Por Vivian Fernandes
Do Chocó (Colômbia)
“Faço parte do Exército de Libertação Nacional (ELN), da Frente Guerrilheira Ernesto Che Guevara”. Assim inicia sua apresentação Yesenia, mulher negra de porte alto e magro, passo firme e sorriso abundante que alcança seus olhos, que sorriem junto.
Sempre acompanhada de Coronel, cachorro grande e branco, recuperado do Exército colombiano, ela é nossa primeira entrevistada, agora com gravador e câmera autorizados, nesse território guerrilheiro no departamento do Chocó.
Ela conta que entrou para a guerrilha no início de sua juventude, hoje aparenta ter por volta de 35 anos. No início, o que a motivou foi a beleza do grupo, que em armas e uniformes caminhavam juntos. De poucas palavras, ela não dá mais detalhes. “Isso foi o que aconteceu”.
Aos poucos, ela conta, vão aprendendo a ideologia, os valores e os “muitos motivos que os fazem continuar esta luta”, como a desigualdade social que atravessa a Colômbia.
Sobre os valores, ela cita: “A honestidade, a solidariedade, a disciplina, ser crítico... Todos esses valores nós inculcamos em todos os garotos. É um se preocupar com o outro companheiro”.
E a disciplina se mostra cotidiana. Acordam às 4h45 da madrugada, se preparam para a conferência da tropa, entoam o hino do ELN e começam os treinamentos físicos. A pausa para o café da manhã é às 8h, e depois voltam a treinar, finalizando para o almoço.
Após um breve descanso, a formação de manejo de armas, aprender a montar e desmontar o fuzil e movimentos de marcha são realizados ao longo de duas horas. O jantar é cedo, ainda com o dia claro.
Além do treinamento físico, há a formação política, com início após o jantar, e a limpeza das vasilhas e panelas. Em aulas ou rodas de discussão, eles conversam sobre a história do ELN, leem notícias e falam de outros temas. “Às oito da noite todo mundo vai dormir, até o outro dia”, descreve Yesenia.
Fora a rotina mantida por toda a tropa, há grupos que revezam a guarda dos acampamentos, de dia e de noite. Tudo cronometrado e bem definido. As tarefas também são divididas igualmente, como as de plantio, cozinha e limpeza.
O trabalho nesse território não é só interno. Os guerrilheiros também contribuem com as comunidades. “A partir do mais básico da região. Ajudar as pessoas a realizarem os trabalhos comunitários, para que trabalhem em comunidade. E trabalhamos com eles”, relata Yesenia. Seja em construir casas, criar espaços de convívio e de cuidado geral, bem como com o zelo em cumprir as regras gerais estabelecidas pelos próprios moradores.
Assim como Yesenia, a guerrilheira Yadira – que também tem um sorriso fácil e leve, o qual mescla com postura firme e séria –, nos conta da atuação do ELN com a população local. “É muito bom ajudar as comunidades com o trabalho, com as coisas cotidianas”.
Com as mulheres, Yadira se orgulha em realizar um trabalho especial, para que “saiam dessa vida submissa, na qual têm que se dedicar aos seus maridos, ao que o homem diga”. Ainda que o feminismo não seja uma questão presente nesses termos na frente guerrilheira, Yesenia define: “Aqui dizemos que somos uma organização de igualdade”.
Mas essa não é a imagem com a qual o ELN é retratado na mídia colombiana ou internacional. E sobre isso pergunto a Yadira. “As notícias dizem muitas coisas, muitas coisas que não são assim. ‘Como maltratam os camponeses, forçando comunidades’. São mentiras. Quando alguém chega [em uma comunidade], se identifica, conversa com eles. Não se obriga ninguém a nada do que não quer fazer”, expõe a guerrilheira, com um misto de tristeza e incômodo na voz.
Pessoalidades
Em uma das palafitas pelas quais passamos, uma mãe nina sua bebê enquanto balança numa rede. Sem farda, ela veste um vestido de alças, a tarde era quente e úmida. A neném, com cerca de seis meses, veste apenas fralda e uma fita vermelha amarrada no pulso.
