada...
Ele baixou um pouco mais a mão... O que diria?
Ele gaguejou um pouco, falou: “E esse... Esse... Esse... Ô, lugá!”
Edição: Camila Salmazio