Entrevista

“Ainda há uma gente miúda que acredita na política como bem comum para todos”

Eleita deputada pelo PT, a educadora Leninha fala da vitória eleitoral e dos desafios da sua futura gestão

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"O avanço da intolerância é um desafio que temos que enfrentar enquanto sociedade", afirma Leninha
"O avanço da intolerância é um desafio que temos que enfrentar enquanto sociedade", afirma Leninha - Foto: Reprodução

Eleita deputada pelo PT, a educadora Marilene Alves, conhecida como Leninha, inicia em 2019 seu primeiro mandato na ALMG. Natural de Montes Claros, ela é graduada em Ciências Biológicas e mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes. Foi professora das redes estadual e municipal, diretora do Sind-UTE/MG e presidenta regional da CUT. Coordena o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e as articulações do Semiárido Brasileiro e Mineiro e é diretora-secretária da Cáritas Brasileira. Em 2016, foi candidata à Prefeitura de Montes Claros, quando obteve mais de 36 mil votos. Confira a entrevista de Leninha ao Brasil de Fato MG.

Brasil de Fato - O que representa a sua vitória nestas eleições?

Marilene Alves - É um foco de resistência das mulheres, da periferia, dos povos e comunidades tradicionais. Esta vitória representa, de fato, uma esperança de que nem tudo está perdido na política. Ainda há uma gente miúda, como a gente diz aqui, que acredita na política como bem comum para todos.

Como foi a sua caminhada até chegar a esta vitória eleitoral?

Depois que terminou o processo eleitoral em Montes Claros [em 2016], em um momento difícil, eu continuei meu trabalho nas comunidades, com a Frente Brasil Popular e outros espaços construídos após o golpe. Foi isso que permitiu participar do debate de projeto político e disputar uma vaga na Assembleia. Ao fim daquela campanha, voltamos ao nosso trabalho de base. E foi por isso que a votação que tivemos no Norte de Minas foi superior à que a gente esperava. Na cidade de Montes Claros, eu fui mais votada que muitos federais. Uma candidata que gastou R$ 4 milhões teve 34 mil votos e nós, que não gastamos nem R$ 70 mil, tivemos R$ 51 mil votos. Campanhas milionárias não significam mais milhões de votos. A nossa campanha demonstrou que estar nas ruas com o povo, nas comunidades rurais, é importante, inclusive, para ganhar uma eleição e ter um mandato comprometido com as lutas.

Considerando o cenário atual, de golpe de Estado e crescimento da extrema direita, qual o principal desafio da sua atuação parlamentar?

O avanço da intolerância é um desafio que temos que enfrentar enquanto sociedade. Independentemente do resultado eleitoral, não podemos permitir que esse tipo de sentimento avance, principalmente entre os pobres. Precisamos recuperar a solidariedade entre os pobres, como buscar a unidade na diversidade, para superar esse clima de ódio e construir pautas importantes na sociedade. E como nós, na Assembleia, podemos levar as denúncias que precisam ser feitas, mas também as demandas da sociedade, principalmente dos que mais precisam das políticas públicas e dos recursos públicos. Por outro lado, nós, mulheres, podemos de forma criativa inovar a Assembleia em uma experiência mais coletiva, não individualizar, buscar somar e também mobilizar os outros partidos. Minha expectativa é de que vamos ter um bom diálogo com os mandatos da Beatriz Cerqueira, da Andréia de Jesus e da Marília Campos e aproximar todas as pessoas que querem uma nova política, para fazermos isso na nossa prática, no cotidiano da Assembleia.

Edição: Joana Tavares