A organização e a união na luta por moradia digna das 478 famílias que vivem na ocupação do Prédio Prestes Maia, na região central de São Paulo, foram fundamentais para que o incêndio ocorrido na quarta-feira (21), não se tornasse uma grande tragédia.
O fogo começou por volta das 21h em um dos apartamentos do 6º andar do Bloco A, logo depois que soou o alarme, os membros da brigada de incêndio, formada por cerca de 30 moradores, ajudaram na evacuação do imóvel e deram início ao combate ao fogo.
“Pegamos os extintores de todos os blocos e fomos para cima”, disse João Batista do Nascimento, coordenador do MMLJ (Movimento de Moradia Luta por Justiça).
Por conta da ação dos brigadistas, o fogo não se espalhou para outros andares e quando os bombeiros chegaram foi mais fácil controlar as chamas. Ficaram destruídos 12 dos 14 apartamentos do andar.
O treinamento dos brigadistas foi feito pela bombeira civil Ana Flores, há cerca de três meses. Foi feita inclusive uma simulação com a evacuação do prédio.
“Estamos aqui firmes e fortes por causa da brigada de incêndio. Graças a Deus estão todos com saúde. As famílias perderam muitas coisas, mas a vida foi preservada. As únicas mortes foram um cachorro e um gato. A dona saiu e os bichinhos voltaram. A gente não deixou ela ir atrás deles porque estava perigoso”, disse Nascimento, ressaltando que ninguém da ocupação se feriu no incidente.
Na ocupação Prestes Maia, há um coordenador por andar que é responsável pela fiscalização, manutenção do imóvel e lavagem diária. Ao todo, são dois blocos de 21 andares.
Uma vez por semana, o prédio todo é lavado por um mutirão. “É a nossa casa. Então precisa ser bem cuidada”, disse Nascimento.
Ajuda
Todos os andares do Bloco A, onde moravam 90 famílias, tiveram que ser desocupados. Foi montado um acampamento provisório no pátio da ocupação com colchonetes e uma cozinha comunitária que funciona sem parar, 24 horas por dia.
“Aqui a gente vive em solidariedade constante. Estamos juntos”, disse Júlia Silva Lima, responsável pela cozinha coletiva onde são preparadas cerca de 100 refeições por turno.
A ocupação está recebendo doações de alimentos não perecíveis, roupas, brinquedos e móveis. Essas doações podem ser entregues, a qualquer hora do dia ou da noite, na ocupação Mauá, que fica na rua Mauá, 340.
O prédio da Prestes Maia, que já foi a sede de uma empresa de tecelagem, ficou fechado por décadas acumulando lixo e animais transmissores de doenças. Agora, após uma negociação com o governo, o prédio será reformado para uma função social e serão entregues 230 apartamentos. A reforma deve terminar até abril de 2019.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira