Em repúdio à proposta de reforma da Previdência de Jair Bolsonaro, entregue nesta quarta-feira (20) ao Congresso Nacional, a Praça da Sé, no centro de São Paulo (SP), foi tomada por movimentos populares e centrais sindicais.
Os trabalhadores formaram a Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, que também aconteceu em pelo menos 11 estados do país, com o objetivo de traçar uma agenda de ações contra a proposta de Paulo Guedes, ministro da Economia.
Entre os principais pontos criticados na reforma defendida pelo governo, está a criação de um novo sistema previdenciário baseado na capitalização, e o estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres ao final de um período de transição de 12 anos. Além disso, os beneficiários terão que contribuir por, no mínimo, 20 anos.
“A assembleia nacional é o primeiro passo para barrarmos a reforma da Previdência. Uma reforma que fere especialmente as mulheres e impõe a capitalização. Em nome das mulheres que fizeram greve geral contra a reforma do Temer, agora também irão parar o Brasil para barrar essa reforma. Se essa reforma for pra votação, é greve geral”, afirma Renata França, da executiva nacional da CSP-Conlutas.
Os professores da rede municipal do ensino de São Paulo, que estão em greve desde 4 de fevereiro, foram à Praça da Sé se posicionar também contra a reforma nacional da Previdência. A reforma no município foi aprovada pelos vereadores em 26 de dezembro de 2018 e sancionada pelo prefeito Covas no dia seguinte, aumentando de 11% para 14% a contribuição dos servidores para a aposentadoria.
“A nossa greve mostra o caminho, que é possível resistir, lutar e derrotar a reforma da Previdência. Seja ela municipal, estadual e principalmente a reforma da presidência de Jair Bolsonaro. Essa reforma não é reforma, é a demolição da previdência pública”, ressalta Silvia Ferraro, professora e integrante da Frente Povo Sem Medo.
Denise de Paula, que também é professora da rede municipal há mais de 30 anos, declara que os educadores de São Paulo já sentem os danos que acontecerão aos trabalhadores de todo o país caso a proposta de Bolsonaro seja aprovada.
“A reforma da Previdência já começou para nós. O prefeito Bruno Covas, do PSDB, já descontou 3% a mais do salário. E é esse o objetivo do Bolsonaro e de toda equipe que está ai, dos governos estaduais e federal. A reforma nacional vem pra isso, para tirar dinheiro dos trabalhadores”, enfatiza Denise. “Além de perder salário, vamos ter que trabalhar 40 anos. Isso é um absurdo. A pessoa nem vive, morre antes de se aposentar”, complementa.
Mesmo aposentado, Francisco Antonio Rodrigues, que trabalhou como metalúrgico a vida inteira, compareceu à assembleia para prestar solidariedade aos que correm o risco de não se aposentar. “Essa reforma não está bem explicada, há muita discrepância entre uma categoria e outra. Entre o funcionalismo e a iniciativa privada, ninguém consegue explicar isso pra população”, critica Francisco, de 67 anos.
Também presente no ato, Nádia Gebara, 66 anos, denuncia que a retirada de direitos na área previdenciária já está acontecendo, por meio de medidas como penalizar trabalhadores afastados por doença.
“Há uma orientação pros peritos para suspenderem benefícios. Deixando gente que ficou aleijada em situações de trabalho sem qualquer benefício”, alega Gebara. A possibilidade de os trabalhadores contestarem essas ações foi reduzida após a aprovação da reforma trabalhista no governo de Michel Temer. Em junho de 2018, o Tribunal Superior do Trabalho demonstrou que o número de ações trabalhistas teve uma queda de 40% após a aprovação dessa reforma.
Para Gebara, a reforma da Previdência irá piorar a situação dos brasileiros. “Além de aumentar a idade mínima, junto com a reforma trabalhista, impede pessoas de conseguirem se aposentar por conta do tempo mínimo de contribuição. Além disso, mesmo que consigam se aposentar com 62 e 65 anos, não irão se aposentar com salário integral. As pessoas vão morrer ou se matar, como está acontecendo no Chile. O que eles querem fazer é a capitalização, que só dá dinheiro para os bancos”, argumenta a professora.
A preocupação com a reforma de Bolsonaro é tanta que até Vitoria Pedrosa, de 15 anos, compareceu à manifestação para defender que o sistema atual não seja alterado. “Nós, enquanto juventude não vamos conseguir nos aposentar. Todo apoio aos aposentados e aos trabalhadores que viemos dar é muito válido porque não é só lá pra frente que precisamos pensar nisso.”
A perspectiva das centrais sindicais e dos movimentos populares é manter a unidade e continuar na oposição ao projeto de forma incisiva.
“O MST se soma a todas essas lutas. Queremos construir, coletivamente, uma grande mobilização para os próximos dias e quem sabe, vamos fazer, já desde o início desse governo, a tão sonhada greve geral e dizermos, enquanto trabalhadores, que não estamos contentes com a retirada de direitos", explica João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
As centrais sindicais divulgarão uma agenda de lutas na próxima terça-feira (26).
Edição: Mauro Ramos