Uma de nossas companheiras de viagem pergunta o porquê da fita. “Proteção”, responde a mãe. O marxismo, que marca a tradição do ELN, se mescla com crenças pessoais e religiosas. Algo que não surpreende. Na tradição da guerrilha estão figuras emblemáticas como a dos padres Camilo Torres Restrepo e Manuel Pérez Martínez, o Cura Pérez.
Ali também há espaço para as individualidades. Ainda que a farda militar seja o uniforme, e os símbolos do ELN a identidade e a mística coletivas, cada um veste adornos que demonstram a forma que identificam sua beleza e vaidade. As moças fazem tranças, usam presilhas e laços nos cabelos. Os rapazes variam nos penteados e boinas.
Para além dos adornos que os embelezam, Yadira nos explica o que ela carrega durante as marchas. “Tenho o meu fuzil, meu colete, minha pistola, meu equipamento – vajilla [uma espécie de estojo com canivete e talheres], coberta, rede, barraca de caça. Essas são as coisas básicas que carrega um guerrilheiro.”
Nas armas, pistolas ou punhais, também há enfeites e bordados. Do cenário marcado pelo verde, marrom e preto, as demais cores aparecem nos detalhes.
Ainda no campo das pessoalidades, perguntamos a Yadira como se constroem as relações amorosas no interior da guerrilha. E para isso também há regras.
“Aqui se alguém quer ficar de casal, inicia um namoro. São três meses que se dá a essas duas pessoas para ver se ficam juntas ou se se separam. Se passa esses três meses, conversam com os companheiros e se oficializam como casal. Com três anos de estabilidade, tem a permissão para ter filhos, se é um casal estável.”
Fora das câmeras, em conversas em meio a caminhadas e refeições, outros muchachos nos contam que os filhos dos guerrilheiros e a sua relação com a guerrilha são fontes de preocupação. Entre elas está a educação, já que há tanto uma escassez de escolas nas zonas rurais quanto um constante deslocamento territorial que dificulta a permanência no ensino formal.
A solução seria que militantes de atuação civil pudessem ser os professores na região, ou seja, se dispusessem a passar um ciclo escolar no acampamento, onde poderiam ensinar não só crianças e adolescentes, mas também os adultos das comunidades.
Segundo a Defensoria do Povo, no relatório “A crise humanitária em Chocó”, de 2014, a taxa de analfabetismo no departamento onde atua essa frente de guerra é de 20,9%, duas vezes e meia mais do que o índice nacional. No Brasil, o estado com a maior taxa de não alfabetizados é o Maranhão, com 16,7%.
Outra das histórias compartilhadas é a de um natal em que os filhos dos guerrilheiros puderam passar as festividades junto aos seus pais, em um local seguro no campo. Nos contam que nesse encontro havia desde crianças até adolescentes, alguns com um distanciamento ou um rancor em relação ao seu pai, pelo tempo de afastamento em função da dedicação à guerrilha.
O começo da confraternização foi um pouco distante, desconcertante. Mas foi só acontecer uma animada partida de futebol entre eles para que os risos e abraços começassem a surgir. Na despedida, os choros tomaram conta, dar um até breve dolorido ou um adeus eterno a quem se ama.
Para conhecer mais sobre os sentidos de felicidade e tristeza que acometem os guerrilheiros, indagamos nosso terceiro entrevistado, Emerson Alírio Martínez, “orgulhosamente ‘eleno’, com cédula de identidade vermelha e negra e impressões digitais que se escrevem com três letras brancas, como símbolo de paz com justiça social”. "Eleno" é a forma como são chamados os membros do ELN.
Com a câmera ligada, às primeiras perguntas ele responde em tom de oratória planejada. Quando questionado sobre o momento mais difícil que ele havia passado na guerrilha, parece que a lembrança amolece o tom de voz.
“Eu fui ferido em combate duas vezes. Acredito que esse foi um dos momentos mais difíceis. Porque foi um ano e meio que estive fora da organização, em recuperação, com a perna destroçada de bala. Mas, igual, nada é impossível que não se possa superar.”
