Falar de maconha no Brasil ainda é um desafio, pois a maioria das pessoas associa essa erva medicinal à “porta de entrada” para o consumo de drogas ilícitas e até para o mundo da criminalidade. O que é compreensível pois, desde o início do século 20, foi essa a imagem que se construiu em torno da cannabis quando seu consumo e comércio foram proibidos.
Mas, você já parou para pensar porquê a maconha, que é uma erva medicinal, foi criminalizada? Não foi pelo simples fato de ter propriedade alucinógena, pois na natureza há várias outras espécies que são capazes de induzir, quem as usa, a estados de grande excitação cerebral; ou tampouco por ser classificada como droga, já que toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifique suas funções, também é droga (por exemplo: cafeína, nicotina, analgésicos, estimulantes, álcool, etc). Há uma superficialidade evidente nessa diferenciação entre drogas lícitas e ilícitas. Como diria minha avó, tem caroço nesse angu.
No Brasil, a história da proibição da maconha está diretamente ligada à tentativa de criminalizar a população negra que há pouco havia conquistado sua liberdade, saindo da condição de escrava, mas ainda muito discriminada e perseguida. A erva era comumente encontrada nas festas e celebrações afro-brasileiras.
Outros “interesses” também fortaleceram a onda de criminalização da cannabis. Historicamente, o cânhamo era utilizado para produção de papel, de caravelas e de tecidos, fato que ameaçava alguns empresários, que por sua vez, impulsionaram a proibição. Não faltou quem apoia$$e a criminalização e aproveitasse o momento para dar um UP no comércio de bebidas alcoólicas e cigarros, como alternativas lúdicas para festas e celebrações.
Atualmente, a discussão sobre a descriminalização da maconha no Brasil ganha força com as evidências científicas que comprovam a eficiência do uso medicinal da cannabis como alternativa de tratamento para diversas doenças graves, a exemplo de câncer, Parkinson, epilepsia, depressão e até autismo. Mas precisamos ampliar ainda mais esse debate, pois os “olhos e ouvidos” de poderosas indústrias e empresários estão atentos e interessados. Reduzir ao domínio de uma categoria profissional e da indústria farmacêutica a permissão para explorar as propriedades dessa planta, é privar a grande maioria da população de se beneficiar do seu poder medicinal.
O uso medicinal e terapêutico da maconha deve voltar ao seu lugar de origem, que é a cultura popular, os quintais de ervas das avós com suas receitas caseiras poderosas, as celebrações e festejos brasileiros. A liberdade para resgatar os saberes ancestrais sobre a utilização dessa erva é o caminho para cura de muitas doenças físicas, emocionais e sociais que assolam a humanidade.
Devolvam a erva ao povo! Libertem a cannabis!
* Mulher, mãe, enfermeira, doula e terapeuta integrativa.
Edição: Heloisa de Sousa
