A ex-presidenta Dilma Rousseff foi uma das nove mulheres e entidades em defesa dos direitos da mulher homenageadas pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) na quinta edição do prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos. A sessão solene de premiação ocorreu nesta sexta-feira (8), Dia Internacional de Luta das Mulheres, no plenário Juscelino Kubitschek.
A presidenta foi representada no evento pela ex-ministra da extinta Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci. “Eu estou aqui representando a presidenta Dilma com muito orgulho, muita honra. Além do reconhecimento pelas políticas que nós desenvolvemos como titulares, ela como presidenta e eu como ministra, esse prêmio é o reconhecimento de uma grande mulher e que leva o nome de uma grande mulher que foi minha companheira, amiga, militante, feminista, que é a nossa querida e saudosa Beth Lobo. Ela partiu muito cedo e deixou um legado enorme”, lembrou.
A ex-ministra leu uma mensagem enviada por Dilma em tom de agradecimento pelo prêmio e de alerta sobre o atual cenário de violação dos direitos humanos no país. A ex-presidenta atribuiu à chegada do “clã” Bolsonaro ao poder como dos principais fatores de aumento dos crimes de ódio contra mulheres e outras minorias sociais no Brasil.
"Os que ascenderam ao poder não apenas toleram a violência, como a defendem, a incentivam, e acabam por insuflá-la. O discurso de ódio do ‘clã’ e das forças políticas que assumiram o governo concedeu uma macabra licença para agredir e matar mulheres, negros e LGBTs", escreveu Dilma.
Outra homenageada foi a coordenadora da Associação de Movimento por Moradia e da Central de Movimentos Populares, Tereza Lara, por mais de 40 anos de enfrentamento à pobreza e pela garantia do direito à moradia digna, regularização fundiária e urbanização de favelas.
“Eu acho que, quando vai para o movimento [social], a gente leva uma bandeira enorme, que é a defesa dos direitos humanos. E, com isso, as crianças e adolescentes, mulheres, cultura, juventude. Eu acho que é um pouco de cada coisa o que você traz com você”, analisou.
A deputada Beth Sahão, do Partido dos Trabalhadores (PT), presidiu a mesa da sessão solene e ressaltou a pertinência do prêmio diante da realidade “assustadora” da violência contra as mulheres.
“Os índices que nós temos recebido são assustadores. A cada 60 horas, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil. É muito alto. Mais um pouco, nós vamos atingir o topo no mundo. Isso nos envergonha”, disse.
Marielle presente
Durante a sessão, algumas das homenageadas dedicaram o prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos à vereadora Marielle Franco (PSOL), como forma de protesto contra a impunidade sobre o seu assassinato -- que completa um ano no próximo dia 14 de março.
Na mensagem lida pela ex-ministra Eleonora Menicucci, a ex-presidenta Dilma cobrou o esclarecimento do crime e a punição dos culpados: “Falta menos de uma semana para que complete um ano da execução covarde de Marielle Franco e seu motorista [Anderson Gomes]. Uma jovem vereadora militante das causas das mulheres, dos negros e dos movimentos LGBTI, e ninguém foi preso pelo crime, embora até as pedras das calçadas do Rio de Janeiro saibam que os assassinos são milicianos, com suspeita proximidade com essa gente que está no poder”.
Além de Dilma e Tereza Lara, foram homenageadas Dalila Figueiredo, da Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (Asbrad); Natacha Lopes, produtora de moda e empresária; Camila Lissa, membro da ONG Conectas de Direitos Humanos; Adriana Barbosa, do Instituto Feira Preta; Preta Rara, artista e blogueira; além das instituições Bem Viver Mulher e o Instituto Geledés da Mulher Negra.
Beth Lobo
Elisabeth Souza-Lobo foi uma feminista e professora da Universidade de São Paulo (USP). É considerada uma das mais importantes referências do sindicalismo e do movimento de mulheres. Ela participou de entidades do movimento feminista, como a Associação de Mulheres de São Paulo, incentivou a formação do grupo Sexualidade e Política e contribuiu com o processo de organização das mulheres sindicalistas.
Beth Lobo faleceu em um acidente de carro em 1991, aos 47 anos. O prêmio que leva o nome dela foi criado em 2012 por iniciativa do ex-deputado Adriano Diogo, então presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp, para homenagear pessoas e entidades que se destacaram na defesa dos direitos das mulheres e no enfrentamento da violência de gênero.
Essa matéria faz parte do especial Março das Mulheres, produzido pelo Brasil de Fato.
Edição: Daniel Giovanaz