Estar longe da guerrilha é o que mais lhe impacta. Não é só um dever de estar em luta, mas a ausência de estar entre os seus. “Eu não me adapto facilmente em estar fora da organização, da frente [guerrilheira], dos companheiros, da família, porque aqui construímos como se fosse um núcleo familiar, no qual todos sentimos falta, como se fossemos irmãos de sangue”, compartilha.
E o mais feliz? “Acredito que foi o momento em que conheci meu bebê, o único que tenho até o momento. E outro quando minha família me visitou pela primeira vez. Eu fiquei sete anos sem comunicação com eles, sem saber de nenhum familiar. Mas, bem, são esses momentos que sempre tenho como lembrança em meu coração”.
Entre duas famílias. Esse parece ser o sentimento que cerca Emerson, e possivelmente o de outros muchachos por ali. Como explicar aos pais ou familiares a opção por dedicar a própria vida para uma causa, a da libertação popular?
“A ver, hombre. Sempre os familiares ou as mães, muitos não estão de acordo com que seus filhos estejam diretamente no conflito. Se não há essa politização e que se deem conta de que é um dever se unir e lutar pelo que se quer, sempre buscam, em algum momento, [questionar] ‘por que não volta’ e ‘existem outras formas que não se matando’”.
Mas a resposta para Emerson é “não”, pois esse é o caminho em que acredita. Entre seguir “explorado por um patrão, viver endividado sempre, não ter nada, viver de forma mais precária que na insurgência, pois, [a pessoa] vai querer continuar arriscando o que for. E também tem a convicção ideológica”.
Emerson completa: “É de conhecimento geral que é a pobreza, a precariedade da vida, o que leva alguém a tomar a decisão de pertencer a um grupo armado”.
Zona de guerra
A Frente Ocidental - Omar Gómez é uma das nove frentes de guerra do Exército de Libertação Nacional, que tem atuação em todo o país, incluindo as cidades, com a Frente de Guerra Urbana.
Dentro destas, há as Frentes Guerrilheiras, com o objetivo de construir poder popular a partir dos territórios. A que visitamos é a Frente Guerrilheira Ernesto Che Guevara. Camisetas e fitas coloridas de amarrar nos braços, com frases revolucionárias, marcam a identificação desse grupo, composto majoritariamente por jovens.
Também há as Companhias, que não têm territorialidade, mas são grupos especiais de guerra; e as equipes especializadas que atuam em áreas como saúde, logística e tecnologia.
De estrutura federada, com certa autonomia em cada frente, o ELN possui um Comando Central composto por cinco membros. Entre eles, estão Nicolás Rodríguez Bautista ("Gabino"), responsável político e militar; e Israel Ramírez (“Pablo Beltrán”), chefe da delegação do ELN nas Mesas de Diálogo de Paz com o governo colombiano.
Com atuação no Chocó, departamento mais pobre da Colômbia, está a Frente de Guerra Ocidental. O seu nome homenageia Omar Darío Gómez (“Alejandro”), que caiu em combate em 2016, nessa localidade. Com mais de 30 anos de atuação no ELN, ele era o terceiro no comando desta Frente.
Com vegetação densa e sistema de transporte feito por meio de lanchas e canoas, Yesenia, uma das guerrilheiras entrevistadas no Chocó, nos conta que ali os ataques do Exército do país vêm principalmente pelos ares.
“Agora a modalidade são bombardeios de helicóptero, que o Exército atira em nós a qualquer momento. As bombas podem vir de dia ou de noite. Nesta zona, dizem que é muito difícil chegar por terra, um assalto no acampamento, mas também podem fazer. E é por isso que, todo o tempo, estamos em vigilância”.
A cada ruído de motor de lancha, os pescoços se esticam para olhar quem passa. Um movimento quase natural de cada guerrilheiro. Os sentidos estão sempre aguçados.
Os inimigos, além do Exército oficial do país, são os paramilitares, que atuam de maneira clandestina, como civis, e que têm o respaldo da polícia e do Exército, como caracterizam os guerrilheiros em umas das rodas de conversa que fomos convidados a participar no acampamento.
“Paramilitarismo é uma política de Estado para conter a insurgência. E continuam fazendo do terror a sua atuação”, disse um dos membros do ELN, em uma das noites de nossa visita. Em uma conversa junto a dezenas de membros da Frente de Guerra, já na total escuridão noturna da selva, eles nos contavam suas avaliações, em off, do conflito armado no país.
Estar entre guerrilheiros, com fuzis a tiracolo, poderia parecer uma situação desconfortável e intimidadora. Mas estar ali era uma sensação de serenidade. Não parecia, mas estávamos em uma zona de guerra.
Por que seguir em armas?
A opção pela via armada para a revolução não é uma escolha fácil. Além de abandonar a vida civil, família e casa, os guerrilheiros têm que se confrontar com uma série de desafios cotidianos.
A estrutura dos acampamentos é transitória, por isso, não há mais do que simples edificações de palafitas, sem água encanada, fossas ou mesmo colchões onde dormir. Os utensílios domésticos são simples. O suficiente para garantir um mínimo bem estar.
As mortes não são histórias. Elas acontecem. E a convicção de que a luta é maior, pela libertação do povo, os faz continuar. “E isso é o que me dá coragem, quando acontece algo, quando matam a um companheiro”, relata Yesenia.
“Quando [nos] matam, dizem ‘baixa de um guerrilheiro’, e quando morre um soldado, ‘assassinaram a um soldado’. E isso é muito doloroso. Somos todos filhos de camponeses, todos somos seres humanos. Pelo fato de estarmos armados lutando pelos ideais da classe pobre, não significa que sejamos menos do que os soldados que estão lutando pela oligarquia. Os soldados que estão lutando pela oligarquia são filhos de camponeses igual a nós. Então, isso é muito doloroso, é muito forte”, fala a guerrilheira.
Para Emerson, uma das lideranças da Frente Guerrilheira Che Guevara, o que levou a Colômbia ao conflito político, social e armado, que já dura mais de 50 anos, “são as mesmas linhas que o Estado colombiano se negou a pôr em discussão nas Mesas de Diálogo com as FARC, que assinou o Acordo de Paz de Havana, como na mesa que vem desenvolvendo com o ELN. [O Estado] não discute o modelo econômico, político, social, da propriedade privada e tampouco o regime militar”.
Sem essas discussões, ele acredita, “não vai haver mudança dentro das políticas que guiam o país, e não vai haver solução para se buscar uma equidade social”.
E com a convicção e a esperança de que é possível mudar a realidade desigual da Colômbia e da América Latina, eles ainda seguem em armas. “Sempre quando exista opressão, vai seguir havendo resistência. Ou seja, a mensagem para o povo colombiano e do nosso continente é que temos que fazer a luta de diferentes formas, nos unirmos, e juntos combater a oligarquia e o imperialismo”, finaliza o insurgente.
Como principal referência política e militar da Frente de Guerra Ocidental, Comandante Uriel nos brinda com a última entrevista. Figura mais marcante do ELN nas redes sociais, quando sempre aparece com um chapéu e um lenço vermelho e negro onde só se permite ver seus olhos, entre nós, no interior do acampamento, ele sempre está de rosto descoberto e com feições alegres. Para a entrevista em vídeo, novamente cobre o rosto.
Assim como já nos falaram outros combatentes, Uriel defende que a luta armada é uma experiência histórica revolucionária, um acumulado de trabalho político-organizativo com as comunidades. Nesse sentido, “o ELN é um patrimônio não só do povo colombiano, mas de toda a América Latina”. Não o único, para ele, há uma série de expressões de movimentos populares na Colômbia e em diversos países.
“Respeitamos os caminhos que outras organizações, outros processos, decidam como prioritários neste momento. No ELN também estamos fazendo esforços a partir de outros cenários, não só no âmbito armado. Mas consideramos necessário manter essa semente de luta armada revolucionária, de resistência armada e popular. Porque se não é agora, vai ser prioritária em outros momentos”.
