Após desastres naturais, país busca restabelecer produção e consolidar soberania alimentar
Há oito anos, um terremoto devastou o Haiti.
Foram cerca de 316 mil mortos, 350 mil feridos e quase um milhão e meio de flagelados pelo país, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, 1,2 milhões de pessoas ficaram desabrigadas após o desastre.
É nesse contexto de crise humanitária que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tem atuado em parceria com outros movimentos, como Veterinários Sem Fronteiras e a Brigada de Solidariedade Jean Jacques-Dessalines, para mudar a rotina do país.
O grupo atua na produção de alimentos agroecológicos, no fortalecimento da soberania alimentar, na educação popular e na solidariedade entre os povos. Antes do terremoto, alimentos como mandioca, inhame e batata eram plantados em diversas regiões do Haiti.
Romain Metayer, coordenador do Centro de Formação Agroecológica da Brigada Dessalines, afirma que agroecologia não tem a ver somente com a alimentação saudável. “A agroecologia propõe outra forma de vida, de produção. Muitos tratam da agroecologia como uma forma de produzir sem utilizar elementos químicos. Não é só isso. Se for isso, podemos falar de agricultura orgânica. Mas há a parte social, econômica e política da agroecologia”, explica.
André Luiz Soares, que também é membro da brigada Dessalines, chegou ao Haiti em 2009. Ele explica que a produção agroecológica visa interromper a dependência haitiana em relação aos alimentos produzidos nos Estados Unidos e no Canadá. “É a tentativa de contrapor uma política do governo haitiano de importação de alimentos vindos do Canadá e dos EUA. Nossa perspectiva é, em conjunto com movimentos campesinos, fortalecer a soberania alimentar do país, sem virar moeda de negócio em setores da burguesia nacional e os poderes imperialistas”, diz.
Ao longo dos últimos dez anos, grupos de cooperação estiveram focados em desenvolver atividades conjuntas com movimentos sociais do campo e da cidade, no Haiti.
Todo o processo nas comunidades, ressalta André, é construído a partir do diálogo não só com o Brasil, mas com outros países da América Latina, assim como o processo de identificação das demandas locais. “As organizações haitianas identificam a partir de sua experiência onde estão mais necessitados do nosso trabalho. A partir da vivência que desenvolvemos nas comunidades de 15, 20 dias com os campesinos, realizamos ciclos de formação para contribuir na consolidação deles”, ressalta.
Círculos de formação promovidos pelas brigadas ocorrem mensalmente em diversas regiões do Haiti. As atividades têm como temática a conservação do solo, produção de mudas, implantação e manutenção de sistemas agroflorestais, além da produção e conservação de sementes.
Edição: Júlia Rohden