O desastre ambiental com o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco, na cidade de Mariana (MG), que aconteceu há mais de 1.100 dias, acabou com a fonte de renda de centenas de trabalhadores que tiravam o sustento de pequenos garimpos às margens da bacia do Rio Doce.
Passados mais de três anos do vazamento, os garimpeiros não receberam nem mesmo a indenização pelos equipamentos perdidos. Em alguns trechos, a área onde ficava o garimpo está soterrada por mais de 50 metros de lama.
“Eles não me deram nada. Não me ajudaram até hoje. Perdi a renda da minha família. Uma ponte foi embora comigo saindo dela. A lama começou a me arrastar. Nasci de novo”, disse o garimpeiro Vanildo da Silva, de 45 anos, um dos milhares de trabalhadores que teve impacto direto com o crime cometido pela empresa pertencente às multinacionais Vale e BHP Billiton.
No dia do desastre, Vanildo estava trabalhando no garimpo em Ponte do Gama. Um dos companheiros dele, que estava mergulhando no fundo do rio, só sobreviveu porque se segurou em um cipó.
Segundo Vanildo, antes do desastre a renda de um garimpeiro podia chegar a R$ 3.500 por semana com a extração do ouro. Agora é impossível chegar na área da mineração. Todos os equipamentos e o maquinário da equipe dele ficaram soterrados pelos rejeitos da Samarco.
O garimpeiro relembra o desespero que viveu há três anos sem saber o que tinha acontecido com os seus companheiros.
“Eu fui atrás para socorrer. Eles estavam lá, frente a frente com ela [a lama do rejeito] e eu também fiquei. No desespero, uma mãe, de um deles, me ligando perguntando ‘cadê meu filho?’ Eu falava para ela: ‘O que eu posso pedir para você agora é orar, pedir a Deus’. Porque para mim estavam todos mortos”, conta o garimpeiro.
Felizmente, nenhum dos amigos de Vanildo morreu, mas a vida deles teve uma mudança radical sem a indenização ou qualquer ação de reparação.
A Fundação Renova, instituição criada pela Samarco, afirma em seu site que destinou R$ 4,7 bilhões para ações de reparação e compensações. Também diz que já recuperou mil nascentes na bacia do Rio Doce, entre as cinco mil que serão recuperadas em um prazo de dez anos.
Em nota, a Diocese de Colatina (ES) que tem denunciado desde o início os impactos do crime ambiental, afirmou que "o processo de reparação integral acordado entre governos e empresas por meio do termo de ajuste de conduta (TTAC) vem sendo sistematicamente descumprido pela Fundação Renova".
Ao se completarem 3 anos do rompimento da barragem, no dia 5 de novembro, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) divulgou nota denunciando que a Fundação Renova registrou apenas 300 mil atingidos, “mais de 1 milhão ficarão sem reconhecimento. 70% das mulheres cadastradas não obtiveram resposta alguma, 17 aldeias, quatro territórios e três povos, um total de 3.540 indígenas atingidos”. “São oito municípios, totalizando 633.373 habitantes abastecidos com água contaminada, a pesca está proibida em toda Bacia e em parte do litoral sem previsão de retorno. Milhares de trabalhadores da rede de pesca estão sem trabalho”, conclui o MAB na denúncia.
Edição: Mauro Ramos