imperialismo

EUA ameaçam reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela; oposição está dividida

Mesmo partidos que estão do lado oposto a Maduro rejeitam iniciativa do presidente da Assembleia Nacional

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

Os Estados Unidos subiram o tom contra a Venezuela e ameaçaram reconhecer como presidente interino o deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, órgão legislativo que está com seus poderes suspensos pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) do país.  Em julho de 2017, o TSJ declarou que Congresso venezuelano estava em desacato por não reconhecer uma decisão judicial que impedia três deputados opositores, do estado Amazonas, de assumir o mandato por comprovados crimes eleitorais.

"A Assembleia Nacional se encontra em desacato e em consequência todos seus atos são nulos”, recordou o presidente do TSJ, Maikel Moreno, na posse do presidente Nicolás Maduro.

No entanto, o canal de televisão dos EUA, CNN, noticiou nesta quarta-feira (16), que o presidente dos EUA, Donald Trump, está considerando reconhecer o líder da oposição da Venezuela, Juan Guaidó, do partido Vontade Popular, como o presidente do país. "Assim disseram três fontes familiarizadas com o assunto à CNN", reportou o canal.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Garrett Marquis, não confirmou, mas também não descartou o reconhecimento de Guaidó como chefe de Estado. "Os Estados Unidos estão considerando atualmente todas as ferramentas diplomáticas, políticas e econômicas em seu arsenal em resposta à usurpação do poder pelo regime ilegítimo de Maduro", disse Marquis.

Por sua parte, o senador norte-americano Marco Rubio, um dos mais incisivos inimigos políticos de Maduro, conclamou Donald Trump a declarar Guaidó presidente da Venezuela. "Insto encarecidamente a esta administração a proceder e reconhecer o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente interino desse país, na espera de uma transição para uma nova eleição livre e justa", disse o senador republicano em discurso no Congresso do EUA.

Rubio também defendeu entregar a Guaidó "todos os ativos e recursos venezuelanos bloqueados no exterior". O presidente Maduro disse, na última sexta-feira (11), que os EUA "sequestraram" cerca de US$ 1,4 bilhão de dólares do governo venezuelano. O jornalista venezuelano, Willian Serafino, do site Misión Verdad, informou que o dinheiro está sob o controle da empresa estadunidense Euroclear. A verba seria destinada para a compra de remédios e alimentos para o povo venezuelano.

Os Estados Unidos são a única grande potência mundial que não reconheceu o governo de Nicolás Maduro. China, Rússia e os países da União Europeia todos validaram as eleições, apesar das críticas emitidas por alguns governos, como no caso da França. Mais de 94 nações enviaram delegações para posse do presidente venezuelano, assim como a Organização das Nações Unidas (ONU). O encarregado da ONU na Venezuela, Peter Gromann, se colocou à disposição para ajudar a tirar o país da crise econômica.

Oposição rachada

O maior partido da oposição venezuelana, o Ação Democrática, não concorda com a auto-declaração de Juan Guaidó como presidente interino. "Sabendo que quem usurpa o poder é o presidente [do Congresso], continuaremos a conduzir com inteligência política o mandato constitucional ", afirmou o deputado e vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano.

O presidente da Ação Democrática, o deputado Henry Ramos Allup, informou nesta quarta-feira (16), que "não houve unanimidade na votação [da Assembleia Nacional] em relação ao Acordo sobre a usurpação da presidência por parte de Maduro.”

‏"Maduro ganhou as eleições do dia 20 de maio (2018), isso é um fato", afirmou um dos líderes opositores, Claudio Firmín, ex-chefe de campanha do candidato Henri Falcón, do partido Avançada Progressista, que concorreu às últimas eleições e ficou em segundo lugar. Firmín, hoje filiado ao partido Soluções pela Venezuela, repudiou o que ele considera ser uma posição "simplista", de alguns opositores.

O último protesto convocado pela oposição venezuelana, no dia 11 de janeiro, um dia após a posse do presidente Maduro, reuniu um público de apenas 300 pessoas. Estão convocadas novas manifestações para o dia 23 de janeiro.

Para o político e jornalista opositor, Vladimir Villegas, que tem um programa de grande audiência no canal privado Globovisión, de linha editorial opositora, Guaidó se concentra mais "no desejo que na realidade". "A política se mede pelos fatos e pelos resultados, mais que pelo desejo e pelas palavras de ordem. Não basta querer ser algo. É necessário que isso venha acompanhado de condições para converter-se em realidade", criticou Villegas no Twitter.

Outro líder da oposição, Henrique Capriles, do partido Primeiro Justiça, preferiu a neutralidade. O partido dele apoiou a posição de Guaidó.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira