Estamos no meio de um golpe e ainda em um momento eleitoral tão difícil
O dia 16 de outubro é o Dia Mundial da Alimentação celebrado em todo o mundo. Mas também era data bastante comemorada no Brasil nos anos em que os índices de fome só caíam. Eu queria aproveitar essa data para começar esta coluna aqui no Brasil de Fato, espaço de comunicação popular tão importante, nesta que também é a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, para falar sobre minhas experiências com os diversos lugares que já tive oportunidades de conhecer e estar. Mas também, para falar sobre minhas experiências com comida de rua, que é o melhor lugar pra saborear algo, mas também para conhecer gente e ouvir histórias.
Mas hoje, no atual momento que a gente vive, é muito difícil aproveitar essa data sem dar a ela o peso político que ela tem, ainda mais sobre as ameaças que nos assombram. Mas também sobre os retrocessos reais que temos vivido, sentido e visto ao nosso redor, do nosso lado, como a volta da fome, nos últimos pouco mais de dois anos. Não esqueçamos, estamos no meio de um golpe e ainda em um momento eleitoral tão difícil.
E de que lugar eu chego aqui pra dizer isso? Até hoje a minha mãe não acredita que eu não sou mais aquela menina que não gostava de comer. Acho que talvez fosse por, naquele momento, não entender o esforço que era pra ela, sozinha, colocar comida na mesa pra três filhos. A verdade é que eu cresci e vivi a juventude e início da vida adulta em um momento crescente do Brasil. Esse momento oportunizou, para muita gente, emprego, viagens, conhecer lugares e comida na mesa. Comida é também partilha, oportunidade de celebrar junto. Querem, mas não vão nos tirar isso da gente, não.
Por isso, não tenho como começar a escrever uma coluna que tem a ideia de ser um espaço de partilha sobre as delícias que a vida nos dá a partir das comidas que encontramos por aí, os lugares por onde a gente passa, e com eles as histórias de vidas que encontramos, sem lembrar a ameaça que vivemos à nossa democracia. Mas também reforçando a força de luta que o povo tem. Não tem nada que tenhamos conquistado nesse Brasil que não tenha sido através das lutas, da organização popular. Não tem!
Sábado que vem (20), por exemplo, milhares de agricultores e agricultoras da região semiárida do país, povo que coloca a comida na nossa mesa diariamente, organizados na Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), estarão em um grande ato político e cultural pela democracia, dizendo não a volta da fome. Lá em Petrolina, as margens do Rio São Francisco.
E esse é um povo que tem muita história pra contar, seja pela luta diária, seja pela cultura alimentar. Aí disso tudo a gente vai falar aqui, mas aí já é papo pra outro dia! Por agora, vamos pra rua conversar com as outras pessoas, vamos nos juntar pra fazer o Brasil ser feliz de novo.
Edição: Monyse Ravena