Saúde

Vacina contra Meningite C foi incorporada no governo Lula, relembra sanitarista

Entre 2010 e 2013, o Ministério da Saúde introduziu sete novas vacinas no calendário de imunização da rede pública

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Meningite meningocócica não está passível de ser eliminada nesse momento, a própria vacina garante proteção parcial contra a doença.
Meningite meningocócica não está passível de ser eliminada nesse momento, a própria vacina garante proteção parcial contra a doença. - Foto: Agência Brasil

No final de semana, a notícia de 2010 “Lula veta inclusão de 5 vacinas no calendário nacional” voltou a ser compartilhada nas redes sociais. Comentários responsabilizaram o ex-presidente por suposta falta da imunização e, como consequência, a morte de Arthur Lula da Silva, de 7 anos, vítima de meningite meningocócica. Filho de Marlene Araújo Lula da Silva e Sandro Luis Lula da Silva, e neto de Lula, Arthur morreu na última sexta-feira (1º), cinco horas depois de ter dado entrada no Hospital Bartira, em Santo André.

A partir de março de 2010, o Sistema Único de Saúde incorporou duas novas vacinas no calendário nacional de imunização, a pneumocócica 10-valente e a anti-meningococo C, oferecidas em postos de saúde de todo o país para crianças menores de dois anos de idade.

A meningocócica é causada por bactéria e, junto com a pneumocócica, é considerada uma das formas mais graves e preocupantes da doença.

O médico sanitarista Cláudio Maierovitch, que foi responsável pela Comissão de Incorporação de Tecnologias (Citec) -- que deu origem à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) --, criada no período em que o Sistema Único de Saúde incluiu a vacina contra a Meningite tipo C. “O período de governo [Lula], iniciado em 2003, provavelmente foi o que houve a maior quantidade de incorporação de vacinas pelo [espaço de] tempo. Até então diversas vacinas já compunham o Calendário [Vacinal] que existiam há 30 anos. Nos 10 anos seguintes, houve uma incorporação rápida de várias vacinas”, acrescenta o sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Entre 2010 e 2013, o Ministério da Saúde introduziu sete novas vacinas. Em 2010, foi a vacina pneumocócica 10 valente e meningocócica C conjugada. Em 2012, incluiu a vacina penta (difteria, tétano, pertussis, Haemophilus influenza tipo b e hepatite B) e a vacina inativada poliomielite (VIP). Já em 2013, o Programa Nacional de Imunização (PNI) ampliou a oferta da vacina hepatite B, de 29 para 49 anos de idade.

Maierovitch esclarece que o veto do governo à lei aprovada no Congresso Nacional foi em decorrência de que as vacinas sugeridas já estavam incorporadas no calendário vacinal. Ele esclarece ainda que as vacinas incorporadas ou suprimidas têm base em análise científica, de evidências.

“O governo Lula incorporou a vacina contra a meningite C tão logo os estudos que deram base a sua incorporação, que levaram em conta quais os riscos reais de cada tipo de doença e as necessidades, ficaram prontos. Não houve demora em relação a isso”, afirma.

A meningite meningocócica não está passível de ser eliminada nesse momento. A própria vacina possibilita uma proteção parcial contra a doença, mas não extingue a possibilidade de as pessoas portarem a bactéria. “Com a vacinação introduzida em 2010, a ocorrência de meningite pelo tipo C vem baixando continuamente”, diz o sanitarista.

Em nota, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) reforça a afirmação de Maierovitch sobre os efeitos positivos da introdução destas vacinas em pesquisas recentes, como a de França et al. (Revista Brasileira de Epidemiologia, 2017) e de Bierrenbach et al (Human Vaccines & Immunotherapeutics, 2018), que indicaram a diminuição dos óbitos por meningite entre menores de 5 anos no país. Isso demonstra resultados concretos dos investimentos em medidas de saúde pública para problemas de relevância para a sociedade brasileira.

Corrida aos postos de saúde

Preocupada com a corrida aos postos de saúde, Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIM), enviou um áudio a grupo de sanitaristas, desmistificando informações difundidas nos últimos dias sobre o sorogrupo que atingiu o neto de Lula – ainda desconhecido – e que outros fatores devem ser considerados para o diagnóstico.

“[Vacina] Meningocócica C protege [contra a Doença Meningocócica pelo sorogrupo] Meningo C. Hoje, pelo menos de 20% a 25%, em Santa Catarina já 46% dos casos, é Meningo W. Em crianças pequenas, menores de cinco anos, 60% é [tipo] B. Em crianças de 7 anos ou de qualquer idade, o [sorotipo] B é mais que o C. O [sorotipo] C só prevalece com mais importância nos grupos não-vacinados e principalmente entre os adultos, onde houve aumento da doença e não diminuição”, detalhou.

