O governo da Venezuela confirmou neste sábado (23) o fechamento temporário da fronteira com a Colômbia, após ameaças de intervenção militar e uma entrada forçada de "ajuda humanitária" -- que, para os aliados do presidente Nicolás Maduro, são um "cavalo de Troia" para desestabilização do governo.
“O governo bolivariano da Venezuela informa à população que, devido às sérias e ilegais ameaças tentadas pelo governo da Colômbia conta a paz e a soberania da Venezuela, tomamos a decisão de fechar temporariamente as pontes Simón Bolívar, Santander e Unión”, publicou nas redes sociais a vice-presidenta Delcy Rodriguez na noite de sexta (22).
:: O que está acontecendo na Venezuela? ::
No mesmo dia, apoiadores de Maduro realizaram eventos culturais na divisa, e não houve relatos de violência ou conflito.
A reportagem do Brasil de Fato acompanhou os shows pró e contra Maduro.
Observações da reportagem
A disputa entre o governo da Venezuela e oposição, aliada a Colômbia e Estados Unidos, evidencia o recorte de classe social inerente aos conflitos. A ponte internacional Tienditas era a única barreira que separava os dois lados do "embate musical" na sexta.
Do lado colombiano, os espectadores eram majoritariamente brancos -- entre eles, venezuelanos, que foram prestigiar músicos que estão no topo das paradas da indústria musical do momento, como o colombiano Maluma. Na Venezuela, em palco menor e menos luxuoso, artistas se apresentavam para camponeses, vizinhos do povoado de Ureña, educadores populares, operários e jovens estudantes.
A dona de casa Isabel Nariño foi ao show dos venezuelanos pela paz. “Acredito que todos os países têm direito de ser soberanos. Acredito que o presidente Maduro tem boas intenções em suas políticas e muita gente se beneficiou delas”, disse.
Enquanto a classe média venezuelana lotava os poucos restaurantes e shopping centers da cidade colombiana de Cúcuta, no lado oposto à ponte Tienditas muitos trabalhadores esperavam o ônibus para voltar para casa.
A venezuelana Luz Estela Juarez conta por que apoia Maduro. “Nós queremos paz, liberdade, que se derrubem às sanções, porque queremos viver bem porque somos os verdadeiros donos das riquezas da Venezuela. Queremos ser livres, porque não somos propriedade de nenhum país. Nós somo filhos de libertadores, não vamos aceitar submissão”, ressaltou a moradora de Ureña, no estado de Táchira.
Autoridades do governo venezuelano estão na fronteira
O presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, falou sobre a possível entrada da ajuda humanitária dos Estados Unidos. “Aqui, todos os dias vão e vêm cerca de 50 mil pessoas. Isso vai continuar acontecendo. O que não vai acontecer é um soldado estrangeiro entrar na Venezuela. Aqui não vão colocar um só pé. Se isso acontecer, vão ter que responder como invasores”, disse o deputado.
Cabello ressaltou que a entrada das bolsas com ajuda humanitária em mãos de venezuelanos está liberada, e enfatizou que os riscos sobre a qualidade desses produtos deve ser assumido por quem decide consumi-los. “Quem correr o risco de entregar algo que foi entregue pela Usaid [agência dos Estados Unidos utilizada em apoio a intervenção internacional], isso é sua responsabilidade”, finalizou o deputado venezuelano em entrevista aos meios internacionais.
O representante do governo nacional no estado de Táchira, Freddy Bernal, informou que o governo venezuelano distribuirá também 20 mil cestas básicas para a população pobre da cidade colombiana de Cúcuta, também como forma de fornecer ajuda humanitária à sexta cidade mais pobre da Colômbia.
Edição: Daniel Giovanaz