Alvo de diversas investigações por corrupção e suborno, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, embora não apareça disparado na frente nas pesquisas, busca se reeleger e conquistar o 4º mandato consecutivo nas eleições parlamentares israelenses de 2019 que acontecem nesta terça-feira (9).
As últimas sondagens de intenção de voto foram divulgadas pelo Canal 13 no último sábado (7) e colocam "Bibi" empatado com o candidato da coalizão centrista Kahol Lavan (Azul e Branco em hebraico), Benny Gantz, com 28 assentos no Parlamento cada.
Entretanto, embora corra o risco de obter menos cadeira do que Gantz, a pesquisa indica que o Likud, partido liderado por Netanyahu, seria capaz de formar uma coalizão com mais de 61 das 120 cadeiras no Knesset, a maioria necessária para formar um governo.
O fato não seria inédito na história eleitoral do país. Em 2009, após ter conquistado 28 assentos no Parlamento, a líder do partido centrista Kadima, Tzipi Livni, não conseguiu formar coalizão com demais partidos e perdeu a chance de assumir a liderança do governo israelense, abrindo caminho para Netanyahu, que havia conseguido 27 cadeiras do Knesset. Ou seja, Livni foi eleita pelo voto, mas perdeu a disputa política por apoio legislativo.
A sondagem ainda indica que o partido do atual premiê conquistaria 66 cadeiras no Parlamento por meio de coalizão com outras legendas ultraconservadoras, enquanto Gantz conseguiria apenas 54, liderando uma coalizão centrista formada por partidos de oposição e dissidentes do atual governo. De acordo com a imprensa local, mesmo que o partido de Gantz conquiste mais cadeiras que a legenda de Netanyahu, nada indica que ele conseguiria formar um governo que obtenha apoio de partidos que hoje formam a base do Likud.
Se o resultado se confirmar, "Bibi" se tornará o primeiro-ministro a governar Israel por mais tempo, somando cinco mandatos no total, além de conquistar mais cinco cadeiras no Knesset, aumentando as 61 que possui hoje.
As eleições, previstas para acontecer em novembro, foram adiantadas pelo governo em dezembro do ano passado, sob a justificativa de "responsabilidade orçamentária". Entretanto, a coalizão de Netanyahu se desgastou nos último meses por conta de uma lei que o governo queria passar sobre exceções no serviço militar obrigatório entre os judeus ortodoxos. Membros de outros partidos que apoiavam o Likud no Parlamento foram contra o projeto, alegando que "Bibi" estaria cedendo a pressões de grupos religiosos.
Yair Lapid, líder do partido Yesh Atid, que compunha o governo até o início de 2019, foi um dos parlamentares que rompeu com o consenso da coalizão. Hoje, Lapid é o segundo nome forte do Azul e Branco e, ao lado de Gantz, busca uma vitória nas eleições.
Outro fato que contribuiu para o desgaste político da legenda foi a renúncia do então ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, por divergências sobre a postura militar de Israel em relação aos palestinos em Gaza. Após a saída de Lieberman, outros parlamentares o acompanharam e o governo perdeu cinco assentos no Knesset.
Azul e Branco
Fundada em 2019, a legenda Kahol Lavan foi formada por dois opositores de Netanyahu: o ex-militar Benny Gantz, que já foi comandante do Estado-Maior, e o político centrista Yair Lapid, ex-ministro de Finanças de “Bibi”.
Em entrevista ao jornal Times of Israel, Gantz afirmou que a coalizão pretende oferecer ao país uma “nova visão sionista de democracia e assegurar o Estado judeu sob sua liderança”, enquanto que o atual primeiro-ministro, se continuar no cargo, irá se tornar uma versão do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, trazendo “a polícia, os juízes e a imprensa sob seu controle forçado”.
“As pessoas precisam entender de maneira muito simples: se elas querem uma alternativa positiva para tudo isso, ela têm apenas uma opção – [votar na coalizão] Azul e Branco nas urnas e nada mais”, disse o líder da legenda. Em meio a críticas ao premiê, Gantz ainda afirmou que acredita que a democracia do país pode estar ameaçada se Netanyahu for reeleito e destacou as diversas acusações de corrupção que recaem sobre o conservador.
“Netanyahu, em uma tentativa de proteger a si mesmo, está permitindo que um processo extremista tome conta do país. Me diga se soa normal para você. […] O ministro da Justiça ataca as cortes. E o primeiro-ministro ataca todo mundo, inclusive a mídia, porque ele também já foi ministro da Comunicação. Já está acontecendo”, disse Gantz.
