Jair Bolsonaro (PSL) é o primeiro presidente brasileiro, desde a redemocratização, a sugerir “comemorações” no aniversário do golpe militar. Além do aumento da letalidade da polícia, que cresceu progressivamente durante o período de 1964 a 1985, os anos chumbo continuam a reverberar na história, na política e na economia brasileiras de diferentes formas.
O modelo predatório de construção de barragens, que resultou nos crimes socioambientais de Mariana (MG) e Brumadinho (MG), por exemplo, foi adotado naquela época e continua vigente.
Assim como os cineastas mantiveram viva a memória da resistência e da violência durante a ditadura militar, na literatura não é diferente. Conheça cinco livros, teóricos e ficcionais, que abordam o tema e ajudam a compreender o contexto que levou 5 mil pessoas a serem exiladas e resultou na morte de mais de 5 mil opositores, segundo dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
O Governo João Goulart - As lutas sociais no Brasil, de Luiz Alberto Moniz Bandeira
A obra do cientista político Moniz Bandeira, editada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), traça um panorama político-econômico nacional pré-golpe, enquanto João Goulart era presidente. Além de documentos, Bandeira recorre a depoimentos de diferentes personagens para traçar o cenário que culminou no regime ditatorial iniciado há 55 anos.
Série Ditadura, de Elio Gaspari
Após uma extensa pesquisa e acesso a documentos inéditos, o jornalista Elio Gaspari estruturou a Série Ditadura, lançada pela Editora Intrínseca. Com um texto fluido e de fácil compreensão, os cinco volumes trazem desde notas manuscritas até áudios inéditos e relatórios governamentais, que contam a organização do golpe de Estado e os motivos que levaram à radicalização do regime e sua abertura.
Além da biografia dos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, um dos volumes também apresenta parte da trajetória de Lula (PT), que teve início naquele período.
K: Relato de uma busca, de Bernardo Kucinski
Publicado em 2011 pela editora Expressão Popular, o romance escrito pelo jornalista e cientista político Bernardo Kucinski conta a história de sua irmã, quando ela e o marido são detidos por militares e se tornam vítimas de desaparecimento forçado.
O livro narra a dificuldade de familiares em romper com o silêncio em um período em que os militares se recusavam a fornecer informações sobre o paradeiro dos presos políticos.
Batismo de Sangue - Guerrilha e morte de Carlos Marighella, de Frei Betto
O livro aponta para a tese de que o assassinato de Carlos Marighella, guerrilheiro negro, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), teria sido planejado para eliminar o inimigo número um do regime e enfraquecer a resistência. A ideia, segundo Frei Betto, era criar um cenário de desconfiança entre a esquerda brasileira e os frades dominicanos.
Os religiosos eram descritos pelos militares como traidores que teriam supostamente entregue a localização de Marighella. A obra é considerada uma referência nos debates sobre a relação entre fé cristã e ação política revolucionária.
Cabo de Guerra, de Ivone Benedetti
Finalista do Prêmio São Paulo, o romance de Ivone Benedetti reflete sobre a repressão institucionalizada durante o regime, que atingia os brasileiros de distintas maneiras.
Por meio de um personagem militante, que se torna um infiltrado para os militares, a autora traça uma perspectiva subjetiva sobre o golpe e estimula a reflexão acerca do poder de decisão pessoal naquele período.
Edição: Daniel Giovanaz