Comemorado em diferentes partes do mundo, o carnaval tornou-se uma das maiores manifestações culturais brasileiras. Os dias de festa já começam semanas antes da data oficial de celebração, com bloquinhos tomando conta das ruas das cidades. Mas quem pensa que bloco de rua é só festa, está muito enganado. Temáticas de pautas importantes na sociedade estão presentes nos desfiles em várias capitais brasileiras, lembrando que carnaval também é uma forma de protesto. É o caso do enredo deste ano do bloco carioca Comuna que Pariu, como explica Buchecha, integrante da comissão organizadora.
“Nosso enredo traz outros enredos que já foram do Comuna, todos de luta e que estão nas nossas pautas diárias, então a gente coloca todos no samba desse ano e também um pouco da conjuntura”, conta ele.
Um dos versos do samba atual homenageia Marielle Franco, defensora dos direitos humanos e vereadora pelo PSOL assassinada no Rio de Janeiro (RJ) em 2018. Apesar da preocupação em relação à segurança do bloco, por conta da temática, Buchecha ressalta que não haverá “nenhum passo atrás”.
A resistência esteve presente nos blocos de carnaval brasileiros desde a sua origem, durante o período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas no país era o chamado entrudo, festa de origem portuguesa praticada pelos negros escravizados, que saíam às ruas com os rostos pintados e jogando farinha nas pessoas. A prática de rua foi criminalizada durante o século XIX no Rio de Janeiro enquanto a elite festejava dentro dos clubes da cidade. O surgimento dos cordões de carnaval também vem desse contexto, como forma de disciplinar a comemoração.
A pauta antirracista e de valorização da cultura afro é uma das presentes em diversos blocos de carnaval, como o Angola Janga, de Belo Horizonte, é um deles. Fundado em 20 de novembro de 2015, o bloco é atualmente um dos maiores da capital mineira. Nayara Garófalo, co-fundadora do bloco, explica que o intuito é abordar também outros temas dentro da luta pelas políticas de igualdade racial.
“A gente entende que uma pessoa negra não é só negra, mas ela também pode ser negra LGBT, uma pessoa negra mulher, uma pessoa negra mulher trans, uma pessoa negra de candomblé e que todas essas questões precisam ser levadas em consideração”, explica.
Em um momento político de cada vez mais retrocessos no país, as pautas antifascistas, feministas, contra machismo, racismo e lgbtfobia, seguem firmes durante o carnaval. Confira alguns dos blocos “de luta” pelo Brasil.
São Paulo
O bloco Sai, Hetero! vem com o intuito de responder ao preconceito sofrido pelo povo LGBT+. Todos são benvindos e o bloco enaltece que amigos e simpatizantes heteros são uma base fundamental do movimento, que preza pela aceitação, tolerância e amor!
Data: 05/03
Horário: Das 14h às 20h
Onde: Rua Augusta
Com o tema Negras Vozes - Tempos de Alakan, o bloco afro Ilú Obá de Min é composto somente por mulheres. O objetivo é enaltecer as culturas afro-brasileira e africana e o empoderamento feminino. O enfrentamento do racismo, sexismo, discriminação, preconceito, intolerância religiosa e homofobia também são pautas do bloco.
Horário: Concentração às 15h
Data: 03/03
Onde: Alameda Barão de Piracicaba, 610
Com a missão de exaltar a busca por equidade e respeito à liberdade individual da mulher, o bloco Pagu conta com uma bateria de cem mulheres. O Bloco Pagu nasceu em outubro de 2016.
Horário: 14h
Data: 05/03
Onde: Avenida Tiradentes
Rio de Janeiro
Auto intitulado como um bloco revolucionário do proletariado e organizado pela célula de cultura do PCB, o Comuna que Pariu completa 10 anos em 2019. Sempre com enredos de luta, o bloco traz relembra grandes nomes da resistência como Marielle Franco e Mariguella.
Data: 04/03
Horário: Das 15h às 21h
Onde: Rua Alcindo Guanabara, Centro, Rio de Janeiro
Bloco criado em homenagem a Horácio José da Silva, conhecido como Prata Preta, capoeirista e estivador, símbolo de luta contra o governo durante a Revolta da Vacina, em 1904.
Data/horário/local: A definir
É o primeiro bloco feminista do carnaval carioca. O surgimento se deu já como forma de luta, em 2015, como protesto contra uma postagem machista na internet que dizia: “Não mereço mulher rodada”. O bloco conta sempre com banda formada somente por mulheres e traz a pauta do feminismo como a principal luta, atuando muito além da época do carnaval.
Data/horário: A definir
O bloco Se Benze que Dá é constituído por moradores do bairro Maré, maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro. Além de trazer a festividade do carnaval, o bloco atua como instrumento de luta política.
Data/horário: A definir
Salvador
Com temática anti racista e feminista, o bloco Didá na capital baiana é composto somente por mulheres comandando os batuques. O bloco surge da Instituição Didá, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de mulheres e crianças através da arte-educação.
Data/horário e local: A definir
Recife
Fundado em 1976 em Olinda por um grupo de amigos que se juntou para curtir a folia do carnaval e criticar a ditadura militar em vigor na época. Anos depois, o bloco Eu Acho é Pouco segue firme sem perder o espírito crítico em meio aos sonhos, cores, sons e alegrias do carnaval. A camisa do bloco deste ano, por exemplo, vem com frases como “foi golpe”, “povo sem medo”, “revolução”, “ninguém solta a mão de ninguém” e muitas outras frases de resistência.
Data: Dias 02/03 e 05/03
Horário: Saída do bloco às 17h
Onde: Praça dos Milagres
Bloco do MST
O bloco do Movimento dos trabalhadores Sem Terra acontece desde 2000 nas ruas de Olinda. Cada ano o bloco sai com um tema diferente, decidido pelo próprio movimento de acordo com a conjuntura.
Data/horário e local: A definir
Belo Horizonte
Maior bloco afro de Belo Horizonte, tem como intuito trabalhar o empoderamento negro e a diversidade de gênero, sexualidade e religiosidade. Angola Janga também atua na educação com projetos sociais.
Bloco de carnaval de mulheres lésbicas e bissexuais. É a força da mulher sapatona!
As mulheres do bloco levantam as pautas feministas, anti-fascistas e anti racistas e contra transfobia.
Data/horário e local: A definir
Porto Alegre
O Bloco da Diversidade surgiu durante a campanha eleitoral de 2014, quando a onda conservadora ganhou força no país. A organização se dá por Grupos de Trabalho GT de forma coletiva e aberta. O objetivo é atuar em defesa da diversidade étnica, cultural, de gênero e de orientação sexual, contra o racismo, o machismo e a homofobia através da cultura.
Data: 10/03
Horário: Das 15h às 22h
Onde: A definir
Edição: Mauro Ramos