A Igreja Internacional da Graça de Deus foi fundada pelo missionário Romildo R. Soares, no Rio de Janeiro, em 1980, e teve grande expansão por conta do talento midiático e a oratória do seu fundador. Nas eleições de 2018, o religioso declarou apoio e pediu votos a Jair Bolsonaro, presidente eleito pelo PSL, assim como fizeram Edir Macedo (Universal), Silas Malafaia (Vitória em Cristo) e Valdomiro Santiago (Mundial).
O apoio dessas lideranças ajudou a alavancar a votação do candidato de extrema direita na disputa do segundo turno contra Fernando Haddad (PT).
O Brasil de Fato esteve na sede da Igreja Internacional da Graça de Deus, na avenida São João, em São Paulo, para acompanhar o culto e as interações sobre política brasileira no primeiro domingo pós-votação.
No salão de entrada, antes de começar o culto os grupos de fiéis se juntam por afinidade de parentesco e amizade, os novatos têm certa dificuldade para se entrosar. As conversas giram em torno de amenidades e o horário de verão que desnorteou um pouco a vida dos fiéis.
Duas senhoras, na casa dos 60 anos, perguntadas diretamente sobre as eleições disseram que votaram no Bolsonaro. A justificativa, para ambas, era que ele tem uma religiosidade forte e fé em Deus. Para tentar aprofundar o assunto, o Brasil de Fato questionou sobre a opção política dos pastores e do missionário R.R. Soares. Com sorrisos nos rostos, elas disseram que sabiam que os pastores também votaram em Bolsonaro, porém, as escolhas delas não foram por influência da igreja e que a solução para a política é a oração.
A conversa curta foi cortada porque faltavam poucos minutos para começar o culto com o pastor Jayme de Amorim, o braço direito do R.R. Soares.
Em um vídeo publicado no dia 6 de outubro, na página da Direita Cristã, R.R. Soares foi mais direto ainda na defesa de Bolsonaro e suas ideias homofóbicas. “Examinei os dois projetos e achei o do Bolsonaro o melhor, principalmente, por causa da ideologia de gênero. Estão tentando convencer que meninos podem ser meninas e que meninas podem ser meninos. Isso é uma loucura”, diz o religioso no vídeo, citando uma proposta inexistente no programa do PT.
Na quarta-feira, após a vitória de Bolsonaro, o missionário fez um outro post dizendo “a misericórdia do Altíssimo foi derramada sobre nós ricamente” e “quem não aceita o plano divino, não terá outro para crer e se salvar”.
A mensagem de que foi feita a vontade de Deus se repetiu diversas vezes durante o culto deste domingo. O pastor Jayme de Amorim deu várias exemplos em que a vontade de Deus pareceu ser “loucura”, mas foi seguida fielmente e sempre deu bons resultados.
As duas referências diretas à situação política do Brasil foram feitas já no final, durante o recolhimento do dízimo. O pastor estava falando sobre a vida eterna no paraíso e entrou no assunto da idade. Ele contou que já estava aposentado. “Somando a idade e o tempo de trabalho já dá mais de cem, então fui e me aposentei. Quem sabe o que vai acontecer com as mudanças que estão vindo por aí. É como dizem, né, o meu pirão primeiro”, concluiu tirando risos da platéia.
Atualmente, para poder se aposentar pelo INSS, no caso dos homens, é preciso comprovar no mínimo 35 anos de contribuição à Previdência e a soma da idade e do tempo de contribuição precisa ser superior a 95. Tanto Michel Temer como Jair Bolsonaro têm planos para mexer nas regras da aposentadoria.
Um minuto depois, o pastor Jayme fez uma curta reflexão política: “A situação no Brasil do jeito que está. É preciso orar”.
Por duas vezes, durante a oração de pedido de graças, o pastor citou o “homossexualismo” como um dos males que precisam de cura, ao lado da depressão e da rebeldia dos jovens que passam muito tempo no mundo virtual.
Bíblia e democracia
Na quarta-feira, dia 31 de outubro, foi lançada em São Paulo a campanha 40 Dias de oração e serviço pelos direitos humanos, que integra o projeto Usina de Valores, do Instituto Vladmir Herzog, que prevê a realização de diversos eventos até o dia 10 de dezembro.
O objetivo é promover a relação da Bíblia com a democracia e a defesa dos Direitos Humanos. De acordo com Ronilso Pacheco, da Comunidade Batista, em São Gonçalo (RJ), a relação dos pastores com os fiéis é fundamentada na confiança. "Quando falta um dinheiro para completar o valor do botijão de gás, quando precisa levar alguém ao médico com urgência, por exemplo, é o pastor que ajuda. Então, a palavra do pastor tem um peso grande. É uma confiança construída ao longo de anos", disse.
Edição: Tayguara Ribeiro