O maior deles é derrotar o neofascismo, personificado na candidatura Bolsonaro
Por Ana Júlia Ribeiro*
As eleições de 2018 trazem desafios ímpares para a democracia brasileira. O maior deles é derrotar o neofascismo, personificado na figura do candidato Jair Bolsonaro. Para que isso seja possível teremos um árduo trabalho em mostrar ao povo que o campo progressista é quem poderá trazer ao Brasil a retomada de avanços em políticas de promoção da justiça social e do desenvolvimento humano.
De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, a menos que estejamos prestes a presenciar algum fenômeno inusitado, o segundo turno está dado: teremos uma disputa entre Haddad e Bolsonaro.
O candidato da extrema-direita, caso ganhe a eleição, partirá para o autoritarismo e implantará um extremo conservadorismo. Bolsonaro e seu vice, Mourão, encontrarão resistência no Congresso Nacional, mas nada que eles, a seu jeito medíocre, não consigam atropelar.
No caso de Haddad, se eleito, também enfrentará grandes dificuldades com os parlamentares que não estarão alinhados com seu governo, cujas pautas se compõem favoravelmente ao mercado e em detrimento das políticas sociais voltadas aos trabalhadores.
Por mais que a eleição majoritária de 2018 seja uma imensa incógnita, as eleições proporcionais caminham no mesmo sentido de sempre, o Parlamento que vai nascer dela não é nenhuma novidade. Sabemos que, infelizmente, o Congresso não terá uma renovação que leve os setores populares a conquistar a maioria das vagas nas casas legislativas. Haddad enfrentará a armadilha que poderá ser, mais uma vez, um governo de coalizão às custas da governabilidade.
Lula, como o grande político que é, soube fazer com que a coalizão servisse a seu governo e que as políticas sociais e econômicas fossem implementadas de forma que resultou benefícios, tanto para o povo mais vulnerável e classe média, quanto para o grande empresariado.
Contudo, o momento atual é singular. A conjuntura que o Brasil está inserido em 2018 de longe não é a mesma de 2002. O mercado e a direita já não estão mais dispostos a aceitar derrotas, muito menos se aliar para ter um governo mais ou menos como querem, e com meia-boca de suas propostas em pauta.
Assim, como um novo governo que se intitula do povo e tem como identificação a esquerda, também já não pode abrir mão a tantas concessões. No passado foi necessário, mas agora teremos que construir alternativas para além das possibilidades. De qualquer forma, os movimentos sociais terão um papel estratégico e fundamental, não será mais possível ficar na inércia.
Neste sentido, a juventude, as mulheres, a negritude, os LGBTIs, os movimentos sociais de trabalhadores urbanos e rurais precisam se manter ativos, e reivindicando nossos direitos que foram levados nestes últimos dois anos. Como centro de nossas lutas deverá estar a defesa da educação pública e sua universalização, o SUS e as empresas públicas. Também a revogação no processo de precarização das relações de trabalho, imposto pela reforma trabalhista e lei da terceirização.
Haddad como presidente precisará, sim, da coalizão para construir um mínimo de governabilidade, mas não poderá se deixar controlar por ela. O Partido dos Trabalhadores terá que ser firme em construir a governabilidade, com os movimentos sociais, com os setores populares da sociedade. Será preciso fazer com que minimamente a democracia representativa também se faça participativa.
O PT, dentro dos limites e das possibilidades, não pode errar. O futuro governo deverá buscar e construir alternativas para fazer com que o seu próximo mandato seja eficiente, como foram os governos de Lula. Porém, entendendo que o mercado não nos quer mais e também não precisamos recorrer a ele, definitivamente o golpe foi mau negócio para todos.
* Ana Júlia Ribeiro é estudante, ativista por uma educação pública universal de qualidade e coordenadora Jovem da Campanha 100 milhões por 100 milhões, iniciativa do Laureado Nobel da Paz Kailash Satyarthi.
Edição: Cecília Figueiredo