A voz do povo é o tom determinante, num processo democrático, para a definição da campanha presidencial deste ano. Na avaliação do cientista político Marcos Coimbra e presidente do Instituto de Pesquisa Vox Populi, a corrida eleitoral deste ano não tem precedentes na história recente do país.
O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, conseguiu 49,2 milhões de votos (46% dos votos válidos). O petista Fernando Haddad, que substituiu o ex-presidente Lula na cabeça da chapa, recebeu 31,3 milhões de votos (29,3% dos votos válidos), segundo o TSE. No entanto, de acordo com a apuração oficial, foram 29,9 milhões de eleitores que não foram votar, ou seja, se abstiveram. São quase 20% do eleitorado que ainda não se manifestou e que pode ser crucial para a definição do resultado. Confira trechos da entrevista com o presidente do Vox Populi.
Brasil de Fato: Como o senhor avalia o resultado do primeiro turno?
Marcos Coimbra: Essa eleição vem se desenhando assim há muito tempo com o Bolsonaro contra o candidato do PT. Se o candidato do PT tivesse sido o Lula, a eleição teria se decido em primeiro turno [a favor do PT], por razões que nem precisa lembrar. Era previsível também que o candidato que Lula apoiasse iria para o segundo turno. Embora seja novidade a presença do Bolsonaro, o desfecho já era previsível pelo menos desde o meio do ano passado.
Na disputa do segundo turno, fica evidente a postura do Haddad em querer dialogar sobre os programas e fazer debates, mas o Bolsonaro está evitando o confronto e a exposição de ideias. Isso impacta na decisão do eleitor do Bolsonaro?
Embora estejam circulando há muito tempo as informações a respeito dele, muita gente, ao que parece, preferiu esquecer o que ele é, o que ele representa, as ideias que ele defende e muitas coisas relativas ao comportamento pessoal dele. Bolsonaro é um homem de rompantes verbais, gosta de fazer encenações, mas na hora do enfrentamento real ele recua. Isso deveria ser considerado pelos eleitores e eu espero que seja.
Existe uma possibilidade de virada no segundo turno?
Claro que tem. Talvez, se ele [Bolsonaro] fosse um candidato melhor, mais qualificado, com perfil para ser presidente da República, é possível que esta vantagem que ele tem sobre o Haddad fosse muito expressiva, mas como ele é um candidato fraquíssimo, do ponto de vista de biografia, de caráter e de ideias, não. É possível, alterar.
Um candidato ter um crescimento muito grande no segundo turno já aconteceu anteriormente. O Aécio, por exemplo, foi assim?
As analogias com eleições anteriores oferecem pistas, mas muito limitadas. Essa eleição é muito diferente. O fato de Lula estar preso, de um candidato como Bolsonaro ter ocupado o lugar do antipetismo e até esta disposição dos eleitores em fingir que não sabem quem ele é, tudo é novidade. As analogias com eleições passadas dão pistas limitadas do que pode acontecer neste segundo turno.
E o que o senhor pensa sobre o volume das abstenções no primeiro turno?
Só não foram maiores do que nas duas eleições que o Fernando Henrique venceu, em 1994 e 1988, que foram eleições desmotivantes para os eleitores. A partir de um certo momento ficou claro que a maioria queria a continuidade do plano Real e a eleição foi perdendo a graça. Nas duas eleições seguintes, em que Lula saiu vitorioso e nas duas eleições que Dilma venceu, a abstenção e os votos nulos/brancos diminuiu. Agora, este tipo de voto/não voto voltou a subir, talvez porque também seja uma eleição que desmotivou muito eleitores; não é um crescimento extraordinário, embora, de qualquer forma , seja relevante. Se a campanha Haddad conseguisse atrair este eleitorado, só isso, provavelmente, daria a vitória a ele.
Edição: Daniela Stefano