Resistência

Movimentos debatem criação de frente ampla pela democracia

Em Curitiba, setores da esquerda debateram desafios para resistência ao governo Bolsonaro 

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Ato pela democracia e pela liberdade de Lula em São Bernardo
Ato pela democracia e pela liberdade de Lula em São Bernardo - Foto: Ricardo Stuckert

No domingo das eleições presidenciais, dia 28 de outubro, pela primeira vez, a maioria dos eleitores brasileiros escolheu um projeto de extrema direita nas urnas. E logo após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), partidos e movimentos de esquerda iniciaram uma série de reuniões para traçar estratégias de resistência às ameaças de retirada de direitos, representadas pelo capitão da reserva. 

Na avaliação do presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) do Paraná, Dr. Rosinha, a esquerda tem dois grandes desafios em termos de organização e comunicação. Rosinha entende que a disseminação de notícias falsas, que foi a base da campanha de Bolsonaro, fez com que a população acreditasse na narrativa de que o capitão representaria um avanço para a sociedade. 

“O primeiro desafio é fazer a organização de uma ampla frente da esquerda com o alcance aos setores democráticos da sociedade. Segundo é ganhar a narrativa política que nós perdemos, [mostrar] que esse capitão é incompetente e vai retirar todos os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras e vai entregar o Brasil”, diz. 

Membros do PT do Paraná e de outros partidos e movimentos de esquerda, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), PCdoB e PSOL fizeram uma plenária suprapartidária em defesa da democracia, na noite desta quarta (31), na sede do PT-PR, em Curitiba. Foi consenso a necessidade de criação de uma frente ampla envolvendo os setores democráticos do país, que paute uma agenda de lutas comum. 

“Em conjunto, a resistência vai acontecer. Nós fizemos quase a metade dos votos. As centrais sindicais estão de pé, o movimento estudantil está se reerguendo, os professores estão se organizando, as forças democráticas estão de pé. Nós vamos ter que estar unidos, impulsionando as forças para lutar pela liberdade e por mais direitos”, afirmou Ângelo Vanhoni, secretário-geral do PT Paraná.

Vanhoni pondera, no entanto, que neste primeiro momento pós-eleições os partidos e movimentos ainda estão produzindo suas análises e seus balanços de campanha. As estratégias concretas de ação devem ser produzidas após a maturação das ideias elaboradas a partir dessas análises.

Mulheres como potência

As eleições de 2018 foram marcadas também por uma das maiores mobilizações da história do país contra um candidato a presidente. Surgidos a partir da organização de mulheres nas redes sociais, os atos #EleNão, contrários a Jair Bolsonaro, levaram milhões de pessoas às ruas de diferentes estados do país, às vésperas do primeiro turno das eleições. 

Para Ellyng Kenya, militante da Marcha Mundial de Mulheres do Paraná, a dimensão dos atos mostrou ser necessário que os partidos e movimentos de esquerda valorizem a capacidade de mobilização das mulheres. Ela lembra que também foram as mulheres que pautaram o “Fora Cunha”, em 2015, denunciando o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e anunciando o golpe de Estado que se iniciava no Brasil. 

“Muitas vezes, por conta de não atualizarmos o nosso pensamento marxista, muitos homens ainda enxergam a pauta das mulheres como algo que divide a luta de classes, quando é o contrário. A gente só fortalece a luta e não é à toa que por conta disso as mulheres foram para rua e conseguiram fazer a resistência”, afirma.

Edição: Diego Sartorato