A visita de Jair Bolsonaro (PSL) a Israel tem gerado polêmicas na política internacional. A primeira delas ocorreu ainda antes da viagem: o presidente brasileiro não buscou a representação diplomática palestina. Durante a visita, o anúncio de um escritório para relações comerciais localizado em Jerusalém e uma visita ao Muro das Lamentações também não foram atitudes bem vistas. Em sinal de protesto, os palestinos convocaram de volta ao estado o embaixador no Brasil.
Para o pesquisador em Relações Internacionais, Arturo Hartmann, o sentido e impacto das ações devem ser compreendidos à luz da importância da cidade no conflito árabe-israelense.
“Se criou um consenso [internacional] em que Jerusalém vai ter que ser dividida. Você pode concordar ou não com isso, mas tem um lado ocidental, que deveria ser israelense e é. E tem o lado oriental de Jerusalém, que deveria ser palestino, mas hoje não é palestino, ou seja, você tem uma cidade ocupada por forças israelenses que não deveriam estar lá”, afirma.
Em sua visão, Bolsonaro, ao romper com a tradição diplomática brasileira, passa a mensagem de que tomou o lado israelense na questão.
“O muro está no território que a lei considera palestino. No caso do Bolsonaro, quando ele decide visitar esse lugar, ele está transmitindo uma mensagem, ignorando completamente o fato de que essa cidade é ocupada, que existe uma disputa internacional, e, no fim, um crime internacional, cometido por Israel”, diz.
Em relação ao escritório comercial, Hartmann entende que Bolsonaro criou uma saída de meio-termo: de um lado, recuou da iniciativa de mudar a embaixada por conta da pressão e retaliação dos países árabes e, de outro, manteve o alinhamento à posição dos EUA em relação à questão.
“Isso pode implicar, aos poucos, uma mudança de normatividade em relação a Jerusalém. Ou seja, o Brasil está participando da produção de violência contra os palestinos. No sentido diplomático, você está destruindo consensos e corroborando, em termos práticos, para a usurpação das terras dos palestinos”, aponta.
Já Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC São Paulo, entende que as duas medidas simbólicas têm mais repercussões concretas na política doméstica brasileira do que propriamente na situação entre palestino e israelenses: “Quando o assunto é interno ao Brasil, essas questões aparecem. Quando é externa, ela some”.
Crítico da ideia de que os países árabes são apoiadores da causa palestina, Nasser defende que a questão é utilizada no plano internacional por outras razões.
“Quem manda nesses governos é a elite árabe que está se lixando para os palestinos. Agora, por que isso acontece e não é a primeira vez? Eles usam disso pra tentar realizar algum tipo de interesse”, critica.
Após a viagem de Bolsonaro a Israel, embaixadores árabes em Brasília pediram uma reunião com o governo e devem ser recebidos pelo Ministério da Agricultura.
Edição: Aline Carrijo