Sonia foi estuprada com um cassetete, teve os seios amputados e morreu na tortura. Como acabara de dar à luz, Rose era chamada de “vaca” e ameaçavam quebrar uma perna do seu bebê. Massacrada na cadeira do dragão, Maria foi posta a marchar na masmorra. “Ô negra feia! Isto aí devia estar é no fogão!”, debochavam os carrascos.
Grávida de cinco meses, Hecilda foi atacada com socos e pontapés. “Filho dessa raça não deve nascer!”, gritavam. Após tomar choques nos seios, foi atirada no chão de uma cela escura. Estava infestada de baratas que começaram a roê-la. Marise, nua e encapuçada, sofreu espancamentos. Amamentando, o leite escorria-lhe pelo corpo. Lúcia teve baratas introduzidas na vagina e no ânus.
Murros destroçaram os dentes de Damaris deixando sua boca inchada sem poder mastigar. Sua refeição vinha enfeitada com palitos e baganas de cigarro. Os algozes de Elza a tratavam por “puta” enquanto molhavam seu corpo com água fria para deixar o choque elétrico ainda mais brutal. Despida, Eleonora era torturada sob berros de “vaca”, “puta”, “galinha”. Maria Amélia recebia choques na vagina, no ânus, nos ouvidos, na boca e nos seios enquanto os torturadores se masturbavam sobre ela. Sedenta, implorava por água e recebia salmoura, tornando a sede ainda mais terrível.
As mulheres que se rebelavam contra a ditadura de 1964 – a segunda mais longa da história da América do Sul - eram tratadas assim. O fato de serem antifascistas gerava raiva. Não mais, porém, do que o fato de serem mulheres que desprezavam o modelo feminino dos porões: recatadas, submissas e do lar.
Agora, 33 anos após o ocaso daquela tirania, as mulheres avisam que não vão tolerar a intolerância. Que não aceitam o regresso do horror. Que não pode haver contemplações com a besta que se arrasta para nascer. Desde já, 2018 é um marco. É a eleição que as mulheres vão decidir. As mulheres que dizem Não.
Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 6) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.
Edição: Marcelo Ferreira