O presidente Nicolás Maduro respondeu às críticas feitas ao seu governo nessa quarta-feira (9), um dia antes de sua posse, em uma entrevista coletiva realizada no Palácio de Miraflores, com a presença dos meios de comunicação internacionais. Para Maduro, os países do Grupo de Lima, apoiado pelos Estados Unidos, preparam um golpe de Estado contra seu governo. “Este é um momento decisivo. Converteram uma posse formal, protocolar, de um país democrático como a Venezuela, em uma guerra mundial”, afirmou o mandatário.
O chamado Grupo de Lima está conformado por chanceleres de 14 países — Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia — e foi criado em agosto de 2017 com objetivo de criticar e pressionar o governo da Venezuela. Em uma nota pública divulgada na última sexta-feira (04), os representantes afirmaram não reconhecer o novo mandato do presidente Nicolás Maduro. Em contraposição, o presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, declarou reconhecer a legitimidade da eleição e do mandato presidencial de Maduro.
Para o presidente venezuelano, as declarações do Grupo de Lima configuram uma ingerência sobre os temas internos da Venezuela, algo que considera ser inédito nas relações internacionais atuais. “O que estamos vendo não tem precedentes. Foram desatadas as forças políticas extremistas contra a Venezuela, com o único objetivo de desestabilizar nosso país, gerar violência e caos, para poder colocar as mãos nas riquezas da Venezuela”.
Maduro informou que o governo venezuelano entregou, nessa quarta-feira (9), uma nota de protesto aos 14 embaixadores do Grupo de Lima. Em relação ao conteúdo da nota, ele comenta: “Entregamos a todos os governos do cartel de Lima uma nota diplomática onde exigimos uma retificação sobre a posição que tomaram sobre a Venezuela em até 48 horas, ou vamos tomar as mais urgentes e enérgicas medidas diplomáticas em defesa da soberania da Venezuela”.
Apesar das críticas recebidas pelo grupo, o mandatário venezuelano afirmou que a oposição desses países não terá impacto no seu governo. “O mundo é maior que o Grupo de Lima. E a maior parte do mundo nos respeita”, ressaltou.
Sobre a relação com os EUA, Maduro afirmou que está aberto ao diálogo e disposto a construir relações diplomáticas respeitosas. Da mesma forma, afirmou que está disposto também a dialogar com a oposição venezuelana: "Oxalá possamos construir uma agenda política comum, para o benefício da Venezuela”.
:::O que está acontecendo na Venezuela?:::
Maduro não descarta adiantar eleições legislativas
“Não estão descartadas medidas contra a Assembleia Nacional burguesa que atua em prol de um golpe de Estado”, disse Maduro durante a entrevista coletiva, indicando a possibilidade de dissolver o parlamento e convocar novas eleições.
“Caso a Assembleia Nacional Constituinte decida enfrentar um possível golpe de Estado promovido pelos seus políticos, vamos todos para uma eleição. Tomara que isso não seja necessário e que possamos esperar pelas eleições de 2020 [quando acontecerá a próxima eleição legislativa]", ressaltou.
Os poderes da Assembleia Nacional da Venezuela (Congresso Nacional) foram suspensos por desacato em 29 de março de 2017 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na ocasião, o STJ declarou que três deputados da oposição venezuelana estavam inabilitados para serem empossados, por estarem sendo investigados por crimes eleitorais.
Em um conflito entre poderes, pois sem esses três deputados a oposição deixaria de ter maioria qualificada no Congresso [dois terços dos parlamentares], a Casa não reconheceu a decisão judicial. Por não cumprir a decisão, a Assembleia Nacional, eleita em 2015 com maioria opositora, foi declarada em desacato pelo tribunal e seus atos políticos estão anulados neste momento.
Traição à pátria
Durante a entrevista coletiva dessa quarta-feira, o presidente Maduro também afirmou que a Assembleia Nacional Constituinte decretou uma lei sobre crime de traição à pátria e acusou os políticos opositores de quererem entregar parte do território venezuelano a outros países.
A polêmica sobre este tema surgiu na última semana, depois que deputados opositores apoiaram as declarações do Grupo de Lima, que também questionava a soberania territorial da Venezuela no que diz respeito ao delta do rio Orinoco, localizado no mar do Caribe.
No dia 23 de dezembro, o governo venezuelano denunciou ter identificado a presença de uma plataforma petroleira de exploração sísmica da empresa estadunidense ExxonMobil em águas venezuelanas. Os tripulantes alegaram que estavam no território da Guiana e tinham autorização para a exploração. No entanto, após a marinha venezuelana informar que a área fazia parte da Venezuela, a embarcação acatou a ordem e se retirou.
Embora estivesse comprovado que a embarcação encontrava-se em território reconhecidamente venezuelano e não no território disputado pela Venezuela e pela Guiana há mais de cem anos, os parlamentares da oposição estavam de acordo com a posição do Grupo de Lima, que defendia a exploração petroleira por considerar que estava na região disputada entre Caracas e Georgetown.
Edição: Luiza Mançano