Ofensiva estadunidense ocorre por País levar adiante interesses de trabalhadores
Para uma parte importante da esquerda brasileira, a qual tem seu leito histórico nos movimentos de Libertação Nacional na América Latina, a “questão nacional” é a forma principal pela qual se externaliza e ganha contornos a luta de classes¹. Isso é, não existe luta de classes como uma abstração histórica, ela se expressa em cada formação social a partir de condições concretas.
Na Venezuela, como na quase totalidade dos países de formação colonial, a “questão nacional” é o elemento que – concretamente – opõe as classes sociais. De um lado, o povo trabalhador - que foi secularmente impedido de formar uma nação pra si, que atendesse em primeiro lugar suas necessidades de existência e desenvolvimento – e, de outro, o conjunto das classes dominantes – tanto externas como internas, que se associaram para produzir uma nação deformada, impedida de ser e eternamente dependente das forças internacionais.
O próprio Lênin em uma das suas obras clássicas: “Imperialismo, fase superior do capitalismo” já apontava que o avanço das potências imperialistas criaria duas perspectivas distintas para a luta dos povos. No centro desenvolvido do capitalismo, a luta entre as classes sociais seguiria expressando-se na forma tradicional da contradição “Capital X trabalho” e na periferia subdesenvolvida do globo, a forma material dessa contradição teria lugar nas lutas de libertação nacional, uma vez que nessas sociedades as burguesias internas jamais poderiam levar adiante um padrão “clássico” de Revolução Burguesa, na qual teria espaço a concretização do conjunto de tarefas típicas do desenvolvimento capitalista, tais como a Reforma Agrária, a democratização do ensino e o desenvolvimento industrial.
Dessa forma, não logramos – na América Latina – realizar o programa de uma revolução propriamente nacional democrática burguesa, qual seja: a afirmação e realização de reformas estruturais, que constituíssem um verdadeiro Estado Nação, dotado de autonomia política e econômica, e capaz de levar adiante as tarefas de pleno desenvolvimento da modernidade capitalista.
O tempo das revoluções burguesas já passou, e as burguesias latino-americanas seguiram o receituário da associação subordinada às elites internacionais. No entanto, essas reformas inconclusas permanecem como necessidades históricas e tarefas fundamentais. Assim, a "questão nacional" é a forma de concretização de uma revolução proletária, nacional, democrática e popular, que submeta os interesses dos negócios aos do povo trabalhador.
Desse ponto de vista, a Venezuela caminha como um exemplo de país que – não sem contradições – leva adiante a sua revolução nacional, enfrentando – por isso – o inimigo principal das classes trabalhadoras que é o imperialismo estadunidense. Os feitos levados adiante pela Revolução Bolivariana nada mais são do que as tarefas não realizadas da revolução burguesa, que – nessa fase histórica – só podem ser concretizadas pelo povo em luta.
A Venezuela está sofrendo mais uma ofensiva imperialista, exatamente por avançar na reforma agrária, na soberania nacional sob os seus recursos e no rompimento com a histórica dependência americana. Ou seja, os EUA compreendem – melhor que parte da esquerda – que esse é o único caminho viável para a revolução socialista na periferia do sistema capitalista. Assim sendo, qualquer processo histórico de afirmação da soberania e da independência nacional é encarado como uma ameaça aos interesses da hegemonia capitalista, principalmente sob a América Latina.
Se partimos dessa compreensão, a “questão nacional” é a nossa expressão da luta de classes e, se comungamos que o principal inimigo das revoluções nacionais latino-americanas é o imperialismo estadunidense, não nos restará dúvidas de qual lado deveremos estar nessa trincheira.
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Juliane Furno é doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp, formadora da CUT e militante do Levante Popular da Juventude.
Edição: Cecília Figueiredo