Autêntico destilado brasileiro é produzido por cooperativa do MST com qualidade e de maneira totalmente agroecológica
Branquinha, marvada, amarelinha, caninha, canjibrina, água-que-passarinho-não-bebe são alguns dos nomes e apelidos do destilado mais querido, autêntico e velho conhecido de brasileiros e brasileiras: a pinga ou cachaça.
"Na origem se chamava de cachaça o destilado a partir da borra, na hora de fazer ali o açúcar, o melado, o melaço e a borra destilados davam a cachaça. A pinga era feita da garapa fermentada só. Mas depois se perdeu. Com o tempo passou a ser a mesma coisa. No Rio de Janeiro passaram a chamar de cachaça e em São Paulo e Minas de pinga. Hoje em dia o pessoal tenta falar pinga como algo pior e cachaça uma pinga de melhor qualidade. Mas não tem nada a ver. Isso é coisa que não existe, aliás tem mais de mil sinônimos pra pinga e cachaça e tudo vale do mesmo jeito", define Mouzart Benedito, geógrafo, escritor, contador de causos e admirador de cachaças e pingas brasileiras, que já foi Jurado no Festival de Cachaça de Sabará, em Minas Gerais.
Mas uma pinga em particular chama a atenção de Mouzart por sua qualidade e história, a Cachaça Camponeses, que é fabricada artesanalmente e de maneira agroecológica, no noroeste do Paraná, como explica o assentado e produtor da bebida Jacques Pellenz.
"Uma cachaça se caracteriza por ser de alambique, não é industrial e ela tem que ter a suavidade ao tu beber, tem que ter o aroma, tem que ter um sabor especial. Também eu diria que ela tem que ter uma história. Eu acho que a Cachaça Camponeses tem justamente a história de trabalhadores que estão lutando para promover a questão da reforma agrária, lutando para desenvolver um produto diferenciado, um produto limpo, que não passe só pela produção em si de um produto, mas está carregada de uma história de luta, de esforço e energia da classe trabalhadora", diz Pellenz.
De acordo com o assentado todo processo de produção da Cachaça Camponeses é agroecológico, desde a adubação natural, sem inseticidas, nem herbicidas, à fermentação, sem acidez, que confere um sabor todo especial.
"No processo de produção da cachaça artesanal a gente separa as três fases da cachaça que a gente chama: cabeça, coração e cauda. A cabeça e a cauda são vamos dizer, parte da cachaça que tem componentes que não são bons para uma cachaça de boa qualidade. Então a gente separa isso. Só ficando com a cachaça de coração, que é essencialmente a cachaça boa. Depois disso a cachaça fica armazenada em tonéis, para envelhecimento e só pode ser embalada e comercializada a partir do sexto mês", explica o produtor.
Além da Cachaça Camponeses, que de acordo com Pellenz tem uma produção modesta de 10 a 15 mil litros por ano, a Copavi, Cooperativa de Paranacity, composta por 22 famílias assentadas do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra , produz também açúcar maskavo e melado.
Os produtos podem ser encontrados em feiras orgânicas e agroecológicas, na própria sede da Copavi, em Paranacity, no Paraná, e em lojas do MST como o Armazém do Campo, que possui unidades nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
E como bem diz Mouzar Benedito: "A pinga é uma coisa que é necessária pra vida da gente".
Edição: Michele Carvalho