Os médicos ressaltam a importância da sociedade respeitar o calendário vacinal, com as doses nas idades orientadas, fazer os reforços das vacinas e que a população mantenha a calma.

"Vamos esperar os resultados [da investigação pela Vigilância Epidemiológica], deixar a população acalmada, porque infelizmente um caso de doença meningocócica, mesmo numa pessoa sendo filho de um famoso não faz surto. Infelizmente é algo comum [a ocorrência da doença]", orienta.

A doença meningocócica, Ballalai lembra, "acontece de forma endêmica no nosso país e é por isso que se tem de vacinar". Na opinião da vice-presidente da SBIM, o ideal é a vacinação de forma ampliada, protegendo não apenas o sorotipo C, "mas dos demais sorogrupos que circulam entre nós".

Meningite

De acordo com o Ministério da Saúde, a doença é um processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Pode ser causada por diversos agentes infecciosos (bactérias, vírus ou fungos), ou também por processos não infecciosos como, por exemplo, medicamentos e neoplasias.

Todas as faixas etárias podem ser acometidas pela doença, porém o maior risco de adoecimento está entre as crianças menores cinco anos, especialmente as menores de um ano de idade. A Doença Meningocócica causada pela bactéria Neisseria meningitidis, além das crianças, os adolescentes e adultos jovens têm o risco de adoecimento aumentado em surtos.

No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Deste modo o Ministério da Saúde informa que casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno, e das virais na primavera-verão.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2018, foram registradas 1.072 ocorrências de doença meningocócica no Brasil e 218 mortes. Em 2017, no mesmo período, foram 1.138 e 266, respectivamente.

Em relação à meningite pneumocócica, foram 1.030 ocorrências e 321 mortes em 2017, e 934 e 282 em 2018. As meningites causadas por outras bactérias somaram 2.687 notificações e 339 óbitos em 2017, e 2.568 e 316 em 2018.

No caso da viral, o Brasil registrou 7.924 casos e 107 mortes em 2017. No ano passado, foram 7.873 e 93. Já meningites com outras causas contabilizaram 796 ocorrências e 169 óbitos em 2017, e 624 e 122 em 2018.

Meningite bacteriana

Trata-se da forma mais grave da enfermidade, e são várias as bactérias que podem provocá-la. A incidência de cada meningite está associada à faixa etária.

O Ministério da Saúde alerta que os recém-nascidos estão suscetíveis a bactérias Streptococcus do grupo B, Streptococcus pneumoniae, Listeria monocytogenes e Escherichia coli; bebês e crianças, Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae e Streptococcus do grupo B; adolescentes e adultos jovens, Neisseria meningitidis e Streptococcus pneumoniae; e idosos, Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae, Streptococcus do grupo B e Listeria monocytogene.

Entre os sintomas estão febre alta, dor de cabeça e rigidez do pescoço ou da nuca. É bastante comum também a pessoa apresentar mal estar, náusea, vômito, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz) e confusão mental. Mas pode evoluir para convulsão, delírio, tremor e coma.

Meningite Viral

As meningites virais podem ser transmitidas de diversas maneiras a depender do vírus causador da doença. No caso dos Enterovírus, a contaminação é fecal-oral, e os vírus podem ser adquiridos por contato próximo (tocar ou apertar as mãos) com uma pessoa infectada; tocar em objetos ou superfícies que contenham o vírus e depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos, trocar fraldas de uma pessoa infectada, depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus. Já os Arbovírus são transmitidos por meio de picada de mosquitos contaminados.

Fúngica

A meningite fúngica não é transmitida de pessoa para pessoa. Geralmente os fungos são adquiridos por meio da inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos) que entram nos pulmões e podem chegar até as meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal). Alguns fungos encontram-se em solos ou ambientes contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos. Já um outro fungo, chamado Candida, que também pode causar meningite, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar.

Parasita

Os parasitas que causam meningite não são transmitidos de uma pessoa para outra, e normalmente infectam animais e não pessoas. As pessoas são infectadas pela ingestão de produtos ou alimentos contaminados que tenha a forma ou a fase infecciosa do parasita.

Tratamentos

A pasta da Saúde também orienta, por meio de nota que, devido à gravidade do quadro clínico, os casos suspeitos de meningite sempre são internados nos hospitais, por isso, ao se suspeitar de um caso, é urgente a procura por um pronto-socorro hospitalar para avaliação médica.

Outras formas de prevenção incluem: evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados e limpos.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque