Integrantes de movimentos populares e venezuelanos que vivem no Brasil se reuniram para acompanhar a posse do segundo mandato do presidente da Venezuela Nicolás Maduro, e se solidarizar com o novo governo que inicia nesta quinta-feira (10).
Na capital paulista, militantes acompanharam a juramentação de Maduro em um telão exibido no consulado da Venezuela. Robert Torrealba, cônsul-geral venezuelano em São Paulo, afirma que o apoio de militantes brasileiros reafirma a relação de proximidade entre os países, que já tem quase duas décadas.
"Assim como em São Paulo, em outras cidades do mundo, nas representações diplomáticas, estamos de portas abertas para receber a solidariedade de movimentos, partidos, intelectuais, artistas e pessoas em geral que reconhecem e respeitam o processo político da Venezuela", disse.
Com uma forte oposição articulada por grupos conservadores, Maduro enfrenta também dificuldades no âmbito internacional, com problemas diplomáticos com países liderados por governos de direita, como é o caso dos Estados Unidos, comandados por Donald Trump, que tenta isolar política e economicamente o país caribenho. O líder venezuelano encampa um projeto político de caráter popular e de defesa do internacionalismo.
Doze governos de direita latino-americanos de países como Colômbia, Brasil e Peru, reunidos no Grupo de Lima, não reconheceram a legitimidade do governo de Maduro. As eleições foram validadas por mais de 200 observadores internacionais que participaram da jornada de votação.
O arquiteto venezuelano Ciro Casique, que vive em São Paulo há dois meses, criticou o posicionamento dos líderes latino-americanos. "O grupo de Lima é uma máfia de governos da burguesia regional que tem interesse de manter essa cota de poder do imperialismo norte-americano na nossa região", disse.
Casique afirma que a escolha do povo venezuelano tem que ser respeitada. "A Venezuela está ameaçada porque sempre tem defendido o direito de ser rebelde e proposto uma outra forma de viver, de viver a democracia e a construção do poder. É uma outra forma de entregar ao povo a auto-organização. Com todas as contradições que temos e dificuldades que temos."
Também participaram da manifestação integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Partido dos Trabalhadores (PT), da Consulta Popular, do Levante Popular da Juventude, do Comitê Lula Livre, entre outros.
Ato em Brasília
“Conhecemos a direção a seguir / São séculos de resistência / Temos como herança / Os exemplos de Zumbi”. Esses versos foram recitados pelo poeta Pedro César Batista durante o ato em Brasília (DF).
“Em todas as trincheiras nós estamos, e a poesia é uma trincheira importantíssima pra inspirar nossa caminhada, nossa resistência, nosso combate, principalmente neste momento de obscurantismo”, disse Batista, integrante do Celeiro Literário Brasiliense.
A atividade reuniu representantes de movimentos e partidos políticos, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central de Movimentos Populares (CMP), PT e PCdoB. Os organizadores destacaram que a manifestação é um símbolo da união dos povos latinos em defesa dos projetos populares.
Situados no campo progressista, tais grupos têm se movimentado em defesa da legitimidade do governo de Maduro, reeleito em maio do ano passado com 67,7% dos votos válidos. O representante do PT, Hamilton Pereira, afirmou que o ato demarca “o respeito à autodeterminação dos povos”.
Já o dirigente Ismael César, da executiva nacional da CUT, sublinhou que a defesa da legitimidade de Maduro se conecta com diferentes pautas que marcam atualmente a política brasileira.
“Pra nós dos movimentos sociais, em particular pra CUT, a luta pela liberdade de Lula, por exemplo, tem tudo a ver com a perspectiva de uma América Latina livre dos Estados Unidos”, exemplificou, citando ainda a oposição do campo popular ao golpe que depôs, em 2016, a presidenta Dilma Rousseff (PT).
Para o ministro conselheiro Freddy Meregote, responsável pelos negócios da Embaixada da Venezuela no Brasil, a solidariedade dos grupos que participaram da manifestação seria um sinalizador da soberania popular no país vizinho.
“Ninguém [é] mais adequado que o povo pra o reconhecimento das lideranças autênticas da região. A presença do povo brasileiro na Embaixada da Venezuela neste dia de hoje é uma pressão genuína do povo latino-americano”, disse.
Edição: Mauro Ramos