Pergunta desta semana é respondida por Lenin Pires, antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)
A intervenção militar no Rio de Janeiro, proposta pelo presidente Michel Temer em fevereiro deste ano, completa 10 meses em dezembro. Com índices de violência maiores que os de 2017, no mesmo período, os estudos do Observatório da Intervenção — iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/Ucam) — mostram que o desempenho da intervenção não atingiu o resultado esperado pelo governo Federal ou o próprio plano de estratégia, além de ter intensificado problemas de segurança pública existentes no estado do Rio de Janeiro. As estatísticas expõem aumento de mais de 50% no número de tiroteios e com maior índice de mortes por policiais desde 2008.
O decreto de Michel Temer sobre a atuação no estado termina no dia 31 de dezembro. De acordo com os dados fornecidos pelo Portal da Transparência, são R$ 1,2 bilhões de reais destinados à Intervenção, dos quais quase R$ 54 milhões já foram utilizados e cerca de R$ 430 milhões já estão comprometidos para o futuro.
:: Confira: Intervenção militar: 10 meses depois, medida segue sem solução para a segurança no RJ ::
O Brasil de Fato foi às ruas e ouviu a dúvida do Thiago Aroucha, segurança da Barra Funda, em São Paulo, que quer saber quais são as propostas do novo governo para lidar com a segurança pública no Rio de Janeiro.
Lenin Pires, antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), garante que é preciso separar o discurso do candidato eleito Jair Bolsonaro (PSL), durante o processo eleitoral, das atitudes que ele poderá tomar enquanto presidente da República:
“Olá, Thiago. Uma coisa é conjecturar o que o governo Federal, agora sob a direção do presidente Jair Bolsonaro, pode fazer com base na sua discursividade durante o processo eleitoral. Outra coisa é, a partir de 2019, o que esse governo poderá fazer, não só com base no seu interesse, mas também no interesse do Exército, à luz dessa nova conjuntura, diante da existência de um governo eleito — e aí qual é a postura que as agências de segurança pública terão com relação a esse novo governador, à configuração desse governo estadual e também às mudanças no ponto de vista do comando dessas agências (particularmente a Polícia Militar).
Há uma série de variáveis que não nos permite, de pronto, conjecturar sobre esse governo. Por exemplo: se ele vai querer manter os militares no Rio de Janeiro. Até porque é uma coisa muito dispendiosa, que custa muito dinheiro, que requer um outro nível de planejamento, outro nível de organização. Então, eu diria que a gente precisa aguardar os acontecimentos à medida que esse movimento possa estipular possíveis diretrizes de um governo Bolsonaro para segurança pública, em particular ao que concerne ao Rio de Janeiro”.
Edição: Guilherme Henrique