Corrupção e suborno
O final do atual mandato do premiê conservador foi marcado por denúncias de corrupção e suborno. Em fevereiro, o procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, anunciou que o primeiro-ministro seria indiciado pelos crimes de corrupção, suborno e fraude, marcando a primeira vez que um chefe de governo israelense é alvo de um processo de corrupção durante o exercício do mandato.
No chamado “Caso 4000”, Netanyahu é acusado de oferecer concessões de regulamentação da mídia a Shaul Elovitch, o acionista controlador da empresa de telecomunicações israelense Bezeq, em troca de uma cobertura positiva no site de notícias da companhia, o Walla.
A polícia disse que a investigação concluiu que o premiê e Elovitch se envolveram em um “relacionamento baseado em suborno”. “Todos concordaram que haviam provas suficientes para provar que os benefícios foram dados a Netanyahu por Elovitch e sua esposa, Iris Elovitch, e foram levados por Netanyahu em troca de ações que ele tomou como parte de seu trabalho”, disse o procurador-geral.
O premiê ainda é alvo de outra acusação envolvendo veículos israelenses. O chamado “Caso 2000” aponta que Netanyahu teria feito um acordo com o editor do jornal Yedioth Ahronoth para que o diário também fizesse uma cobertura favorável ao governo de “Bibi”. Em troca, o primeiro-ministro prejudicaria o veículo concorrente, o jornal Israel Hayom.
Netanyahu ainda é investigado por aceitar doações e “presentes” de empresários no valor de 264 mil dólares (cerca de R$ 988 mil) em troca de favores políticos. Segundo as investigações, os “presentes” iam desde caixas de charuto até malas de dinheiro. O premiê pode ser condenado a até dez anos de prisão por suborno e mais três anos por fraude.
Em um último esforço para impedir a divulgação pública de acusação, o Likud pediu à Suprema Corte que adiasse o anúncio até depois das eleições, mas o tribunal rejeitou o pedido.
Política externa: Trump e Bolsonaro
Entretanto, a campanha de Netanyahu busca se desviar das acusações que ameaçam o premiê e aposta nos chamados “sucessos” que a administração conquistou na política externa. As relações com o presidente dos EUA, Donald Trump, a recente aproximação do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, e de outros governos conservadores do Leste Europeu, como o de Viktor Orban, na Hungria, são encarados por Netanyahu e seus apoiadores como conquistas políticas quer fortalecem o projeto de país conservador do Likud.
Medidas tomadas pelo governo Trump, como a mudança da embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém, e o reconhecimento das Colinas de Golã como território israelense, estreitaram os laços entre as duas nações.
Ao mesmo tempo, após a eleição de Bolsonaro, o Brasil mudou o direcionamento de sua diplomacia e se alinhou aos interesses israelenses na região. Na última semana, o presidente brasileiro visitou o país e compareceu ao Muro das Lamentações ao lado de Netanyahu, o que foi encarado como um posicionamento político em prol de Israel, uma vez que o monumento fica na cidade de Jerusalém Oriental, território historicamente palestino e ocupado por forças israelenses.
Além disso, Bolsonaro anunciou a abertura de um escritório de representação comercial em Jerusalém, após desistir de seguir o exemplo norte-americano e transferir a embaixada do Brasil para a cidade.
Palestina
Após Bolsonaro anunciar a abertura do escritório comercial em Jerusalém, a Autoridade Palestina convocou o embaixador no Brasil, Ibrahim Al Zebem, para consultas. Em entrevista à Carta Capital, Al Zebem afirmou que a medida tomada pelo presidente brasileiro foi “totalmente precipitada, desnecessária e que houve uma enorme pressão de Israel”.
“Diria que a pressão se chama Benjamin Netanyahu. Ele está em campanha e quer mostrar a seu eleitorado que é capaz de trazer, na arena internacional, parcerias que o façam vitorioso especialmente nos temas relacionados a Jerusalém. O Brasil, lamentavelmente, acabou entrando no jogo eleitoral de Israel”, disse o diplomata.
Al Zebem ainda disse que “o interesse de Netanyahu pelo Brasil é justamente pelo seu alinhamento com os Estados Unidos, com o governo de Donald Trump. Claro que o Brasil tem um papel de grande importância no continente, é uma espécie de pilar da América Latina”.
Edição: Opera Mundi