A ex-presidenta Dilma Rousseff rebateu declarações feitas pelo chefe do gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo de Jair Bolsonaro (PSL), general Augusto Heleno, que em seu discurso de posse tentou desqualificar a gestão dela para o setor, afirmando que "a senhora Rousseff não acreditava na inteligência" e que Dilma teria "derretido" o sistema de inteligência brasileiro.
Em suas páginas nas redes sociais e em seu blog, ela publicou que, ao longo de seu mandato, pôde presenciar "várias situações de manifesta ineficácia do GSI e do sistema de inteligência a ele articulado" para, em seguida, citar os casos dos grampos ilegais feitos, em seu gabinete, no avião presidencial e na Petrobras pela agência de inteligência dos EUA, a National Security Agency (NSA).
"Os setores da inteligência brasileira não só desconheciam que a interferência vinha ocorrendo há tempo – só souberam após o caso Snowden – como sequer sabiam os meios necessários para bloqueá-la. Nem mesmo sabiam o que havia sido captado pela NSA nos referidos grampos. Uma 'inteligência' ligada à Presidência da República que não tem conhecimento, capacidade e tecnologia para enfrentar a moderna espionagem cibernética não é crível", ressalta Dilma, no texto.
Ela finaliza o comunicado apontando falhas do serviço mesmo após ter sido destituída da Presidência pelo golpe parlamentar de 2016. "Aliás, a falha mais recente ocorreu no governo Temer, o que evidencia que tudo continua igual no setor de inteligência. Durante a campanha, quando o atual presidente, então candidato, foi alvo de atentado em Juiz de Fora, a 'inteligência' já supostamente reconstruída, desconhecia a ameaça e, portanto, não pôde impedi-la. Tais exemplos mostram porque a inteligência do governo ainda não é credível", afirma.
Leia a íntegra da postagem.
A "inteligência" na qual não se deve acreditar
A "senhora Rousseff não acreditava na inteligência". A declaração é do "senhor Heleno" ao assumir o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Tal afirmação vem sendo feita pelo "senhor Heleno" em todas entrevistas dadas à imprensa. Em vista disso, é inevitável tratar do assunto.
De fato, durante meu mandato, tive várias situações de manifesta ineficácia do GSI e do sistema de inteligência a ele articulado.
Houve falha, por exemplo, ao não detectar e impedir o grampo feito ilegalmente no meu gabinete, em março de 2016 – sem autorização do Supremo Tribunal Federal –, quando foi captado e divulgado meu diálogo com Luiz Inácio Lula da Silva, às vésperas dele ser nomeado para a Casa Civil.
O caso mais grave, entretanto, ocorreu em 2013, por ocasião da espionagem feita em meu gabinete, no avião presidencial e na Petrobras pela National Security Agency (NSA), a agência de inteligência dos EUA.
Os setores da inteligência brasileira não só desconheciam que a interferência vinha ocorrendo há tempo – só souberam após o caso Snowden – como sequer sabiam os meios necessários para bloqueá-la. Nem mesmo sabiam o que havia sido captado pela NSA nos referidos grampos.
Uma "inteligência" ligada à Presidência da República que não tem conhecimento, capacidade e tecnologia para enfrentar a moderna espionagem cibernética não é crível.
Na verdade, a própria defesa da soberania do país exige que nela não se acredite para que se possa tomar todas as medidas necessárias para torná-la efetiva e contemporânea. Negar tal fato só atrasa o processo.
Aliás, a falha mais recente ocorreu no governo Temer, o que evidencia que tudo continua igual no setor de inteligência. Durante a campanha, quando o atual presidente, então candidato, foi alvo de atentado em Juiz de Fora, a "inteligência" já supostamente reconstruída, desconhecia a ameaça e, portanto, não pode impedi-la.
Tais exemplos mostram porque a inteligência do governo ainda não é credível.
Edição: Rede Brasil Atual