“Não estamos aqui para matar a galinha dos ovos de ouro, queremos uma distribuição justa dos ovos”. Quem diz isso é Luzia Batista, aposentada que passa algumas de suas tardes na Vigília Lula Livre, em Curitiba.
Aposentada há quatro meses, Luzia trabalhava na parte administrativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). Ela conta que frequenta a Vigília Lula Livre desde abril, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso na Superintendência da Polícia Federal.
Luzia diz não ser militante de nenhum movimento nem filiada a qualquer partido, mas sim uma “simpatizante da causa” que deseja que suas duas filhas vivam em um país mais justo.
“Eu penso num Brasil onde haja uma divisão mais justa, trabalho para todos, onde as pessoas possam conviver mais harmonicamente sem que uns queiram ter demais da conta e outros não”, afirma.
A aposentada diz que tem ficado assustada com a disseminação de discursos de ódio durante a campanha eleitoral e que, por isso, procura frequentar mais vezes a Vigília, para “estar perto de quem respeita a diferença”.
“Esse antipetismo que foi criado fez com que as pessoas ficassem cegas e não vissem mais nada na sua frente. Hoje o que a gente percebe é que não é só o antipetismo, temos a democracia contra o fascismo. Ou nós partimos para uma democracia, ou nós vamos para o fascismo”, diz Luzia.
Há menos de 20 dias para o segundo turno das eleições, ela acredita que Fernando Haddad (PT) foi o “cara que uniu a esquerda” e que terá a capacidade de diálogo necessária para governar o país. Mas Luzia também é crítica e diz que, mais do que votar, é preciso cobrar dos governantes que mantenham um canal de comunicação com o povo.
"Nós vamos ter que repensar o Brasil. O governo tem que repensar a comunicação com o povo, que essa comunicação seja feita diariamente, seja de prestação de contas diária, para que o povo comece a interagir com o governo, não fique à mercê”, diz a aposentada.
Governo não é para machucar
Assim como Luzia, Izabel Fernandes entende que o segundo turno das eleições, no próximo dia 28, vai definir se o Brasil continuará vivendo em uma democracia, com liberdades individuais, ou terá um governo de repressão.
Também aposentada, ela frequenta a Vigília Lula Livre diariamente e é vista sempre com uma camiseta estampada com a imagem do ex-presidente Lula. Por escolher essa vestimenta, Izabel conta que é xingada constantemente de “vadia” e “vagabunda” nas ruas de Curitiba.
“É muito importante as pessoas estarem cientes do que vai acontecer se esse Bolsonaro vier a ganhar as eleições. Vamos perder toda liberdade, não só nós, de esquerda, mas eu acredito que todas as pessoas. Todo mundo vai sofrer a repressão”, afirma.
Defensora dos governos de Lula e Dilma Rousseff, Izabel entende que “o Brasil está andando para trás”. Ela fala que, após o impeachment de Dilma, com as políticas de Michel Temer, teve que abrir mão do plano de saúde e passar a comprar só o básico no mercado, pois o salário fica “apertadinho todo mês”.
Essa sensação que Izabel tem de que o salário não é suficiente é confirmada por um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), lançado em janeiro deste ano. O estudo aponta que o salário mínimo estabelecido pelo governo federal para 2018, que é de R$ 954, não teve crescimento real (se comparado a 2017) e levou à perda do poder de compra.
Diante desse cenário político e econômico, Izabel acredita que, no dia 28, votará pela manutenção da democracia e pela volta dos avanços sociais para as classes populares.
“Governo não é para machucar, governo é para dar oportunidades para as pessoas, ajudar as pessoas, governar com a gente, com os movimentos sociais. Isso é governo. Governo não pode reprimir”, afirma.
Mais giz e menos balas
Para Hilderaldo Ferreira Gomes, a pauta mobilizadora de seu voto é a educação. Jornalista, Hilderaldo trabalhou na Rádio e TV Educativa do Paraná durante 28 anos.
Ele também frequenta a Vigília Lula Livre desde que o ex-presidente Lula está mantido preso na Superintendência da Polícia Federal, há 187 dias. Diz que fez parte do movimento estudantil durante sua época de secundarista e universitário, mas nunca se filiou a partido algum.
Hilderaldo conta que seu pai foi perseguido e preso pelo regime militar, em 1968, e que, por isso, desde novo entendeu que é preciso debater política. Ele fala com orgulho sobre a filha, que, através do Programa Universidade para Todos (ProUni), conseguiu uma bolsa de estudos no curso de Medicina da Faculdade Pequeno Príncipe, em Curitiba.
Lembrando a gestão de Fernando Haddad como secretário do Ministério da Educação e depois como Ministro da Educação do governo Lula, Hilderaldo diz que acredita na possibilidade de que o Brasil volte a investir na educação do povo.
“Queremos mais escolas e menos presídios, mais giz e menos balas. Eu só quero um futuro melhor para os meus netos, para minha filha e [quero] viver em um Brasil melhor”, diz o jornalista.
Vigília Lula Livre
Desde 7 de abril, quando Lula foi preso em Curitiba, a Vigília Lula Livre tem sido um espaço permanente de mobilização e resistência.
A Vigília fica em um terreno em frente à Superintendência da Polícia Federal de Curitiba e diariamente militantes gritam, em coro, "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" ao ex-presidente Lula.
No espaço também acontecem rodas de conversa sobre temas importantes para a conjuntura política, como Reforma da Previdência, privatização do ensino e projetos dos candidatos. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas já circularam pelo espaço, nesses 187 dias.
Edição: Daniela Stefano