Os candidatos à Presidência da República protagonizaram, no final da tarde desta quarta-feira (26), o quinto debate presidencial em TV aberta, no SBT. O debate foi realizado em parceria com o jornal Folha de S. Paulo e o portal UOL.
O encontro teve duração de 1h45, e contou com a presença de Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Cabo Daciolo (Patriota). O candidato Jair Bolsonaro (PSL) também foi convidado, mas segue internado no hospital Albert Einsten, em São Paulo.
O debate foi dividido em três blocos e foi marcado pela tentativa de questionar uma suposta polarização já anunciada nas últimas pesquisas para o segundo turno, que, considerando as mais recentes pesquisas de intenção de voto, deve ser disputado entre Bolsonaro e Haddad.
Os principais candidatos utilizaram o tempo das perguntas e considerações finais para alertar o povo para a ameaça representada por Bolsonaro, ao mesmo tempo em que procuraram desqualificar a candidatura do PT para conquistar uma vaga no segundo turno.
Embate
No primeiro bloco, no qual os candidatos realizaram perguntas entre si, foram contemplados temas como o desenvolvimento regional, o desemprego, a desigualdade social e a educação.
O tema da educação apareceu já na primeira pergunta, de Boulos a Alckmin, e que também contemplou o escândalo de desvios na compra de alimentos para o ensino público estadual de São Paulo, que ficou conhecido como "máfia da merenda". "O que o Brasil quer saber é: onde está o dinheiro da merenda?", questionou Boulos.
Alckmin desviou da pergunta durante sua resposta, e aproveitou para destacar que "São Paulo tem a melhor rede de ensino técnico e tecnológico da América Latina". Quando pressionado na réplica pelo socialista, que o chamou de "Sérgio Cabral que não está preso", Alckmin tentou deslegitimar a candidatura de Boulos e afirmou que o escândalo foi obra de "estelionatários já punidos". "O governo não teve nada a ver com isso", afirmou.
Sobre o tema do desenvolvimento regional, levantado em pergunta de Ciro para Haddad, o petista destacou que, de todos os ministros do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi o que mais percorreu o país implementando políticas para a educação. "Temos que retomar as obras paradas", destacou. Haddad também criticou a Emenda Constitucional 95, que ficou conhecida como PEC do teto dos gastos, ou PEC do Fim do Mundo, e congela os investimentos públicos pelos próximos 20 anos. "Assim nós não vamos longe", disse.
Na última pergunta do primeiro bloco, Marina Silva foi questionada pelo petista se revogaria a reforma trabalhista promulgada pelo golpista Michel Temer (MDB), e que entrou em vigor em novembro do ano passado. "Quem botou o Temer lá foram vocês. Ele traiu a Dilma com apoio da oposição, e você fez parte disso. Insisto, você faria revogação da reforma trabalhista e teto de gastos?", questionou o petista.
Marina respondeu que não defende a terceirização de atividades fins ou a EC 95.
Perguntas dos Jornalistas
No segundo bloco, os candidatos responderam as perguntas de jornalistas dos veículos organizadores do debate. Em pergunta a Ciro, a jornalista Débora Bergamasco, do SBT, questionou se haveriam Ministérios comandados por petistas em um suposto governo do PDT. "Esse conflito entre PT e Bolsonaro vai levar o país para o fundo do poço", respondeu Ciro. Questionado ainda sobre a possibilidade de uma aliança de seu governo com o MDB, de Temer, Ciro acrescentou que esse partido será "destruído pelos caminhos democráticos que o governo construir".
Em seguida, Haddad, em resposta ao repórter Fernando Canzian, da Folha de S. Paulo, que o questionou sobre a rotina de visitas a Lula em Curitiba, destacou que é advogado de Lula, "com muita honra", e não vai deixar de visitá-lo até que o ex-presidente "ter direito a um .julgamento justo". Haddad questionou ainda a resposta anterior dada pelo candidato Ciro.
"Ciro disse que não governaria com o PT, queria destacar que há poucos meses o Ciro me chamava para sua chapa e a apresentava como 'time dos sonhos'. Não é assim que se faz política, deslegitimando as candidaturas dos outros quando convém", afirmou.
No segundo bloco, Alckmin também foi questionado, pelo jornalista Diogo Pinheiro, do portal UOL, sobre os "tucanos diariamente citados em reportagens por participarem de esquemas de corrupção", como o Trensalão. O tucano alegou que "todos os partidos estão fragilizados". "Não queremos passar a mão na cabeça de ninguém", destacou, e concluiu que "o país só mudará com reformas". "Só faz reforma quem tem maioria, o resto é conversa fiada", disse.
As demais perguntas dos jornalistas contemplaram temas como a participação popular e legalização das drogas, a suspensão de emendas constitucionais, como a Reforma da Previdência, trazida pela Intervenção Federal do Rio de Janeiro, e as cotas para negros e indígenas em universidades públicas.
Sobre este último tema, em resposta à Débora Bergamasco, o candidato Cabo Daciolo destacou que, em seu governo, expandiria as cotas. "O país é tão jovem, tem 130 anos que acabou a escravidão. Com certeza sou a favor de cotas no ensino e no mercado de trabalho, essas pessoas não foram abraçadas nem há 130 anos, nem hoje pelos políticos", afirmou.
Polarização
O último bloco foi retomado com o método de perguntas entre candidatos, e teve uma maior ofensiva entre os candidatos. Abrindo o bloco, Meirelles questionou Alckmin sobre o atraso de duas décadas na construção da Linha 5 do Metrô de São Paulo. Alckmin respondeu apenas que "São Paulo é o estado que mais investe em transporte no Brasil".
O bloco contemplou também temas como o investimento em educação superior, o Fundo Partidário e as políticas para mulheres. O candidato Álvaro Dias questionou Haddad sobre a proposta presente no plano de governo do PT para a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco salários mínimos.
"O que fizemos foi muito importante para o Brasil. Todos os programas sociais, o Luz para Todos, os Institutos Federais, o Mais Médicos, o ProUni, tudo isso, saiu do orçamento federal. A população mais pobre se viu no orçamento. Temos agora a tarefa de trabalhar ao lado da receita. Não temos outra chance que não melhorar a renda disponível da classe trabalhadora para que ela possa fazer a roda da economia girar", afirmou.
Em sua réplica, Dias afirmou que "o PT é implacável com o pobre, ele distribui a pobreza". Na tréplica, Haddad destacou que o candidato do Podemos foi representante do governo do Fernando Henrique Cardoso, "governo que mais aumentou a carga tributária do país". E denunciou que o candidato "não tem o menor respeito com a população beneficiária de todos os programas do PT. O pobre, o negro, a mulher, chegaram à universidade graças a todos esses programas", disse.
A última pergunta foi feita por Guilherme Boulos a Cabo Daciolo, sobre as propostas do candidato do Patriota para as mulheres brasileiras. Daciolo afirmou que é a favor da igualdade entre homens e mulheres na política e que defende uma participação 50% feminina nos ministérios brasileiros. "Eu amo a minha mãe, que está aqui, minha mulher e todas as mulheres brasileiras", concluiu. Em sua réplica, Boulos afirmou que "além do amor, as mulheres precisam de políticas públicas", e destacou a mobilização contra Bolsonaro, chamada de #Elenão, marcada em diversas cidades do país para o próximo sábado (29).
O debate teve fim às 19h30 com as considerações finais dos candidatos. Nesse momento, os candidatos defenderam suas respectivas candidaturas, e confirmaram a preocupação com um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Na pesquisa do Ibope divulgada nesta quarta-feira (26), Haddad tem 21% das intenções de voto, contra 27% de Bolsonaro.
Em sua consideração final, Ciro destacou que os eleitores antipetistas e anti-Bolsonaro deveriam pensar em outras vias para além do PSL e do PT. "Esse enfrentamento de um votar contra o outro acaba gerando esse resultado".
Meireles afirmou que, durante o debate, houve uma briga de todos contra todos, "mas ninguém brigando pelo o que interessa".
Alckmin também criticou a "polarização", afirmando que "mais da metade dos brasileiros não quer um nem outro".
Já Marina focou sua conclusão tentando canalizar o voto das brasileiras. "Vocês sabem o quanto é difícil uma mulher ex-empregada doméstica estar aqui disputando. Quando tem briga na família, chamam uma mulher corajosa para fazer todos conversarem".
Haddad finalizou retomando as políticas públicas que foram colocadas em práticas nos governos do PT, e afirmou que seu governo "será pautado pelo princípio de ampliar oportunidades, de emprego, trabalho e educação".
Edição: Diego Sartorato