O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) divulgou hoje (9) em suas redes sociais a escolha de Ricardo Salles para comandar o combalido Ministério do Meio Ambiente (MMA). Ex-diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e militante de extrema direita, Salles é responsável pela consolidação do desmonte do setor no estado de São Paulo, onde foi secretário do então governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Além de trabalhar contra os institutos de pesquisa e tentar ganhar vantagens com a negociação de imóveis estaduais, alterou de maneira ilegal o plano de manejo de uma área de proteção ambiental Várzea do Tietê para beneficiar empresários ligados à Fiesp. Em maio de 2017, o Ministério Público Estadual ajuizou uma ação civil pública ambiental e de improbidade contra Salles.
"É o homem certo no lugar certo. O presidente eleito, afinal, já deixou claro que enxerga a agenda ambiental como entrave e que pretende desmontar o Sistema Nacional de Meio Ambiente para, nas palavras dele, 'tirar o Estado do cangote de quem produz'. Nada mais adequado do que confiar a tarefa a alguém que pensa e age da mesma forma", lamentou em nota a coordenação do Observatório do Clima, uma rede brasileira de ONGs e movimentos sociais sobre mudanças climáticas.
Ainda segundo a nota, a indicação de um réu por improbidade administrativa para o primeiro escalão do governo é outra contradição que deixa o futuro ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro, em saia justa.
O futuro ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni e deputado federal (DEM-RS) admitiu ter recebido caixa 2 da JBS para sua campanha. Mesmo assim, Moro afirmou ter confiança no homem forte de Bolsonaro e foi duramente criticado.
Mas, segundo o magistrado que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um processo sem provas e chegou a declarar que caixa 2 é crime mais grave que corrupção, Lorenzoni pediu desculpa. É possível que Salles também se desculpe, e Moro consolide no Brasil a jurisprudência do pedido de desculpas.
Ainda segundo o Observatório do Clima, ao nomeá-lo Bolsonaro faz exatamente o que prometeu na campanha e o que planejou desde o início: subordinar o Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura.
"Se por um lado contorna o desgaste que poderia ter com a extinção formal da pasta, por outro garante que o MMA deixará de ser, pela primeira vez desde sua criação, em 1992, uma estrutura independente na Esplanada. Seu ministro será um ajudante de ordens da ministra da Agricultura".
A pasta da Agricultura será comandada pela toda poderosa "musa do veneno", a deputada estadual Tereza Cristina (DEM-MS). A parlamentar ganhou o apelido após conseguir aprovar em comissão especial um substitutivo para projetos de lei que praticamente revogam a atual Lei dos Agrotóxicos – o pacote do veneno.
"O ruralismo ideológico, assim, compromete o agronegócio moderno – que vai pagar o preço quando mercados se fecharem para nossas commodities", adverte a carta do Observatório.
A organização ambientalista Greenpeace também se manifestou por nota. Nela, o coordenador de Políticas Públicas Marcio Astrini afirma que a escolha é coerente com a lógica de Jair Bolsonaro, que já havia deixado claro que deseja reduzir a pasta do Meio Ambiente a uma espécie de subsede do Ministério da Agricultura. A escolha do novo ministro apenas segue esta lógica
"A nomeação de Salles ocorre no momento em que a área ambiental recebe más notícias: o desmatamento da Amazônia registrou o maior índice dos últimos dez anos, e o país acaba de retirar sua candidatura para sediar a COP-25. Além disso, o futuro Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu declarações em que nega a existência das mudanças climáticas, prometendo colocar o país na contramão dos esforços realizados por mais de 190 países. Com a decisão de não sediar mais a COP em 2019, Bolsonaro começa a cumprir sua lista de ameaças ao meio ambiente", continua a nota.
Ainda conforme a organização, as promessas do presidente eleito eram de que "a principal função do novo ministro será a promoção de uma verdadeira agenda antiambiental, colocando em prática medidas que resultarão na explosão do desmatamento na Amazônia e na diminuição do combate ao crime ambiental. O que já está ruim, pode piorar”, conclui Astrini.
Pouco antes de ser exonerado por Alckmin, Ricardo Salles mandou retirar um monumento em homenagem a Carlos Lamarca no Parque Estadual de Jacupiranga, na região do Vale do Ribeira.
Edição: Rede Brasil Atual