Mais de 12 mil integrantes de movimentos indígenas, camponeses, afro-colombianos e outras organizações populares realizam, desde o dia 10 de março, uma série de protestos para exigir que o governo colombiano, do direitista Iván Duque (Partido Centro Democrático), se reúna com as lideranças sociais e cumpra os acordos estabelecidos durante as jornadas anteriores.
Intitulada “Minga pela Defesa da Vida, do Território, da Democracia, Justiça e Paz”, a jornada teve início no norte do departamento de Cauca, um dos territórios mais afetados pelo conflito armado no país. Dez dias após o início dos protestos na região, a mobilização ganhou caráter nacional e acontece em pelo menos seis outros territórios da Colômbia.
Conforme a mobilização pelo diálogo nacional cresce, o governo colombiano, após afirmar que “as vias de fato não contribuem para criar confiança", responde com mais repressão.
Nesta terça-feira (2), a Minga colombiana reportou o assassinato de um manifestante camponês, identificado como Deiner Yunda Camayo, de 20 anos, pelo Esquadrão Móvel Antidistúrbios (ESMAD), uma força de operações especiais da Polícia Nacional da Colômbia, ativada pelo governo Duque para reprimir os protestos.
A morte do camponês teria sido causada por um disparo de arma de fogo contra os manifestantes durante um protesto que bloqueou uma rodovia em Cauca, outros seis manifestantes ficaram feridos, segundo informações da teleSUR.
Diante da negativa do presidente de atender aos pedidos dos líderes que organizam a Minga, que exigem que Iván Duque compareça ao território de Cauca para discutir os acordos, os manifestantes anunciaram, no último domingo (31), o rompimento das tentativas de diálogo com o governo.
Duque não compareceu ao encontro acordado e agendado para o dia 12 de março, e os manifestantes não aceitaram dialogar com a representante enviada pelo governo, a ministra do Interior, Nancy Patricia Gutiérrez.
O governo afirmou, então, que uma nova tentativa de diálogo seria iniciada nesta terça, mas o quadro de repressão desta tarde pode dificultar a negociação entre as duas partes.
Após a repressão e a morte do camponês, a Minga divulgou uma carta através da qual faz um apelo direcionado aos organismos de direitos humanos nacionais e internacionais, como a Missão de Apoio ao Processo de Paz na Colômbia (OEA) e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, para que acompanhem os familiares da vítima fatal e intervenham no conflito.
Reivindicações
Entre os principais pontos que compõem a agenda de mobilizações das comunidades afetadas estão:
- A efetivação dos mais de 1.200 acordos não cumpridos pelos governos anteriores em mais de 20 anos; entre eles, o cumprimento dos acordos assinados entre o Estado e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em 2016, e o reestabelecimento das negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN), principal força insurgente no país;
- A defesa da vida, da paz e dos direitos humanos, pois destacam que após o Acordo de Paz firmado em 2016, cerca de 117 lideranças indígenas foram assassinadas;
- A reformulação do Plano Nacional de Desenvolvimento, que atualmente está baseado no modelo de mineração extrativista e autoriza métodos como o fracking (técnica de extração de gás de xisto ou folhelho), rejeitado pelas comunidades locais. Os manifestantes exigem ainda que seja incluído um capítulo especial sobre as comunidades indígenas e afro-colombianas, com um orçamento próprio para estas populações.
Governo
As demandas das comunidades e movimentos que organizam a Minga contrastam com a linha política do governo de Iván Duque, que assumiu em agosto de 2018 em meio a uma série de conflitos, como o aumento no número de assassinatos de líderes sociais e o acirramento da guerra armada e da atuação de paramilitares em territórios indígenas e camponeses.
Considerado herdeiro de Álvaro Uribe, um dos ex-presidentes direitistas do país, Duque baseou sua campanha em severas críticas ao acordo de paz firmado com as FARC e têm dificultado o avanço nas negociações com o ELN.
Em declarações recentes, Duque chegou a afirmar que seu antecessor, Juan Manuel Santos, “fez acordos impossíveis de cumprir”.
Minga
A Minga Social é uma articulação permanente protagonizada por comunidades indígenas, camponesas e populares que, a cada dois ou três anos, realiza grandes jornadas de luta no território colombiano, incluindo paralisação das atividades agrícolas e bloqueio das principais vias do país, como forma de pressionar o governo por mudanças sociais. A última foi realizada em 2016, durante 13 dias, quando os manifestantes conquistaram uma série de acordos que ainda não foram cumpridos.
Minga, em quechua minka, é a forma de organização comunitária ancestral indígena que segue vigente em diversos países da América do Sul, como Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Chile e Paraguai.
*Com informações do Colombia Informa e da teleSUR.
Edição: Aline Carrijo