O radicalismo de direita e de extrema direita é o responsável pela maioria de ataques contra jornalistas que trabalham em contexto político, partidário e eleitoral. O dado é um alerta significativo das ameaças à liberdade de imprensa e a democracia no Brasil.
De acordo com o relatório da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), foram 129 atos de violência contra profissionais da imprensa, de maio de 2017 ao início de outubro de 2018, período que compreende a cobertura das eleições. Deste total, 98 ocorrências envolvem agressores ligados a candidaturas de direita.
Dos 59 registros de agressões físicas, 31 foram praticados por militantes da direita. Já no caso dos 70 casos de ataques digitais e incitação de ódio pela internet, 67 partiram dos conservadores.
Segundo a gerente executiva Marina Atoji, da Abraji, o número real de ataques pode ser maior.
"Antes de tudo, é importante notar que é um levantamento parcial, certamente há casos que a Abraji não toma conhecimento, dado a amplitude do país e das redes sociais. A ideia é produzir dados sobre este fenômeno, para conhecer a extensão dos ataques, dar visibilidade a eles e pensar o que pode ser feito para previni-los e reduzi-los", disse.
O jornalista Leonardo Sakamoto, que atua na cobertura da eleições e também em Direitos Humanos, é um dos profissionais brasileiros que mais sofreu com esse tipo de ameaça.
"Nessa eleição, essencialmente, a gente tem sentido um aumento de ataques. Não deixa de ser surpreendente a facilidade com que alguém aborda um estranho a rua e faz uma ameaça de morte como se estivesse indo na padaria. Como se a falsa sensação de anonimato das redes estivesse transbordando para o lado de fora ", disse.
O relatório produzido pela Abraji também revela o perfil dos agressores.
"Na esfera digital, a maioria dos ataques vem de perfis ditos politicamente conservadores, com grande alcance, incluindo promotores de Justiça, como o Ailton Benedito de Souza, do MPF [Ministério Público Federal] de Goiás, e Marcelo Rocha Monteiro do MP [Ministério Público] do Rio de Janeiro. Outros autores de destaque são influenciadores como Danilo Gentili, Flávio Gordon, MBL e Rodrigo Constantino. O Twitter e o Facebook foram os meios mais utilizados", disse.
Caravana
Um dos casos mais graves foi o atentado a tiros contra o ônibus que levava os jornalistas que acompanhavam a Caravana Lula Pelo Sul do País, no final do mês de março deste ano.
O jornalista Eduardo Matysiak, que estava na caravana à trabalho, relata que houve diversos episódios de incitação de violência e ódio por parte da direita.
"O pior disso tudo é o racha. Se você fala do Bolsonaro, você é Lula, é esquerdista. Eles não aceitam nada, a não ser a verdade deles. Agora está mais evidente, porque temos aí um candidato que prega o ódio e que deixou isso claro. Façam que não será punido", disse.
Apoiadores próximos ao candidato Jair Bolsonaro que, inclusive, participam das articulações da campanha do PSL, protagonizaram casos de perseguição a jornalistas e estão no relatório do Abraji, como o ator Alexandre Frota e Letícia Catel, assessora informal da campanha.
Letícia publicou uma vídeo na internet expondo uma jornalista que havia entrevistado o militar reformado. A assessora do candidato leu uma mensagem particular sem autorização, na qual a jornalista dizia que "precisamos sobreviver à Bolsonaro", e fez um vídeo coagindo a jornalista.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira