Dois aviões militares russos chegaram à Venezuela no último final de semana com equipamentos e membros das forças armadas do país. A bordo estava o chefe do Estado Maior do Exército russo, Vasily Tonkoshkurov, acompanhado de uma comissão técnica de 99 militares, assim como 35 toneladas de equipamentos.
A chegada dos militares russos está ligada ao cumprimento de “acordos de cooperação técnico-militares”, anunciou em uma entrevista coletiva a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, María Zajárova, que falou sobre o tema nessa terça-feira (26). "A Rússia desenvolve cooperação com a Venezuela em estrita conformidade com a Constituição desse país e no pleno respeito de sua legislação", disse a porta-voz russa.
Zajárova ressaltou que o governo russo pretende continuar cooperando construtivamente com a Venezuela, que é um parceiro estratégico da Rússia, além de outros países da América Latina e do Caribe.
Nos Estados Unidos, a agência de notícias Reuters publicou, na tarde de terça-feira, que na comitiva russa também participam integrantes de forças especiais e especialistas em ciberseguraça, citando uma “fonte oficial estadunidense”. O funcionário teria dito ainda que os Estados Unidos classificaram de "escalada imprudente" a aproximação militar da Rússia com a Venezuela.
O Grupo de Lima, conformado por 13 países das Américas para tratar de questões relacionadas à Venezuela, se manifestou sobre o tema também nessa terça. Por meio de nota, o grupo criticou a chegada de aviões militares na Venezuela. “Reiteramos a nossa condenação a qualquer provocação ou instalação militar que ameace a paz e a segurança na região”, dizia o comunicado.
Na semana passada, o presidente Nicolás Maduro havia anunciado a criação de uma comissão internacional multidisciplinar, entre venezuelanos, russos e chineses, para investigar os possíveis ataques cibernéticos, assim como ajudar na vigilância e na criação de sistemas de proteção das redes cibernéticas da Venezuela. No entanto, o governo venezuelano não confirmou se os militares russos que chegaram vão contribuir com essa comissão.
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Do que se trata a cooperação
Apesar das especulações da imprensa internacional, a embaixada russa na Venezuela nega que a chegada dos militares tenha vínculo com os últimos eventos de embate político entre a oposição venezuelana – em conjunto com Estados Unidos e Colômbia –, e o governo do presidente Nicolás Maduro.
Além disso, as fontes da embaixada da Rússia no país sul-americano acrescentaram que esses voos "não têm nada de misterioso", porque são feitos no âmbito de contratos que foram assinados anos atrás, informou a agência russa de notícias Sputnik.
Um alto funcionário do Ministério de Relações Exteriores da Venezuela consultado pelo Brasil de Fato disse que a operação está vinculada aos treinamentos conjuntos entre militares venezuelanos e russos iniciados há meses e que possui uma agenda contínua.
O comandante do Exército russo Vasily Tonkoshkurov já havia estado na Venezuela em dezembro do ano passado, quando se reuniu com o almirante venezuelano Remigio Ceballos, chefe do Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), o número dois na cadeia de mando militar venezuelana, depois do ministro da Defesa, Vladimir Padrino López.
Nessa ocasião, ficou estabelecido que o objetivo principal dos exercícios militares conjuntos era “reforçar a capacidade operativa” das forças de segurança da Venezuela, segundo informações divulgadas pelo Exército venezuelano.
Em entrevista ao canal estatal venezuelano VTV, em fevereiro, o almirante Remigio Ceballos disse que a FANB está trabalhando para otimizar sua capacidade combativa e de defesa territorial.
Posição da China
O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Geng Shuang, também se pronunciou sobre a Venezuela. "A China está disposta a trabalhar com a comunidade internacional para ajudar a que a Venezuela recupere sua estabilidade o mais rápido possível. Enquanto isso, vamos desenvolver nossa cooperação amistosa com a América Latina. A América Latina não pertence a nenhum país e não é pátio traseiro de ninguém", disse o porta-voz.
No mesmo contexto, o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, também se pronunciou essa semana, depois de uma conversa telefônica com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. "As tentativas de Washington de organizar um golpe de Estado na Venezuela violam a Carta da Organização das Nações Unidas", disse Lavrov depois da reunião. Ele destacou ainda que os EUA exercem uma "ingerência não dissimulada" nos assuntos internos da Venezuela, segundo informações da chancelaria russa.
Pompeo, por sua vez, disse que os EUA "não vão ficar de braços cruzados enquanto a Rússia ajuda a aumentar a tensão na Venezuela", ao se referir à chegada de militares russos no país sul-americano. As declarações foram divulgadas pelo Departamento de Estado dos EUA, segundo a imprensa estadunidense.
Edição: Vivian Fernandes