Na madrugada desta sexta-feira (11), os Guarani Mbya da comunidade Ponta do Arado, em Porto Alegre (RS), foram atacados a tiros por homens encapuzados. Segundo relatos, o ataque ocorreu por volta das três horas da manhã, quando dois homens com os rostos cobertos atiraram dezenas de vezes sobre as casas dos indígenas. Além dos disparos, que não feriram ninguém, os agressores ameaçaram os Guarani de morte, caso não deixem a área até o próximo domingo.
“Chegaram dois homens armados, encapuzados, dando tiros em cima do nosso barraco. As crianças ficaram todas assustadas, chorando. Eles falaram que vão esperar até domingo. Se a gente não sair até domingo, eles disseram que vão matar todo mundo, que não vai sobrar nenhuma pessoa. Foram muitos tiros”, relatou o cacique Timóteo Karai Mirim.
A retomada da Ponta do Arado fica no bairro Belém Novo, na zona sul de Porto Alegre, às margens do rio Guaíba, em uma região de preservação ambiental. O terreno também é um sítio arqueológico do povo Guarani. A área é alvo de especulação imobiliária.
Paulo Karaí, guaraní da aldeia Tenodé Porã e representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, afirma que existe um conflito histórico na região: “Essa área foi retomada no ano passado, e um fazendeiro diz que é proprietário dela. Ele está tentando retirar a comunidade indígena de lá. Só que, na verdade, essa retomada não está dentro da fazenda dele, mas na região próxima”, disse Karaí durante um encontro realizado nesta sexta em São Paulo (SP). Durante o encontro, quatro aldeias do estado se reuniram para protocolar um documento pedindo a revogação das medidas de Bolsonaro que retiram da Fundação Nacional do Índio (Funai) as atribuições de identificação, demarcação e delimitação de terras. Os indígenas também pedem que a Funai volte a integrar o ministério da Justiça. Hoje, o órgão está sob responsabilidade do Ministério da Família, Mulher e Diretos Humanos.
Desde que retornaram ao local, em junho de 2018, os Guarani Mbya da Ponta do Arado têm sofrido ataques e ameaças. A área retomada pelos indígenas fica no perímetro da antiga Fazenda do Arado, de 426 hectares.
Na avaliação do coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, Roberto Liebgott, o ataque mais recente tem a intenção de coagir os indígenas a abandonar o espaço de luta territorial.
“O Cimi avalia isso com muita preocupação. Segundo o cacique, os agressores afirmaram que, com o novo governo, eles têm agora poder de polícia para defender as propriedades. Então, há um estímulo no âmbito da política para que esse tipo de ação se desenvolva”, avalia Liebgott.
Na manhã desta sexta, os indígenas registraram um boletim de ocorrência na delegacia de polícia do bairro Belém Novo.
*Com informações do Conselho Indigenista Missionário.
Edição: Daniel Giovanaz