Na madrugada deste sábado (5), foi registrada a primeira morte por conflitos agrários de 2019, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). O trabalhador rural morto é conhecido, até o momento, apenas como Eliseu. Segundo a entidade, o ataque ainda deixou oito feridos, três em estado grave. O atentado aconteceu na Fazenda Agropecuária Bauru, conhecida como Fazenda Magali, em Colniza, Mato Grosso.
A CPT relembra em sua nota que o assassinato é uma “tragédia anunciada”, dado que a entidade, em conjunto com o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso (FDHT-MT) já havia emitido, em novembro de 2018, uma nota alertando para o conflito na região, “onde 200 famílias reivindicam o direito à terra e viviam sob a mira de 30 pistoleiros”.
“Das quase 200 famílias que lá estão sob a mira dos pistoleiros na Fazenda Agropecuária Bauru, algumas são posseiras, outras compraram o direito de estar na terra, e já moram em seus lotes há algum tempo. Produzem e criam animais. São pessoas que apostaram no sonho de construir uma vida com o suor do trabalho. Não podemos deixar que mais um massacre aconteça, que mais uma violência aconteça a estas pessoas que já nasceram vulneráveis e que, por sua condição de pobreza, já nasceram em estado de exceção”, afirma a nota.
O ataque, de acordo com testemunhas, aconteceu enquanto trabalhadores rurais buscavam água no rio Traíra, próximo ao acampamento.
Uma a cada cinco dias
O campo brasileiro vive uma escalada violenta pelo direito à terra. Segundo a CPT, desde o golpe perpetrado contra Dilma Rousseff, aumentou o número de assassinatos por terra. Em 2017, segundo o relatório Conflitos no Campo, o número de mortes foi o maior desde 2003, com 71 trabalhadores e trabalhadoras rurais mortos, uma pessoa a cada cinco dias.
Em 19 de abril de 2017, 9 trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados em Colniza, no Projeto de Assentamento Taquaruçu do Norte. Segundo a Pastoral, “Muitos foram surpreendidos enquanto trabalhavam na terra ou dentro de seus barracos. Foram mortos a tiros e por golpes de facão. De acordo com a perícia houve tortura. Vários corpos estavam amarrados e dois foram degolados”.
A região ficou conhecida em 2004, após um estudo da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), que apontava Colniza como a cidade mais violenta do Brasil. Distante 1.065 km de Cuiabá, com seus 20 mil habitantes, o município chegou a registrar 165,3 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.
A mortalidade se explica pela questão fundiária local, com conflitos entre posseiros, indígenas, garimpeiros, madeireiros, seringueiros e agentes do poder público. Apenas 20% das terras são regularizadas na região, segundo dados da prefeitura.
Edição: Nina Fideles