Plantões de atendimento médico, aulões pré-vestibular, mutirão de transcidadania, grafitagem de muros, reconstrução de praças, campeonatos de futebol e criação de bibliotecas populares. Essas foram algumas das muitas atividades realizadas na "Semana Nós por Nós", ciclo de atividades organizado pelo Levante Popular da Juventude.
A 4ª edição foi realizada dos dias 24 a 4 de dezembro em periferias de mais de 70 cidades, em 19 estados do Brasil.
Rafael Roxo Rodrigues, que integra a Coordenação Nacional do Levante, explica que toda a organização se mobiliza para a semana: "A gente faz um giro de todo o nosso movimento, pra atuar nas comunidades em que o Levante tem inserção ou contatos. O mote da semana é 'Se eles lá não fazem nada, nós fazemos por aqui', mostrando que juntos a gente consegue fazer com que o nosso bairro seja melhor pra nós".
Para Adrielly Regis, estudante de enfermagem e integrante do Levante em Aracaju (SE), a Semana Nós por Nós representa solidariedade e cidadania: "O objetivo dela é que a gente esteja na periferia denunciando a ausência de políticas públicas e do Estado", diz. "A gente precisa dar nome aos responsáveis pela precarização da saúde, da educação, pela ausência de segurança, moradia, e tantos outros problemas que estão presentes em todas as periferias do Brasil".
Envolvendo a comunidade
Regis conta que em Porto Dantas, uma periferia da Zona Norte de Aracaju, a construção das atividades se iniciou numa escola, e os próprios jovens de lá - que não são organizados no Levante - fizeram propostas para a Semana, como um campeonato de skate e shows de artistas da comunidade para se apresentarem: "a gente consegue envolver as pessoas a ponto de eles serem parte da Semana, e posteriormente conseguimos debater política, elevar o nível de consciência dessa juventude e apontar a importância de estar organizado".
Na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre (RS), onde a Semana já acontece desde 2015, as atividades são esperadas pela população local: "a comunidade já entende essa relação e cola com a gente, dando sugestão: 'esse ano temos que mudar a quadra, pintar o muro da escola'", conta Rafael.
"Realidade Constante"
Parte dos objetivos da Nós por Nós é proporcionar espaços em que os moradores das periferias do país possam debater coletivamente os problemas que afetam o mundo que os cerca.
"Em uma das periferias, durante a realização da semana, houve a morte de três jovens negros, o que é uma realidade constante nesse território. Então o saldo é poder debater as causas da violência e denunciar o racismo e a criminalização da pobreza", comenta a Adrielly.
Para Rafael, o balanço é positivo, mas é preciso que a semana ainda cresça: "a gente esteve em mais de 100 periferias e cumpriu nosso objetivo de transformação social, mudança real do território, mas ainda não estamos nos vinte e sete estados. Esse é o nosso parâmetro".
Edição: Mauro Ramos