RESISTÊNCIA

LGBTs fazem casamento coletivo nesta quinta-feira (24) em João Pessoa

Trinta e dois casais de várias cidades paraibanas farão cerimônia realizada por movimentos sociais e órgãos públicos

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
O mundo precisa de mais amor - Emília Danila
O mundo precisa de mais amor - Emília Danila - Divulgação

Cerca de 32 casais LGBT - lésbicas, gays e trans - irão se casar em cerimônia coletiva nesta quinta-feira, dia 24, às 19h, no Teatro Paulo Pontes. Segundo Eduardo Guimarães, coordenador do MEL – Espírito do Movimento Lilás, há alguns anos houve casamentos coletivos, mas esta é a primeira vez que se dá nessa magnitude, com organização e planejamento, e com sentido político: “em função da ameaça de direitos que é a posse desse novo governo que já vem retirando direitos em vários campos, então o casamento é uma afirmação da nossa visibilidade, que a gente tem direito, e esses direitos serão afirmados por nós, mas também tem um sentido pragmático, porque com o atual governo, esse direito (de se casar) pode ser retirado”, afirma o professor Eduardo. Segundo ele, o casamento coletivo foi organizado pelos movimentos sociais, dentre eles, MEL, Maria Quitéria, Astrapa, MoviBi(Movimento de Bissexuais – PB), Petris (Coletivo de Homens Trans da Paraíba) e o Clube de Diversidades.
Convite para casamento coletivo
Ele explica que o matrimônio LGBT no país se estabeleceu por uma interpretação de extensão de direito, e não por uma legislação clara e definida, seja pelo poder executivo ou legislativo brasileiros, mas sim, pelo poder judiciário, e, portanto, não é difícil retirá-lo na sua validade. “Então convidamos os casais paraibanos a se casarem logo, inclusive por orientação jurídica dos movimentos sociais, apoiados pela OAB, para garantir os direitos de casal”,  complementa Eduardo Guimarães.

DEFENSORIA PÚBLICA

O casamento coletivo LGBTQI+ tem realização da Defensoria Pública do Estado da Paraíba (DPE-PB) e o Movimento Social de Defesa dos Direitos das Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queer, Intersexo e Mais.
O defensor público-geral da Paraíba, Ricardo Barros, explica que o casamento coletivo concretiza o sonho de casais que não têm dinheiro para custear as despesas cartoriais, além de consolidar direitos civis dos casais homoafetivos. “Com o casamento civil, esses casais passarão a ter mais garantias no que diz respeito aos direitos de herança, previdenciário, alimentos e partilha de bens. Além disso, o casamento representa um sonho para duas pessoas que se amam e é muito gratificante para a DPE fazer parte desse sonho”.
Avani e Araci
Araci Farias e Avani Torres contam que estão juntas há 17 anos, e, para elas, esse casamento é muito mais um ato político, de reexistir e resistir diante da conjuntura da perda de direitos para a comunidade LGBTQI: “A gente resolveu, enquarto corpo político, partilhar com os colegas esse casamento coletivo para dar visibilidade da necessidade desse tipo de política, que não pode acabar, tem que persistir, e nós precisamos ter o mesmo direito de qualquer pessoa, independente de sexo, raça, credo, é importante que as pessoas tenham direito de se casar com que quiserem e a garantia desse direito cidadão, mesmo porque, se pagamos impostos, se somos consideradas iguais em outras perspectivas econômicas e políticas, por que não somos consideradas na questão civil também?”, reivindicam elas.
A coordenadora da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos da DPE-PB, Remédios Mendes, afirma que a Defensoria está atenta às reivindicações dos movimentos sociais: “Sobretudo da população LGBTIQI+, que ora tem sofrido ataques e ameaças de retrocessos nos direitos conquistados,, com luta por gerações”, ressaltou. Para a defensora pública, o casamento não só é a garantia dos direitos civis, mas a afirmação de que todos são iguais indistintamente. “Nossa humanidade não pode ser suplantada por preconceitos e discriminação. Somos, além de nossa sexualidade, pessoas, somos humanos e nossa dignidade tem que ser afirmada”, completou Remédios. 
Emilia Danila e Eunice
Para Emília Danila, noiva de Eunice, este não e só um casamento, mas é, também, um ato político. “A nossa existência enquanto casal, enquanto pessoas que acreditam no nosso relacionamento, enquanto direito, pelo qual lutamos, acaba sendo um ato de resistência. Hoje, sair de mãos dadas na rua, no cenário atual com a sua namorada, noiva, companheiro, é muito complicado, as pessoas olham diferente, é perceptível a mudança de clima. Antes dos discursos de ódio trazidos junto com a campanha do presidente, era mais velado, as pessoas não encaravam com afronta, como acontece agora. Então o nosso casamento é uma resposta linda; estamos respondendo com amor para aqueles que falam com violência, então estamos muito felizes”, declara Emília.
Ginaldo e Dhell
O noivo Ginaldo Figueiredo, futuro cônjuge de Dhell Félix, comemora: “a gente está muito feliz, é um momento muito esperado, de resistência, e no meio desse turbilhão todo de ódio e preconceito, a gente casa com o sentimento de transmitir amor pelas pessoas, porque o mundo está muito carente de amor, então esse casamento é uma realização e a concretização de um amor.”
O casamento coletivo LGBTQI+ tem apoio do Cartório Azevedo Bastos, que se responsabilizou pela emissão das certidões de casamento sem custos para os noivos, além dos profissionais André Luiz (florista) e Daniel Honório (bolo) e da empresa Mariage Doces Finos, que participarão voluntariamente do evento, assim como as cantoras Renata Arruda e Diana Miranda.
A festa de comemoração do casamento coletivo - Casei Sim - será realizada no Donana Pub com o Dj Natan Estourado, Dj Mermaid e Dj Lola Windy, com entrada liberada a noite toda. (+18).

Edição: Cida Alves