Com uma leitura de processo para “transformar o mundo e construir algo diferente”, que tenha como base a organização popular e a unidade, ele aponta que “o imperialismo não vai cair sozinho. É com uma forte resistência popular que vamos acabar com ele”.
“Os esforços que cada um, que cada organização está fazendo para transformar o mundo vale, conta. Da mesma forma, espero que valorizem o esforço que está fazendo o ELN para ajudar a construir esse mundo diferente. Dizem que no socialismo ou entramos todos ou não entra ninguém. E como diz a minha camiseta: lutar pelo socialismo é lutar pela humanidade”.
Apesar de estar em meio à selva densa do Chocó, sua intenção é não isolar a guerrilha. Para isso, lança mão de ferramentas de tecnologia e comunicação. “Nossa tarefa é não ficarmos calados. Por todas as vias possíveis temos que fazer agitação e propaganda, levar a mensagem revolucionária”.
E com base em algo como solidariedade e irmandade, ele, diante das câmeras, parece buscar enviar uma mensagem aos movimentos e militantes populares para que não os deixem sós.
“Aqui estamos para todos, e assim esperamos que muitos estejam para nós. São bem-vindos. Todos que queiram vir para contribuir, aprender o que podemos ensinar, e que fortaleçamos nossos laços. Vejam em nós uma oportunidade de laboratório, de amigos incondicionais, de aliados, de companheiros de luta”.
Espontâneo nas conversas cotidianas, faz perguntas sobre a realidade brasileira, as notícias de outras partes do mundo, nossas opiniões. Não apenas sobre política, sempre surgem à tona temas como história, tecnologia, livros, séries e filmes, música – sua predileção é pelo rap, que cantarola vez ou outra.
A receptividade e a atenção com que fomos recebidos em território “eleno”, Comandante Uriel pede, por meio de nós, que cheguem a outras partes.
Um microchip com mais informações foi um dos regalos de despedida de Uriel e Lucía, sua companheira, junto a fitas de cetim coloridas com mensagens de Che Guevara, camisetas e outros adornos que marcam a identidade daqueles guerrilheiros.
Nas pastas do cartão digital estavam comunicados, vídeos, fotos, materiais jornalísticos e toda a sorte de arquivo que Comandante Uriel reuniu ao longo dos últimos anos.
Entre tantas coisas, as músicas me fizeram recordar do que eram os dias entre eles. Distintas versões da canção Hasta, siempre, em homenagem a Che Guevara, eram as mais tocadas nos momentos de descanso, em especial as versões no ritmo de rap.
Mas aquela que me fez sentir de volta à selva e ao convívio daqueles muchachos e muchachas era uma que trazia em sua letra frases de Mario Benedetti no poema “Hombre que mira al cielo”.
Na nova versão, se canta: “Y que el dolor no nos apague la rabia, la fuerza, la alegría, la vida, la pasión. Que los asesinos del pueblo se marchen. Hagamos de nuevo el amor y la revolución”. Trecho da música Del Amor Y La Lucha, de Mentenguerra.
Na casa cheia, com abraços rápidos me despedi. Foram poucos dias, com uma carga intensa de emoções e aprendizagens. Olhava nos olhos e dizia adeus. Sabia que não voltaria a vê-los.
No trajeto de lancha no Rio San Juan parece que eu começava a entender o que me tinha passado. Olhando ao redor, o barulho cortante do motor e do vento pelos ouvidos, uma cumbia local pelo rádio, voltei a olhar fixamente as palafitas e os rostos pelos quais passava.
Indígenas, negros, crianças, idosos, famílias, em suas atividades cotidianas de lavar roupas, tomar banho e brincar no rio. O olhar fixo que eu lhes lançava, eles me lançavam de volta. Olhos marejados embaçaram a vista. Entendi o que significava toda aquela luta.
Um grupo de borboletas amarelas começa a voar em círculos em uma das paradas. Sorri. Era mesmo a Colômbia profunda.
FICHA TÉCNICA
Reportagem: Vivian Fernandes || Edição: Luiza Mançano || Fotos e vídeos: Gustavo e Jorge || Artes gráficas: Fernando Bertolo e Lucas Milagres