“Tomara que os brasileiros tenham consciência e votem em favor da democracia”. Esse é o desejo da cineasta Anna Muylaert, explicitado em entrevista à Rádio Brasil de Fato neste domingo (28) de eleições.
Embora preocupada com os rumos do país, Muylaert não se surpreende com o ódio que aflorou na sociedade. “Talvez seja o período mais complexo que a gente está vivendo, numa terra que sempre viveu da violência, desde a colonização, com a matança dos índios. A violência está no DNA do Brasil, e agora ela está surgindo de uma forma muito assustadora. Mas, não é uma surpresa que o Brasil trate mal os seus filhos”.
A cineasta valorizou o engajamento de muitos artistas no movimento “Vira Voto” -- ela mesma foi às ruas contribuir com a defesa da democracia, pedindo votos ao candidato à Presidência Fernando Haddad (PT). Questionada sobre o apoio recebido pelo adversário, Jair Bolsonaro (PSL), Muylaert ironizou a “parcela” desidratada da classe artística que adere ao discurso autoritário. “A 'parcela' é uma pessoa”, disse, em referência à atriz Regina Duarte, que declarou publicamente apoio a Bolsonaro.
PEC das Empregadas Domésticas
No filme “Que horas ela volta?” [Globofilmes, 2015], a diretora ilustra o acirramento da luta de classes, quando a filha de uma empregada doméstica é aprovada no vestibular de uma universidade pública, enquanto o filho da "patroa" é reprovado. “Essa luta se acirrou, e está muito violenta. Muita gente não gostou da PEC das Empregadas”, lembra a cineasta, ao falar sobre as novas tensões sociais produzidas a partir dos governos do PT, com a implementação de políticas públicas para a população negra e para as mulheres.
Muylaert considera que o empoderamento das mulheres ganhou dimensão mundial e que, naturalmente, produz reações contrárias, como a candidatura de Jair Bolsonaro, “É uma reação contrária à inclusão de mulheres, à inclusão de negros”, cita, ao falar dos ataques nas ruas.
Pulsões distintas
Presente nos atos em favor de Haddad, no Tuca, e em favor de Bolsonaro, na Avenida Paulista, a cineasta avalia que há duas campanhas opostas. “Uma [de Bolsonaro] é de vingança, ódio. Enquanto a [campanha] do Haddad é de celebração da própria existência. É quase uma pulsão de vida contra uma pulsão de morte”.
Quanto às declarações de ódio e ameaças do presidenciável do PSL contra os movimentos sociais, como MST e MTST, a cineasta vê um momento muito perigoso. “Que a gente possa ser uma nação onde o trabalho de inclusão seja o que vingue hoje nas urnas. Brasileiros, uni-vos”, se despede, otimista com o resultado das eleições presidenciais.
Edição: Cecília Figueiredo